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4. A ADEQUAÇÃO DO REGIME JURÍDICO ÀS CONDIÇÕES REAIS DOS MICRO E

4.2 A AVALIAÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento é tido na atualidade como um complexo conjunto de fatores. O primordial é que o cerne da questão seja sempre o homem, o seu bem-estar, a qualidade de vida, a sobrevivência e que se pense nas futuras gerações. Por isso, o desenvolvimento tem de ser pensado em aspectos múltiplos. Para a análise dessa questão é salutar a tríade ambiental, social e econômica.

Nessa senda, vem a Resolução 482/2012, a qual estabeleceu condições gerais de acesso de micro e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica, disponibilizando ainda, sobre o sistema de compensação, criando uma nova relação entre os consumidores e as distribuidoras de energia.

A Resolução trouxe inovações para a produção de energia, buscando uma mudança em um modelo de sistema energético, em que o Estado detém o monopólio da produção e comercialização. Resta avaliar se essas mudanças são realmente factíveis.

Como incentivo à geração distribuída de energia, a Resolução tem um grande potencial de desenvolvimento nos moldes constitucionais, pois além de tentar promover maior acesso à energia considerada um direito fundamental, a diversificação da matriz energética tende a promover a economia, melhorar a demanda e a garantir a segurança energética do Estado.

O Plano Decenal de Expansão de Energia 2026 estima que nesse ano ocorra um aumento no número de adotantes de sistemas fotovoltaicos para cerca de 770 mil unidades, totalizando 3,3 GWp, no modelo da Resolução 482/2012, esse total seria

equivalente a atende 0,6% do consumo de energia do país207.

207 EPE, Empresa de Pesquisa Energética. Plano Decenal de Expansão 2026 – Eficiência energética e geração distribuída. Disponível em: <http://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados- abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-40/topico-75/Cap9_Texto.pdf> Acesso em: 19 jun. 2018, p. 221.

A difusão da geração distribuída ainda é baixa no Brasil, no entanto, é importante que se proporcione um ambiente sustentável para os negócios envolvendo o mercado de energia. Deve-se levar em consideração o atendimento da demanda ao mesmo tempo, criar condições que estimulem a adesão pelos consumidores, gerando vantagens também para as distribuidoras.

No que se refere à questão ambiental, desponta como mais incentivos às fontes energéticas renováveis, uma vez que a Resolução delimita a produção de energia não poluente. Uma das grandes preocupações na atualidade é que a produção, de modo geral, seja ecologicamente sustentável. No plano da produção de energia elétrica não poderia ser diferente, assim, faz-se importante incentivar o processo de produção e consumo de energia não poluente.

As fontes alternativas de energia agregadas com a forma de produção distribuída vêm sendo uma tendência mundial, a qual o Brasil vem tentando acompanhar, mas a evolução mostra-se em passos modestos.

Nos moldes constitucionais, o desenvolvimento é voltado para a sustentabilidade, no qual, todos possuem o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e é dever de todos, sociedade e Estado, alcançar esse desenvolvimento sustentável.

O artigo 3º da Constituição Federal de 1988 preceitua em seu inciso II, a garantia do desenvolvimento nacional e no inciso III, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais.

Com incentivos adequados à produção de energia no modelo de Resolução citada pode auxiliar a diminuir a pobreza, pois o acesso à energia, para aqueles que não possuem, como já foi amplamente discutido neste trabalho no Capítulo I, traz uma série de consequências positivas, incluindo a universalização do acesso à energia.

No mesmo sentido, programas sociais e aberturas de crédito para acesso à instalação de projetos para produção de micro e/ou minigeração para regiões brasileiras, mais desfavorecidas economicamente, como o Norte e o Nordeste, que possuem altos índices de insolação e ventos abundantes, poderiam ser uma promoção ao desenvolvimento e como possibilidade de reduzir as desigualdades sociais e regionais.

A Constituição Federal de 1988 é conhecida como cidadã, conclama por uma maior participação do povo nos desdobramentos sociais, políticos e econômicos do país. Nessa conjuntura, o desenvolvimento pede a participação mais engajada da sociedade.

O consumidor que adere ao programa faz parte de uma atitude proativa de participação na produção de energia renovável e torna-se mais independente de um serviço que antes prestado predominantemente pelo Estado. Pode-se dizer então que esse contexto faz parte de participação cidadã da sociedade. Contudo, apesar de ter seus custos de instalação muito elevados, é acessível apenas para uma pequena parcela da população.

A Resolução 482/2012 tem como objetivo incentivar a livre iniciativa, que é fundamento da República Federativa Brasileira (Artigo 1º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988), além de ser primado da Ordem Econômica Constitucional (Artigo 170 da Constituição Federal de 1988).

Esse princípio, como já foi aqui discorrido, tem a função de oferecer ao homem o direito de exercer sua atividade laborativa livremente, agindo para si e para a comunidade que participa.

Compreende-se que há um estímulo na Resolução de incentivar o particular para que ele exerça uma nova atividade, para que produza sua própria energia e que essa produção traga benefícios para ele e para a distribuidora que recebe o excedente.

É importante esse fomento para impulsionar a economia, já que a energia é um bem tão necessário e movimenta o capital. Havendo mais estímulos, há possibilidade de gerar mais empregos e renda.

O consumidor/produtor não é remunerado pela distribuidora, mas adere a um sistema no qual a energia ativa gerada por sua unidade consumidora compensa o consumo de energia elétrica fornecida pela distribuidora.

Pelo que foi mostrado, para o consumidor residencial o retorno financeiro com o investimento ainda aparece muito lento, sem tanta vantagem econômica. Entretanto, esse sistema é bastante vantajoso para quem possui mais de uma unidade consumidora sob a mesma distribuidora, pois os créditos podem ser repassados.

O sistema de compensação mostra-se atraente para os consumidores, que possuem, por exemplo, uma produção de energia significativa cuja compensação poderia beneficiar outros estabelecimentos de mesma titularidade.

Outra questão é que o desenvolvimento em seus modelos atuais utiliza-se de tecnologia para sua promoção. Não há na Resolução estímulo ao desenvolvimento de novas tecnologias e no Brasil, esse campo ainda não é muito maduro.

Por tudo isso, avalia-se que a Resolução 482/2012 ainda não tem um alcance muito transformador como deveria. Todavia, vislumbram-se aspectos de

desenvolvimento social, econômico e ambiental. Infere-se que há a necessidade de aperfeiçoar significativamente o instrumento normativo adotado pela ANEEL.