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PARTE I: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3.2 A ATUAL ORGANIZAÇÃO DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

A Lei de Bases da Saúde Portuguesa (1990) reconhece que os Centros de Saúde são um património cultural, técnico e institucional que importa preservar, mas também modernizar e desenvolver, pois continuam a ser o meio mais eficiente e acessível para proteger e promover a saúde da população, apresentando-se como "o «coração» do Serviço Nacional de Saúde e a estrutura de alicerçamento de todo o sistema de saúde" (Ministério da Saúde, 2006, p. 8).

A mais recente reforma dos CSP baseou-se na reconfiguração das unidades funcionais, iniciando-se pelas USF, e pela criação de Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES)..

De acordo com o Decreto-lei 28/2008, os ACES "são serviços públicos de saúde com autonomia administrativa, constituídos por várias unidades funcionais, que agrupam um ou mais centros de saúde, e que têm por missão garantir a prestação de cuidados de saúde primários à população de determinada área geográfica" (p.1182).

Cada unidade funcional assenta numa equipa multiprofissional, com autonomia organizativa e técnica, estando garantida a intercooperação com as demais unidades

funcionais do centro de saúde e do ACES. Destas unidades funcionais constam as USF, as UCSP, as UCC, as Unidades de Saúde Pública (USP) e as Unidades de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP), podendo ainda existir outras unidades ou serviços que venham a ser considerados como necessários pelas Administrações Regionais de Saúde. Todavia, o artigo 7 reforça que em cada ACES funciona somente uma USP e uma URAP, mas que em cada centro de saúde componente de um ACES funciona, pelo menos, uma USF ou UCSP e uma UCC ou serviços desta.

O Quadro 17, explicita a área de atuação de cada unidade funcional, bem como os profissionais que as integram.

As primeiras USF iniciaram as suas funções em 2006 e o processo iniciou-se com apenas 10. Atualmente, de acordo com a OE (2013), em maio de 2013 estavam em funções 356 USF, que cobriam cerca de 4.393.567 portugueses.

As USF são a "imagem de marca desta reforma" (Biscaia, 2006, p.67) e são constituídas por equipas multiprofissionais, compostas por médicos especialistas em medicina geral e familiar, enfermeiros e secretários clínicos, que se associam voluntariamente com vista à prestação de cuidados de saúde mais próxima dos cidadãos. Enquanto unidades integradas nos ACES são disciplinadas por legislação específica, sendo apresentado no Quadro seguinte a legislação mais relevante.

Quadro 16 - Identificação da Legislação mais Relevante das USF

Legislação Objetivo

Despacho Normativo nº

9/2006 de 16 de fevereiro Regulamentar o Lançamento e a Implementação das USF Decreto-lei nº 298/2007

de 22 de agosto

Estabelece o regime jurídico da organização e do funcionamento das USF e o regime de incentivos a atribuir a todos elementos que as constituem, bem como a remuneração a atribuir aos elementos que integrem as USF de modelo B.

Portaria nº 1368/2007 de 18 de Outubro

Consagra os princípios da Carteira Básica de Serviços e a da Carteira Adicional de Serviços das USF

Despacho nº 24 101/2007

de 22 de outubro Diferencia a organização dos modelos de USF existentes: A, B e C Portaria nº 301/2008

de 18 de Abril

Regula os critérios e condições para a atribuição de incentivos institucionais e financeiros às USF e aos profissionais que as integram, com fundamento em melhorias de produtividade, eficiência, efetividade e qualidade dos cuidados prestados.

Quadro 17 - Caraterísticas das Unidades Funcionais dos ACES Unidade

Funcional Características

UCSP

 Estrutura idêntica à prevista para USF e presta cuidados personalizados, garantindo a acessibilidade, a continuidade e a globalidade dos mesmos.

A equipa é composta por médicos, enfermeiros e administrativos não integrados em USF

UCC

 Presta cuidados de saúde e apoio psicológico e social de âmbito domiciliário e comunitário, especialmente às pessoas, famílias e grupos mais vulneráveis, em situação de maior risco ou dependência física e funcional ou doença que requeira acompanhamento próximo, e atua ainda na educação para a saúde, na integração em redes de apoio à família e na implementação de unidades móveis de intervenção.

 O ACES participa, através da UCC, na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, integrando a equipa coordenadora local.

 O Despacho n.º 10143/2009 regulamenta da Organização e do Funcionamento das UCC.

 A equipa coordenada por um enfermeiro especialista em saúde comunitária, e composta por enfermeiros, assistentes sociais, médicos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas da fala e outros profissionais, consoante as necessidades e a disponibilidade de recursos.

