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CAPÍTULO IV: ANÁLISE DOS DADOS, RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4 Representações sociais da aula de música

4.4.7 A aula de música ideal: análise das justificativas

Com o auxílio do software ALCESTE, foram analisadas as respostas dos alunos à seguinte questão: “Em uma redação de cinco linhas, diga como seria uma aula de música ideal para você”. Após a categorização das respostas, o software forneceu o dendograma abaixo (figura 11).

FIGURA 11: Dendograma das classes estáveis do corpus aula de música Cl. 1 (75uce) |---+

17 |---+ Cl. 3 (93uce) |---+ | 18 + Cl. 2 (32uce) |---+ Fonte: Relatório do software ALCESTE.

Observando o dendograma, é possível notar que em um primeiro momento o corpus foi dividido em duas partes (1ª partição). Uma das partes se estabiliza e forma a classe 2. Em seguida, a outra parte se divide novamente (2ª partição) e se estabiliza ao formar as classes 1 e 3. As classes formadas são mostradas na figura 12 em formato de tabela, na qual são apresentadas as palavras mais significativas que formam cada classe, com suas respectivas

frequências (f) e chi-quadrado (X²). As ligações entre as classes seguem o mesmo padrão fornecido pelo dendograma.

Após a formação das classes, realizou-se uma leitura e análise detalhada das palavras que contribuíram para a sua formação. A partir disso, as classes foram nomeadas de acordo com a característica principal encontrada:

• Classe 1 – 32 UCEs; 16,00% – Diversão; • Classe 2 – 75 UCEs; 37,50% – Gosto musical; • Classe 3 – 93 UCEs; 46,50% – Prática musical.

FIGURA 12: Dendograma com as características de cada classe do corpus aula de música

Fonte: O autor, 2015.

Basicamente, o corpus “aula de musica ideal” dividiu-se em grupos: um ligado ao gosto musical, ou seja, os alunos gostariam que nas aulas estivessem presentes os estilos musicais que gostam de ouvir; e outro ligado à fruição da música, ou seja, a prática musical como atividade de aula e a diversão como finalidade. Numa segunda partição, o grupo da fruição deu origem às classes 1 (diversão) e 3 (prática musical).

A classe 1 (diversão) é formada por palavras relacionadas com a expectativa dos alunos em relação à música na sala de aula: deve ser algo que proporcione diversão, alegria, animação, que seja algo diferente do convencional. Quem mais contribui para a formação dessa classe é o sexo feminino.

O relatório ascendente fornecido pelo ALCESTE apontou que as palavras mais enfáticas da classe 1 são: alegre, divertida e animada, evidenciando o caráter acima descrito para a mesma. As justificativas dadas pelos alunos ajudam a caracterizar a classe 1:

A aula de música ideal para mim seria uma aula em que todos participem, que tenha brincadeiras, que ocupe a maior parte do nosso tempo. (suj_20, esc_1, sex_2).

A aula de música ideal para mim seria uma aula com muita alegria, animação e envolvimento de todos, que sirva para se divertir e unir a turma. (suj_127, esc_2, sex_2).

A aula de música ideal para mim é aquela em que nós nos divertimos e aprendemos ao mesmo tempo. (suj_161, esc_1, sex_2).

A classe 3 (prática musical) apresenta palavras relacionadas à prática musical, enfatizando a ideia dos alunos de que a aula de música ideal é aquela em que eles podem aprender a tocar instrumentos musicais, cantar ou criar música. Nessa classe, nenhum subgrupo teve participação mais efetiva.

Como classe que contém a participação mais efetiva dos alunos (46,5%), a prática musical é, na visão dos alunos, a representação ideal da aula de música. Essa ideia encontra consonância com as concepções de alunos do ensino médio sobre a aula de música na escola, investigadas por Santos (2012). A autora afirma que os alunos “indicam a necessidade de manter uma relação prática com a música, mas que essa seja variada no que se refere aos instrumentos, indicando atividades” (p. 90).

O relatório ascendente fornecido pelo ALCESTE apontou que as palavras mais enfáticas da classe 3 são ensinar, instrumentos, tocar e guitarra, as quais ajudam a reforçar o caráter da prática musical descrito para essa classe. Em suas justificativas, os alunos expressam o desejo da presença da prática musical nas aulas de música:

A aula de música ideal para mim seria uma aula cantando ou tocando um instrumento, por exemplo: tocando bateria, violão, guitarra. (suj_225, esc_1, sex_1).

Eu queria me aprofundar mais para saber se eu estou cantando mal, e queria ter alguém para me ajudar com minha banda, isso seria muito útil para mim, e também poder aprender a tocar guitarra e violão. (suj_191, esc_1, sex_1).

A aula de música ideal para mim seria o ensino de instrumentos, aprender a tocar instrumentos, aulas mais práticas. (suj_51, esc_2, sex_1).

A aula de música ideal para mim seria uma aula na qual eu deveria aprender a tocar instrumentos, cantar, formar bandas, assistir vídeos de música. (suj_61, esc_2, sex_2).

A classe 2 (gosto musical) traz o desejo dos alunos de ter o seu estilo musical preferido nas aulas de música, ou seja, ter uma aula na qual o seu gosto quanto aos estilos musicais deva ser considerado. Os principais subgrupos que contribuem para a formação dessa classe são alunos do sexo masculino e alunos de escolas particulares.

Em suas justificativas, os alunos descrevem como deveria ser a aula de música ideal:

A aula de música ideal para mim seria uma aula com cada um escutando o estilo que gosta. (suj_106, esc_2, sex_1).

Seria com o estilo de música que gosto e com minhas bandas favoritas. (suj_5, esc_1, sex_2).

A aula de música ideal para mim seria uma aula com todos aceitando o estilo musical dos outros. (suj_79, esc_2, sex_2).

A aula de música ideal para mim seria uma aula na qual o professor colocasse as músicas que eu gosto para escutar. (suj_76, esc_2, sex_2).

Em uma análise geral, a partir das classes formadas, é possível perceber que a aula de música ideal, na visão dos alunos investigados, deveria ser uma aula alicerçada em três pilares: diversão, seus estilos preferidos e tocar instrumentos musicais. Assim, fica evidenciado que os adolescentes esperam das aulas de música momentos para se divertirem, se descontraírem e relaxarem da pressão exercida pelo estudo das demais disciplinas.

Além disso, a presença dos estilos musicais que mais gostam de ouvir nas aulas de música seria importante para eles, visto que esse conhecimento já faz parte de sua vivência e do seu cotidiano. Esse aspecto foi reforçado por Souza (2013, p. 61), ao mencionar que “é necessário incorporar nas didáticas atividades que comtemplem as vivências e gostos musicais dos alunos, tanto quanto criar estratégias que possibilitem a descoberta do novo de modo significativo”.

Por último, destacamos a presença do conhecimento musical (ensinar, aprender) nos comentários dos alunos. Contudo, as menções a ensinar ou a aprender música sempre estão relacionadas às práticas musicais, ao tocar um instrumento musical ou cantar, ou mesmo ao criar música. Acreditamos que a investigação das RS da aula de música pode fornecer meios de compreensão para que os profissionais da área de educação musical desenvolvam atividades mais significativas, contextualizadas com a realidade e com as expectativas dos alunos, os quais são sujeitos-chave no processo de ensino e aprendizagem da música.