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A Avaliação Pedagógica da Dificuldade de Aprendizagem

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2. CAPÍTULO II – DIAGNOSTICANDO A DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

2.7. A Avaliação Pedagógica da Dificuldade de Aprendizagem

A Avaliação Pedagógica da Dificuldade de Aprendizagem é composta por nove fichas, conforme descrito anteriormente e em anexo a este trabalho, sendo: 1) Ficha de Encaminhamento da Criança; 2) Entrevista; 3,4,5 e 6) Avaliação do Raciocínio Lógico, Atenção e Observação; 7) Avaliação da Acuidade Auditiva; 8) Avaliação da Acuidade Visual; e 9) Avaliação da Oralidade.

Inicialmente apresentaremos a descrição geral dos procedimentos adotados e dos resultados gerais observados e, em seguida, as especificidades no percurso de investigação.

A avaliação do raciocínio lógico, atenção e observação foi dividida em quatro tarefas (fichas de 3 a 6). Nestas, foram observadas e registradas: a disposição, o comportamento, o tempo, os recursos, tentativas e comentários das crianças para organização do material e realização das tarefas propostas.

Na primeira delas, disponibilizamos à criança recortes em quadrinhos de uma história (sem falas) de forma embaralhada e solicitamos a observação e a montagem dos quadrinhos na ordem correta, estabelecendo uma sequência e, em seguida, nos contasse a história.

Semelhante a primeira, a segunda tarefa consistiu na observação de gravuras impressas, porém fixas na folha, em ordem aleatória, de modo que a criança estabelecesse a ordem correta, utilizando números para descobrir a sequência correta dos quadrinhos e também contasse a história.

De modo geral, a execução das duas primeiras tarefas se deu de forma extremamente satisfatória, onde todas as crianças demonstraram ter compreendido as propostas, realizando-as dentro do tempo previsto e criando histórias com sequência lógica dos fatos, ainda que em alguns casos não da maneira esperada. É importante salientar que, ainda que exista uma forma correta, a pretensão com a tarefa é a verificação da capacidade intelectual de raciocínio, atenção e concentração e, nesse sentido, as crianças demonstraram criatividade na montagem das histórias com sentidos próprios.

A terceira tarefa com objetivo de avaliação do raciocínio lógico, atenção e concentração, consistiu na apresentação de uma imagem carregada de traços e figuras (intitulada de “bichos escondidos na floresta”), onde solicitamos às crianças que encontrassem os bichos escondidos, circulando-os e nomeando-os. A maioria das crianças demonstraram-se empenhadas na execução desta tarefa, encontrando bichos inesperados e, algumas vezes, construindo enunciados para a localização dos mesmos. Algumas crianças se demonstraram impacientes, encontrando os animais grandes e rapidamente finalizando a atividade.

O último critério para avaliação do raciocínio lógico, atenção e concentração consistiu em uma imagem composta por 6 jacarés semelhantes, sendo apenas dois inteiramente iguais. Nesse sentido era solicitado que as crianças os encontrassem. Essa tarefa também foi facilmente executada pela grande maioria das crianças e, embora algumas não tenham encontrado os jacarés iguais, foram capazes de apresentar diferenças significativas entre eles.

Na sequência, foi realizada com as crianças a avaliação da acuidade auditiva, composta pela verificação de sequência de sons iguais, de sons diferentes e de sílabas. Na repetição de sons iguais e sons diferentes nenhuma criança apresentou dificuldades significativas na realização da proposta, bem como também na repetição dos conjuntos de sílabas, com exceção na repetição oral e escrita dos conjuntos de sílabas ouvidos, que apresentou grande variação quantitativa de memorização sem, contudo, apresentar-se como dificuldade auditiva significativa.

A avaliação da acuidade visual foi realizada com auxílio de uma imagem específica de um livro literário, onde primeiramente solicitamos às crianças a descrição da imagem observada e na sequência, a imagem era retirada e novamente solicitávamos a

descrição daquilo que foi visto, tendo como objetivo a verificação da capacidade de memória visual. Ainda nesse sentido, a criança era questionada sobre especificidades contidas na imagem ora observada. Por fim, pedimos às crianças que descrevessem as características físicas da pessoa que mais gostavam.

A realização desta avaliação se deu de forma bastante tranquila com todas as crianças que, demonstraram boa memorização sobretudo no questionário específico da imagem observada, além de criatividade na contextualização do fato ocorrido na imagem, mesmo esta não sendo solicitada.

A última avaliação adotada, referente a oralidade, solicitava a criança: descrever uma pessoa; completar frases inusitadas; e narrar uma estória, tendo por base um livro literário específico. De modo geral, não houve dificuldades significativas na realização destas tarefas. Na narrativa da estória observamos a dicção, entonação da voz, ritmo da fala, organização lógica do pensamento, clareza na comunicação, vocabulário, segurança e criatividade. Dada a complexidade da proposta e dos aspectos observados, associadas à singularidade de cada criança, houve uma diversidade de respostas, mas que, respeitadas em seus ritmos próprios, não nos levam a perceber problemas de aprendizagem significativos, bem como observado nas demais avaliações.

Ao final das avaliações descritas, não foi possível constatar, em nenhuma das crianças avaliadas, qualquer indício de problema individual que pudesse ser considerado impedimento para a aprendizagem escolar. É notável uma grande diversidade de níveis e tempos (que serão apresentados no próximo capítulo), individuais a cada criança, com maior ou menor rapidez no desenvolvimento das atividades, oralidade e escritas em níveis de desenvolvimento múltiplos que, porém, em nada apontam a problemas que não possam ser resolvidos em sala de aula.

É importante salientar que, feita esta constatação, não estamos aqui desconsiderando a importância dos fatores e condições sociais em sua relação e influência com o desenvolvimento e a aprendizagem escolar, pelo contrário, valorizamos e reconhecemos a formação histórica e social dos indivíduos. Mas dado o que está posto, nos questionamos: uma vez não existindo problemas significativos que impeçam a aprendizagem dessas crianças rotuladas com “dificuldades de aprendizagem”, o que justificaria a incidência e persistência dessas dificuldades na prática escolar? O que encontra-se oculto nessas relações escolares diante das dificuldades de aprendizagem? Que teoria poderia nos auxiliar no caminho de encontro de soluções efetivas e significativas desta relação? Responder estas e outras questões é nosso propósito para o próximo capítulo.

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