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A avaliação da educação superior pós-Constituição Federal

Desde o final dos anos 1980, a comunidade universitária brasileira buscava produzir acordos sobre a avaliação como um instrumento de democratização e consolidação da universidade. Diversas instituições desenvolveram experiências de autoavaliação, que contribuíram para criar um espaço de interlocução entre o MEC e as instituições federais, representadas pela Associação das Instituições Federais do Ensino Superior (ANDIFES) (DIAS SOBRINHO, 2003). Dentre essas instituições estão a Universidade de Brasília (UNB) e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Belloni et all (2000, p. 95), ao tratarem acerca do processo de avaliação realizado na

UnB, expõem que a avaliação das instituições de nível superior teria como finalidade a melhoria da qualidade e relevância, tanto científica, quanto política, das atividades desenvolvidas. Segundo os autores, o efeito transformador do processo avaliativo depende da

associação deste ao “[...] processo de tomada de decisões políticas em função dos resultados produzidos pela avaliação [...]”.

Da mesma forma, Dias Sobrinho (2000) ao focar a avaliação institucional da UNICAMP expressa que o objeto desta avaliação seria a universidade toda. Nesse sentido, ao considerar a instituição universitária como uma organização multidimensional e complexa, o primeiro projeto de avaliação institucional da UNICAMP teve como prioridade a relação acadêmica, ou seja, os fins da universidade, cujo objetivo seria segundo Dias Sobrinho (2000, p. 77) “[...] promover sua qualidade por intermédio do processo avaliativo [...]”.

Essas experiências de autoavaliação subsidiaram a construção do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB), originário de uma proposta elaborada pela ANDIFES ao Ministério da Educação. O Programa foi instituído em julho de 1993, quando este último criou a Comissão Nacional de Avaliação e seu Comitê Assessor, e passou a ser implementado em 1994 (SOARES, 2003).

Acerca da relação entre o governo do período e o ensino superior, Gomes (2003) menciona que o PAIUB significou o reconhecimento consensual da necessidade de processos e procedimentos avaliativos, que deveriam ser conduzidos pelas próprias instituições, para a elevação da qualidade de todas as atividades acadêmicas. “Em outras palavras, a hegemonia política do processo de formulação da política de avaliação pertencia às lideranças universitárias, os quais definiram os termos e as condições sob as quais a avaliação deveria ocorrer” (GOMES, 2003, p. 134-135).

Conforme a proposta elaborada pela Comissão Nacional de Avaliação, que culminou no “Documento Básico Avaliação das Universidades Brasileiras”, esse processo deveria ser o contraponto da proposta desenvolvida pela instituição de educação superior, buscando atender as seguintes exigências da universidade contemporânea: a) um processo contínuo de aperfeiçoamento do desempenho acadêmico; b) uma ferramenta para o planejamento e gestão universitária; c) um processo sistemático de prestação de contas à sociedade (BRASIL, 1993).

O “Documento Básico Avaliação das Universidades Brasileiras” advertia, ainda, para os princípios básicos sobre os quais uma sistemática de avaliação institucional da atividade acadêmica deveria ser desenvolvida, considerando a descentralização dos procedimentos para a tomada de decisão. Esses princípios aparecem nos seguintes termos:

- aceitação ou conscientização da necessidade de avaliação por todos os segmentos envolvidos;

- reconhecimento da legitimidade e pertinência dos princípios norteadores e dos critérios a serem adotados;

- envolvimento direto de todos os segmentos da comunidade acadêmica na sua execução e na implementação de medidas para melhoria do desempenho institucional. (BRASIL, 1993)

A esse respeito, Ristoff (2000) realça que os princípios presentes na concepção do PAIUB e que deveriam nortear os projetos de avaliação das universidades brasileiras seriam: globalidade; comparabilidade; respeito à identidade institucional; não premiação e punição; adesão voluntária; legitimidade e continuidade.

Caracterizado por possuir dotação financeira própria, o PAIUB, conforme explicita Palharini (2000, p. 1) indicava a avaliação como um processo de promoção da “[...] melhoria contínua da qualidade, que esteja relacionado ao processo de planejamento da instituição, que seja permanente e enfatize o ensino de graduação, abrangendo as questões de ordem administrativa e de gestão da Universidade”.

Polidori et all (2006), Zainko e Coelho (2007) destacam como outra característica

importante do PAIUB o fato do mesmo contar com a adesão voluntária das IES, com o objetivo de desenvolver um processo de avaliação institucional que valorize as especificidades de cada instituição.

Ristoff (2000) argumenta que nos anos de 1993 e 1994, o Brasil viveu um momento histórico no tocante à avaliação, uma vez que o PAIUB passou a ter número significativo de instituições participantes em um curto espaço de tempo.

Embora o PAIUB apresentasse os princípios e objetivos acima descritos, em pesquisa realizada em onze universidades federais da região sul e sudeste que aderiram ao Programa, Palharini (2000) alerta que os resultados apontam que o PAIUB foi implementado na grande maioria das universidades com uma forte tendência para um padrão de configuração quantitativa e padronizada, o que pode ser percebido nas expressões numéricas dos indicadores previstos, ou os resultados do instrumental aplicado, contidos nos relatórios. Para Palharini (2000, p. 13), “[...] a ausência de diagnósticos explícitos sobre a realidade investigada, além do não estabelecimento de relações entre as dimensões avaliadas revelou-se como outra característica [...]”.

Acrescenta-se a essa observação que, apesar da ênfase no ensino de graduação, a avaliação realizada pelo PAIUB deveria envolver também a pós-graduação e a extensão,

buscando atender aos objetivos de aperfeiçoamento da qualidade acadêmica. “No entanto, na maioria das IES que participou do PAIUB, somente a graduação desenvolveu algum trabalho” (POLIDORI et all, 2006, p. 427).

As lideranças do MEC explicitaram críticas ao PAIUB, sendo a principal dessas a ausência de informações que levassem a um diagnóstico do sistema de educação superior brasileiro, conforme apontado por Gomes (2003). Assim, a partir de 1995, diversos dispositivos legais foram instituídos pelo MEC com o objetivo de estruturar um sistema de avaliação do ensino superior.

A criação de outros instrumentos de avaliação da graduação e a modificação dos instrumentos da pós-graduação configuraram novas características ao PAIUB, que gradativamente perdeu espaço nas políticas educacionais (REAL, 2008). Dessa forma, os sistemas de avaliação ganharam centralidade nas políticas implementadas para a educação superior, expostas a seguir.