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2 NA EMOÇÃO HÁ SEMPRE ALGO DE RAZÃO E NA RAZÃO MUITO DE

6.1 ARTE, AFETO E SENTIMENTOS

6.1.2 A Arte Humaniza

Se humanizar significa tornar humano, mais sociável, mais compassivo, mais tratável e se o objetivo da educação é a integração - a preparação da criança para seu lugar na sociedade, não apenas em termos vocacionais, mas também espiritual, afetiva e mentalmente-, então o fim da educação é a humanização.

Não é só de informação que a pessoa precisa, mas também de sabedoria, equilíbrio, auto-realização, entusiasmo, qualidades que só podem advir de um treinamento unificado dos sentidos para a tarefa de viver. Em outras palavras, a escola precisa tornar-se um microcosmos do mundo e a escolaridade, uma atividade que se transforma inconscientemente em vida.

Neste sentido, Saltini (2002, p. 51) aponta que:

Pensar a vida não é olhá-la pelo microscópio, nem escrever equações bioquímicas sobre ela. É retratar com o pensamento o movimento no qual se dá a gênese da vida. Nesse movimento ela surge, se ativa e se apodera das condições do seu próprio nascimento, retroagindo sobre essas condições e se tornando autônoma em relação a elas, sem cessar a integração e a auto- organização. A vida é algo que se autoproduz e produzindo vida vai usando como instrumento a necessidade, a curiosidade e o interesse que buscam encontrar com a esperança.

própria vida. Assim, não devemos ―aniquilar‖ a voz da existência na educação. Precisamos fazer incidir o conhecimento justamente sobre essa voz. O conhecimento torna-se parte da pessoa quando se insere no contexto vital, pois a vida se explica por si mesma.

Movido por este intuito, Read (2001, p. 256-257) comenta as palavras do professor primário Caldwell Cook. Embora tenham sido escritas a um quarto de século ainda aguardam concretização em nosso sistema educacional:

O processo é de iniciação, e, embora se possa objetar que a palavra lúdico não seja suficientemente boa para um rito tão solene (e por isso a substituímos pela palavra arte), a descrição que Caldwell Cook faz desse método é a melhor que poderia ser citada. ‗O lúdico, como eu o vejo‘, diz ele – a arte como eu a vejo -, ‗vai muito mais fundo que o estudo‘; ele passa além do raciocínio e, iluminando as câmaras da imaginação, estimula o corpo do pensamento e experimenta todas as coisas em ação. O estudo dos livros, ainda que completo, pode manter-se superficial, no sentido de que não pode manter-se superficial, no sentido de que pode não haver qualquer senso de realidade por trás dele. ‗Nenhuma impressão sem expressão‘ é uma máxima venerável, mas mesmo hoje aprender amiúde significa saber, sem muita atenção para o como sentir e quase nenhuma pelo fazer. Aprender pode permanecer como algo isolado, como uma peça de roupa, sem identificação com o ser. Mas quando digo Lúdico (Arte) refiro-me a fazer qualquer coisa que se conheça com sinceridade. A apreciação final, na vida e no estudo, é colocar-se dentro da coisa estudada e ali viver de maneira ativa.

Buoro (2003, p. 33) assim se posiciona:

Ao expressar-se por meio da Arte, o aluno manifesta seus desejos, expressa seus sentimentos, expõe enfim sua personalidade. Livre de julgamentos, seu subconsciente encontra espaço para se conhecer, relacionar, crescer dentro de um contexto que antecede e norteia sua conduta.

Podemos traduzir as palavras de Buoro por ―a arte humaniza‖! É certo que sim, pois, segundo Tostoi (2002, p. 77), ―[...] a arte é um meio de intercâmbio humano, necessário para a vida e para o movimento em direção ao bem de cada homem e da humanidade, unindo-os em um mesmo sentimento.‖

Ludwig Schütz (1838 - 1901) - filósofo e esteta alemão-, Johann Georg Sulzer (1720 - 1779) - filósofo e físico suíço-, Moses Mendelssohn (1729 – 1793) - escritor religioso e filósofo - e Karl Philipp Moritz (1756 – 1793) - escritor alemão e professor na Academia de Belas-Artes de Berlim - foram unânimes ao reconhecer:

apenas aquilo que contém o bem pode ser reconhecido como belo e que o objeto de toda a humanidade é o bem-estar da vida social. Este é atingido por meio da educação do sentido moral, e a arte deveria ser subserviente a esse objeto. A beleza é o que evoca e educa esse sentido. Mendelsson entende a beleza quase da mesma forma. A arte, segundo ele, é um transporte da beleza, percebida por algum sentido vago no nível do verdadeiro e do bom. E o objetivo da arte é a perfeição moral. (TOSTOI, 2002, p. 41-42).

Se a humanização é um dos objetivos da educação, que tipo de condições a escola deveria proporcionar a seus alunos visando a torná-las pessoas melhores? O que realmente é essencial na vida?