USP

 Funciona como observatório de saúde da área geodemográfica do ACES em que se integra, competindo-lhe, designadamente, elaborar informação e planos em domínios da saúde pública, proceder à vigilância epidemiológica, gerir programas de intervenção no âmbito da prevenção, promoção e proteção da saúde da população em geral ou de grupos específicos e colaborar, de acordo com a legislação respetiva, no exercício das funções de autoridade de saúde./

 O DL 81/2009 de 2 de abril estabelece o modelo organizacional e técnico para os serviços de saúde pública.

 A equipa é composta por médicos de saúde pública, enfermeiros de saúde pública ou de saúde comunitária e técnicos de saúde ambiental, integrando ainda, em permanência ou em colaboração temporária, outros profissionais que forem considerados necessários na área da saúde pública.

URAP

 Presta serviços de consultoria e assistenciais às unidades funcionais referidas nos artigos anteriores e organiza ligações funcionais aos serviços hospitalares.

A equipa é composta por médicos de várias especialidades, que não de medicina geral e familiar de saúde pública, bem como assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, técnicos de saúde oral e outros profissionais não afetos totalmente a outras unidades funcionais.

Fonte: Adaptado do DL 28/2008 de 22 de fevereiro. Diário da República nº 38/2008 - 1.ª série. Ministério da Saúde: Lisboa (p. 1184)

As USF apresentam-se como a célula organizacional elementar de prestação de cuidados de saúde individuais e familiares e possui autonomia organizativa, funcional e técnica e integrada em rede com outras unidades funcionais do centro de saúde. Podem ser organizadas em três modelos de desenvolvimento: A, B e C, sendo que a lista de critérios e a metodologia que as permite classificar encontra-se definida no Despacho nº 24 101/2007.

Têm por missão e responsabilidade manter e melhorar o estado de saúde das pessoas por ela abrangidas, através da prestação de cuidados de saúde gerais, de forma

personalizada, com boa acessibilidade e continuidade, abrangendo os contextos sociofamiliares dos utentes. Baseiam-se na medicina geral e familiar, disciplina com cerca de 20 anos de tradição no país, e na enfermagem de família, área prática e disciplina emergente que teve um contributo DL 298/2007, ao realizar as suas atividades, as USF devem-se reger pelos seguintes princípios:

a) Conciliação, que assegura a prestação de cuidados de saúde personalizados, sem descurar os objetivos de eficiência e qualidade;

b) Cooperação, que se exige de todos os elementos da equipa para a concretização dos objetivos da acessibilidade, da globalidade e da continuidade dos cuidados de saúde;

c) Solidariedade, que assume cada elemento da equipa ao garantir o cumprimento das obrigações dos demais elementos de cada grupo profissional;

d) Autonomia, que assenta na auto-organização funcional e técnica, visando o cumprimento do plano de ação;

e) Articulação, que estabelece a necessária ligação entre a atividade desenvolvida pelas USF e as outras unidades funcionais do centro de saúde;

f) Avaliação, que, sendo objetiva e permanente, visa a adoção de medidas corretivas dos desvios suscetíveis de pôr em causa os objetivos do plano de ação; g) Gestão participativa, a adotar por todos os profissionais da equipa como forma de melhorar o seu desempenho e aumentar a sua satisfação profissional, com salvaguarda dos conteúdos funcionais de cada grupo profissional e das competências específicas atribuídas ao conselho técnico.

A organização e funcionamento da USF devem estar explícitos no seu regulamento interno, que entre outros conteúdos, deve consagrar: a missão, valores e visão da USF; a estrutura orgânica e respetivo funcionamento; as intervenções e áreas de atuação dos diferentes grupos profissionais que integram a equipa; o horário de funcionamento e de cobertura assistencial; o sistema de marcação de consultas e de renovação das prescrições; o acolhimento, orientação e comunicação com os utentes; o sistema de intersubstituição dos profissionais da equipa e a carta da qualidade.

As USF devem também apresentar o seu plano de ação, onde apresentam o seu programa de atuação na prestação de cuidados de saúde de forma personalizada e o qual contém o compromisso assistencial, os seus objetivos, indicadores e metas a atingir nas áreas da acessibilidade, desempenho assistencial, qualidade e eficiência.

No atual enquadramento legislativo dos CSP está-se perante um modelo de cuidados direcionado para a proximidade, sendo este efetivado pelas USF. Estas surgem como o contexto ideal para atuar sobre a complexidade da saúde humana que requer

uma abordagem sistémica, integrada e continuada, através de equipas multidisciplinares e intersectoriais que sejam capazes de prestar cuidados centrados na pessoa e família, no seu contexto de vida, numa perspetiva de promoção e proteção da saúde, considerando-os parceiros de cuidados na gestão da doença aguda ou crónica numa lógica de proximidade (Henriques, Garcia & Bacelar, 2011).

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