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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A ADMINISTRAÇÃO MILITAR DA COLÔNIA

2.1.2 A Batalha dos Guararapes: a gênese do Exército Brasileiro

Brasil (1972) aponta as Batalhas dos Guararapes como as nascentes do Exército Brasileiro, nos seguintes termos:

Para ser contada a história do nosso exército, é preciso distinguir os fatores que o compuseram, alicerçando, paulatinamente, as vigas mestras, que formam a estrutura vigente. Não seria bastante o ato de

13 O Juramento de Tomar previa que o rei espanhol assumia compromissos com o povo português, como a manutenção da exclusividade de navios portugueses no comércio colonial e a permanência de funcionários portugueses na administração, além de vetar aos espanhóis a possibilidade de intromissão nos negócios portugueses com suas possessões de além-mar.

um governante para criar uma força militar, efetivamente representativa, porquanto, nela, é imperativa a presença dos componentes da própria nacionalidade. Poder-se-ia organizar uma legião estrangeira, ou convocarem-se mercenários a soldo. Nunca, porém, estruturar-se um exército, através de suas vinculações com o povo de onde emana. Por isso, é difícil procurar uma origem do exército, sem que nossa pesquisa se aprofunde nos pródromos da história da nação brasileira, onde o fator fundamental se apoia no homem brasileiro, nascido na terra que ama como filho, e de cuja história é o dínamo propulsor. É, pois, no segundo século de existência do Brasil, nas cruentas batalhas dos Guararapes, quando já podemos sentir o nosso compatriota que, embora vinculado a uma força lusitana, não está a soldo de Portugal, mas representando os anseios da raça nascente: a sua. Daí até a nossa efetiva independência, o exército brasileiro será esse entremeado de brasileiros e portugueses, os últimos, ensinando aos primeiros, a difícil arte das armas, e estes aos lusitanos, dando demonstrações de amor pela terra dadivosa, talhada pela Providência para crisol de raças e dos ideais democráticos. À natureza brasileira se deve o papel catalisador desses homens, moldando-os a sua feição, com os resultados benéficos, sentidos hoje (BRASIL, 1972, p. 323-324).

Segundo Loreto (1946), em 1648, os patriotas sitiaram os holandeses em Recife, quando o comandante das tropas holandesas recebendo reforços resolve romper o cerco. Por sua vez, o general Barreto de Menezes, comandante luso-brasileiro, recolhe todos os destacamentos que operavam dispersos e se prepara para o enfrentamento. Mudara o curso da guerra, deixando de ser ações isoladas de guerrilha, sem unidade de comando e um plano de direção, e a operação passa a ter um comando único e um plano previamente concebido em campo de batalha. Os holandeses anteciparam-se aos lusos e traçaram um plano de operações, o qual se resumiu em romper o sítio e marchar para o sul com o objetivo de conquistar o sul do estado, Alagoas e Bahia. O comandante brasileiro, pressentindo o plano de manobra inimigo, preparou uma armadilha, optando pela defesa estratégica.

FIGURA 6 - A Batalha dos Guararapes. Fonte: Wikipedia (2020).

Segundo Bento (2004), os holandeses tinham um efetivo de 6.300 homens, de acordo com o relatório de Barreto de Menezes, comandados pelo general Van Schkoppe, distribuídos por 9 regimentos, ao qual somam-se 300 índios tapuias combatentes, artilharia, marinheiros e muitos índios encarregados do transporte da logística, enquanto os luso-brasileiros, comandados pelo General Barreto de Menezes, contavam com um efetivo muito menor, de aproximadamente 2.500 combatentes, divididos em quatro terços, comandados pelos mestres de campo Fernandes Vieira e Vital de Negreiros, e os Capitães Felipe Camarão e Henrique Dias.

2.1.2.1 Tática do Combate

De acordo com Loreto (1946), tendo a certeza da vitória pela enorme superioridade numérica, o famoso chefe holandês deixou de tomar medidas elementares relativas ao inimigo e à sua própria segurança: não fez reconhecimentos para se inteirar da situação e das intenções de manobras do adversário, descuidou-se da frente e do seu flanco direito. Tal procedimento torna-o em última análise o responsável pela derrota de seu exército tão numericamente superior. Entretanto, quanto ao que se refere sobre os patriotas, Muxfeldt e Giorgis (2019) afirmam que:

Do lado luso-brasileiro, prevaleceu uma estratégia bem definida. 1º) a decisão de que era preciso travar batalha. Em face disto, a marcha para os Guararapes assim que chegou ao Arraial a notícia do movimento inimigo para aquela região. 2º) a percepção de que a vitória dependeria de um judicioso aproveitamento do terreno da batalha e da escolha do momento oportuno para o combate. Em face disto, a ocupação de posições ao sul e não ao norte dos montes, e somente atacar quando o inimigo estivesse mudando de atitude e formação. 3º) a manutenção das informações sobre os movimentos do adversário, o que possibilitou iniciar o ataque logo que as forças flamengas começaram a abandonar os montes. 4º) negar ao inimigo qualquer possibilidade deste se informar sobre o tipo de tropa, composição e efetivo patriota, bem como seus movimentos (MUXFELDT; GIORGIS, 2019, p. 124).

2.1.2.2 Princípios de Guerra

Barreto de Menezes, concentra a tropa para o combate decisivo no local adequado, lança reconhecimentos e patrulhas, e com base nas informações obtidas, conclui que o inimigo se deslocará na direção do desfiladeiro e, na impossibilidade disto, tentará atingir o boqueirão. Decide então traçar assim seu plano: ficar na defensiva, à espera do inimigo, para emboscá-lo no momento adequado. Sobre o movimento patriota, Muxfeldt e Giorgis (2019) dizem que:

Concentração de meios no local decisivo; Manobra, colocando o exército em posição vantajosa frente ao dispositivo inimigo; Surpresa; Segurança, negando ao inimigo informações vitais para seu planejamento de como e onde se travaria a batalha; Planejamento centralizado; e Execução descentralizada, dando liberdade aos comandantes de terço para decidir a melhor maneira de cumprir as missões recebidas de Barreto de Menezes (MUXFELDT; GIORGIS, 2019, p. 124).