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A Avaliação da Sustentabilidade Empresarial

Capítulo 2. REVISÃO DA LITERATURA

2.3 A Avaliação da Sustentabilidade Empresarial

No passado recente foram realizados alguns estudos quanto à aplicação da abordagem TBL na elaboração de relatórios empresariais (Ho e Taylor, 2007; Chapman e Milne, 2004; Raar, 2002).

A aplicação desta abordagem nos relatórios empresariais que implica medir, analisar e reportar conjuntamente as performances de natureza social, económica e ambiental das organizações, são baseados em análises com referência a indicadores e directrizes do GRI para as vertentes económica, social e ambiental.

Por exemplo em Espanha, nos últimos anos, tem-se assistido a um aumento da importância dada pelas empresas no fornecimento de informações relacionadas com aspectos de natureza económica, social e ambiental no quadro da sustentabilidade das suas organizações.

Algumas das informações apresentadas são, no âmbito social, relacionadas com as condições de trabalho, a estratégia de recursos humanos e a sua gestão, o trabalho infantil e os trabalhos forçados, no âmbito ambiental os indicadores relacionados com os consumos de energia e água, a biodiversidade e as emissões poluentes, a produção de lixo e de desperdícios e o tratamento de efluentes (Gallego, 2006).

A elaboração destes relatórios segundo uma abordagem TBL segue, um pouco por todo o mundo, os preceitos definidos pela norma AA 1000, estabelecida pelo

Institute of Social and Ethical Accountability (AccountAbility)38 e que especifica o

processo que uma organização deve seguir para registar e avaliar o seu desempenho, definindo e publicitando os seus princípios éticos e de governo, ligando estes valores e princípios aos desempenhos da organização, à sua avaliação e comunicação (AA 1000, 2008).

Esta norma tem como propósitos melhorar a responsabilidade e o desempenho global das empresas e dos negócios aumentando, numa perspectiva social e ética, a qualidade dos elementos contabilísticos, auditorias e relatos segundo padrões que permitam sustentar e aumentar a qualidade das informações contabilísticas existentes e emergentes e funcionar como sistemas autónomos processuais para gerir e comunicar de uma forma responsável os desempenhos organizacionais de índole social e ética (CRT, 2002).

Contudo, não existe um consenso quanto a um formato e estrutura únicos para reportar o nível de sustentabilidade de uma organização segundo o conceito TBL, essencialmente devido à aparente dificuldade em aferir quantitativamente alguns indicadores de sustentabilidade, em particular aqueles que procuram traduzir a perspectiva de alguns stakeholders.

38 Rede internacional de instituições públicas e privadas da Europa, Ásia, América do Norte e América do Sul que promove inovações e desenvolvimentos na área contabilística por referência aos princípios do desenvolvimento sustentável (AccountAbility, 2009).

O recurso à ferramenta Balanced Scorecard (BSC)39 introduzida por Kaplan e Norton (2001, 1996, 1992) e a sua adaptação aos princípios da sustentabilidade, criando o Sustainable Balanced Scorecard (SBSC), é uma das possibilidades admitidas para construção de uma ferramenta simples e prática que permita medir e avaliar a performance de sustentabilidade de uma organização por parte dos diversos

stakeholders (Hubbard, 2009).

Este sentido de conhecimento e transparência sobre o efectivo desempenho das organizações e dos propósitos e acções por estas tomadas tendo em vista a maximização dos resultados num quadro de responsabilidade ética e social e de sustentabilidade organizacional vem sendo requerido pelos mais diversos agentes, pessoas e outras partes interessadas.

No caso específico do sector da construção civil, as condições legais de acesso e permanência na actividade em Portugal obrigam à verificação obrigatória e cumulativa de um conjunto de requisitos de natureza comercial (idoneidade dos representantes legais das sociedades), técnica (número de técnicos devidamente habilitados no quadro de pessoal) e de capacidade económica e financeira (rácios económico-financeiros).

Considera a entidade licenciadora e reguladora que, numa lógica de sustentabilidade para o exercício da actividade da construção, o incumprimento dos requisitos estabelecidos constitui um indicador potencial da eventual incapacidade para satisfação dos compromissos assumidos perante terceiros e das necessidades

39 Modelo baseado em indicadores que permite uma avaliação, controlo e monitorização do desempenho das organizações e da operacionalização das estratégias (Kaplan e Norton, 1992).

técnicas, económicas e financeiras inerentes ao bom exercício da actividade e à manutenção das respectivas organizações.

Por outro lado, neste contexto de sustentabilidade organizacional surgem alguns outros normativos de adesão voluntária, promovidos por entidades de reconhecida isenção e valia, relacionados com as questões da continuidade dos negócios e da responsabilidade social das organizações.

São os casos da norma BS 25999 (Business Continuity Management) relacionada com a continuidade das actividades de negócios e da norma SA 8000 que visa promover o estabelecimento e certificação de um Sistema de Gestão da Responsabilidade Social.

A norma BS 25999 tem por objectivo o estabelecimento de um Sistema de Gestão de Continuidade que ajude a definir a potencialidade estratégica e táctica das organizações, os processos-chave dos negócios e os impactos que resultariam da concretização de qualquer ameaça ou a sua recuperação em caso de ruptura ou de um incidente sério.

A norma SA 8000 procura assegurar que a organização certificada segundo este normativo garante a componente ética do seu processo produtivo através da sua adequação à legislação em vigor e do cumprimento dos requisitos associados ao trabalho infantil e ao trabalho forçado, à higiene, segurança e saúde no trabalho, à liberdade de associação e o direito à negociação colectiva, à discriminação, a práticas disciplinares, a horários de trabalho e remunerações.

Neste mesmo contexto de procura de um conhecimento alargado, transparente e objectivo sobre os fundamentos do desempenho organizacional sustentável emergem algumas abordagens recentes de análise, de que é exemplo o modelo DPOBE de Sustentabilidade Organizacional40 (Gisbert López et al., 2011; 2010).

Este modelo procura identificar as questões nucleares à sustentabilidade organizacional e os pilares julgados fundamentais para a sua prossecução, focando-se na articulação dos diversos agentes, na gestão e articulação dos recursos humanos e organizacionais e na eficiência do funcionamento dos mercados visando garantir uma continuidade tranquila e consolidada na sociedade e no meio envolvente.