E se o questionamento for inverso? O que falta na formação humana que faz com que alguém se torne um delinqüente? O que contribui para que isso ocorra? De que a pessoa foi privada? Que acabou por atrofiar-lhe as possibilidades de desenvolvimento?

Saltini (2002, p. 112) argumenta que:

A questão não é apenas gerar instrumentos para coibir marginalidade, evitar os assaltos, punir os culpados, varrer para debaixo do tapete aquilo que nos incomoda. A amplitude deste inquietante problema social conduz a outro raciocínio: como revelar a esse homem sua vocação ontológica, que é aquela de ser sujeito e não objeto; fazer com que compreenda que existem realidades internas e externas a ele.

Tornando-se gente, o indivíduo qualifica-se como ser social, pronto a contribuir para o seu país, para a sociedade: um ser livre e criativo que busca, critica, renova, entende, pensa e possui as estruturas necessárias para que possa integrar-se à sua família, ao seu Estado. Enfim, ele é um ser que se relaciona numa trama de desafios, cooperações e principalmente competições.

Impressiona o que Read (2001, p. 222) afirma:

A vida possui um dinamismo interno próprio; ela tende a crescer, a ser expressada, a ser vivida. Parece que, se essa tendência é reprimida, a energia dirigida para a vida sofre um processo de decomposição e se transforma em energias dirigidas para a destruição. Em outras palavras: o impulso à vida e o impulso à destruição não são fatores mutuamente independentes, mas estão numa interdependência inversa. Quanto mais o impulso à vida é frustrado, mais forte se torna o impulso à destruição; quanto mais o impulso à vida é percebido, menor é a capacidade de destruição. A destruição é o resultado de uma vida não- vivida. O apoio à minha tese não poderia ser mais adequado, mais convincente. É só a educação, em seu sentido mais amplo, como crescimento orientado, incentivo à expansão, criação com ternura, que pode garantir que a vida seja vivida em toda sua espontaneidade criativa natural, em toda sua plenitude sensual, emocional e intelectual.

Assim, se a arte de educar é favorecer o crescimento, devemos primeiro descobrir as leis do crescimento, que são leis de progressão harmoniosa, das relações equilibradas, do padrão atingido. A arte de educar é a arte de humanizar, de humanar, de tornar mais sociável!

Saltini (2002, p. 116) considera que:

Pobre não é somente aquele que pede esmolas, mas todo aquele que não percebe o outro, não tendo competência para construir um mundo para ambos. A falta que marca a existência humana jamais será preenchida com os objetos comprados, mas com sujeitos amados.

No processo de socialização, muitos são os problemas decorrentes dos relacionamentos. Para solucioná-los tais problemas surge a necessidade de uma estrutura social e de uma moral. Essa necessidade nasce da consciência de que é em sociedade que se resolvem os conflitos. Um dos métodos viáveis para inculcar a moralidade é o método estético. A arte humaniza! Os povos primitivos utilizavam a música, a dança. Jesus Cristo transmitia seus ensinamentos por parábolas, ou seja, traduzia as generalizações conceituais em imagens concretas de padrão dramático. Também Lao-Tsé, Tolstoi e tantos outros grandes professores de moral transformavam seus ensinamentos em verdadeiras obras de arte, que tinham o objetivo de atingir a percepção e não o raciocínio, o consciente mental.

De acordo com Baumgarten ([19--] apud TOLSTOI, 2002, p. 41):

[...] o objeto do conhecimento lógico é a verdade; o objeto do conhecimento estético (isto é, sensual) é a beleza. A beleza é o perfeito (o absoluto) percebido pelos sentidos. A verdade é o perfeito percebido pela razão. O bem é o perfeito atingido pela vontade moral.

Outra interface da humanização mediante a arte está no fato de que ela pode colaborar para tornar o ser humano mais tolerante à ambigüidade e a exploração de múltiplos sentidos e significações, uma vez que na arte não tem certo, nem errado. Tem o mais ou menos adequado, o mais ou menos significativo, o mais ou menos inventivo.

Pereira (2007, p. 23) enfatiza que:

A criação artística na sala de aula é momento de reorganização do pensamento e de ampliação das possibilidades de ler e tornar-se sujeito no mundo contemporâneo, saindo do lugar comum e deixando-se levar pela poesia. Esse mesmo sujeito, quando cria um percurso poético, deixa seus rastros de pertencimento no espaço da sala de aula. Torna-se parte do grupo e deixa sua marca transformadora.

Em relação à arte e à humanização, os professores-entrevistados apontam que:

Professor 3: ―O professor de artes é um dos responsáveis pelo trabalho de sensibilização, de humanização [...]

Professor 1: ―A interatividade com o outro e com o meio é revelada na expressão livre e também na estimulada, como é a proposta dos conteúdos e estratégias dos planos de aula, além dos objetivos, é claro.