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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

4.1.2 A biblioteca nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia

Os IFs possibilitam o acesso à educação profissional e tecnológica por meio da oferta de cursos em diversos níveis de ensino, a saber: Profissionalizante, Educação de Jovens e Adultos, Médio, Técnico, Superior e Pós-Graduação. E nas mais diversas modalidades que se enquadram nos níveis citados anteriormente, a saber: Médio Integrado ao Técnico, Técnico Subsequente, Superior (Tecnológico, Bacharelado e Licenciatura), Pós-Graduação (Lato e Stricto Sensu), além de cursos profissionalizantes de Formação Inicial e Continuada (FIC), o Programa de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA), entre outras práticas de educação profissional e tecnológica em programas e projetos governamentais, tal como o Programa de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (PRONATEC) e o Programa Mulheres Mil. Este universo diferenciado e abrangente de níveis de ensino promove um desafio complexo às bibliotecas, que nos últimos anos têm repensado sua própria identidade e suas ações e práticas no contexto dessa nova configuração das instituições federais de ensino profissional e tecnológico.

Partindo deste pressuposto, e de consulta realizada pelos bibliotecários da Rede Federal EPCT via lista de discussão por e-mail, sabe-se que as bibliotecas dos IFs no Brasil ainda não possuem uma identidade consensualmente definida de acordo com suas funções e finalidade, por não encontrar na literatura menção a um tipo de biblioteca que abranja toda complexidade deste recém-criado perfil de unidade de informação. Embora elas atendam aos usuários do Nível Médio e do Nível Superior em sua maioria, ainda há os que refutam a ideia de classificá-las como biblioteca escolar-universitária ou híbrida ou mista, por representar

uma possível fragilidade identitária ou por restringir o seu espaço de atuação. Essa dificuldade de classificação apresentada por alguns é compreensível, pois no contexto dos IFs, as bibliotecas prestam serviços de informação aos mais variados grupos de usuários, quais sejam, usuários vinculados aos diversos níveis e modalidades de ensino já citados.

Nesse sentido, ainda não existe um consenso entre os bibliotecários sobre qual seria a denominação mais adequada para traduzir um espaço de informação que atende a múltiplos grupos de usuários com perfis diferenciados. Na literatura científica, nos encontros profissionais, e no âmbito das listas de discussão por e-mail, alguns defendem as terminologias “biblioteca híbrida” ou “biblioteca mista” como solução para o não enquadramento desta biblioteca nas tipologias existentes e consolidadas pela literatura e pela prática profissional. Além disto, mais recentemente, há a proposta inédita de adoção da terminologia biblioteca multinível para as bibliotecas dos IFs, idealizada pioneiramente por Moutinho (2014), bibliotecária de um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, em que a biblioteca é percebida como uma organização que atende aos usuários de diversos níveis de ensino e modalidades educativas. Nesta perspectiva, temos o entendimento de que a biblioteca multinível atenderia, portanto, às necessidades de um público de diferentes níveis de processos formativos (profissionalizante, médio, técnico, superior e pós-graduação) e, consequentemente, diferentes níveis de necessidades e competências informacionais. No entanto, apesar da falta de consenso quanto à identidade dessas bibliotecas segundo funções e finalidade, não se pode negar que as bibliotecas de IFs atendem aos diversos grupos de usuários mencionados e a terminologia proposta apresenta-se como coerente e única alternativa até então inovadora e abrangente proposta na literatura científica. A própria sociedade contemporânea, por exemplo, se caracteriza por não ter fronteiras definidas, principalmente no que se refere às áreas do conhecimento e ao trabalho com informação. Muito embora os usuários da sociedade em rede são múltiplos em seus desejos e necessidades de informação, as bibliotecas, como espaços de informação, devem estar preparadas para atuar nesse novo contexto múltiplo informacional.

Embora se apresentem diversas opiniões na lista de discussão por e-mail dos Bibliotecários da Rede Federal EPCT, considerou-se necessário levar essa discussão seja levada para as próximas reuniões da Comissão Brasileira de Bibliotecas das Instituições (CBBI) da Rede Federal EPCT, e para o evento dos bibliotecário da Rede Federal EPCT que ocorre a cada dois anos, denominado Seminário Brasileiro de Bibliotecas das Instituições (SBBI) desta mesma Rede. Como resultado da pesquisa-ação empreendida neste estudo, conseguiu-se, juntamente com uma comissão composta pelos bibliotecários dos campi do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, por meio de reuniões em grupo, que fosse levada a candidatura da Paraíba como sede do próximo evento SBBI. A candidatura foi realizada no primeiro semestre de 2015, na cidade de Manaus/AM, e a próxima sede do evento será a cidade de João Pessoa, no Estado da Paraíba, no ano 2017, escolhida por unanimidade. Na ocasião foi apresentando como tema do evento o seguinte: “A identidade das bibliotecas da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica”. O tema havia sido escolhido em reunião dos bibliotecários do IFPB, em virtude do conhecimento da execução desta pesquisa e da necessidade de se colocar esse tema em discussão conforme já demonstravam os resultados prévios desta pesquisa a partir do que foi exposto por outros bibliotecários na lista de discussão por e-mail.

Para fins desta pesquisa, define-se, portanto, que biblioteca multinível é toda aquela unidade de informação que quanto à finalidade atende aos usuários de diversos níveis de ensino. Considerando este conceito como mais completo e abrangente da complexidade que diferencia a biblioteca da Rede Federal EPCT das demais, adota-se nesta pesquisa a terminologia biblioteca multinível. E defende-se que esta terminologia deve ser reconhecida como um novo tipo de biblioteca. No Quadro 3 – Nova tipologia de bibliotecas quanto à finalidade, proposto com base em Silva e Araújo (2014, p. 43), apresenta-se um rol de tipos de bibliotecas, com a descrição de suas respectivas finalidades, e incluindo, neste grupo, a biblioteca multinível.

QUADRO 3 – Nova tipologia de bibliotecas quanto à finalidade TIPO DE

BIBLIOTECA FINALIDADE

Nacional Preservar a memória nacional, quanto à produção bibliográfica e documental de uma nação.

Pública

Atender às necessidades de estudo, consulta e recreação de determinada comunidade, independente de classe social, cor, religião ou profissão. Segundo a entidade mantenedora, estas podem ser federais, estaduais ou municipais.

Universitária

Atender às necessidades de estudo, consulta e pesquisa de professores e alunos universitários em nível superior de graduação e pós-graduação. Segundo a organização das coleções, podem ser centralizadas ou descentralizadas.

Escolar

Fornecer material informacional necessário às atividades de professores e alunos de uma escola. Deve estar intimamente relacionada com a escola, para funcionar como verdadeiro complemento das atividades realizadas em sala de aula, dando suporte informacional necessário aos processos de ensino-aprendizagem. Desempenha importante papel na formação de leitores e no fomento à prática da leitura.

Especializada

Atende a um grupo restrito de usuários, reunindo e divulgando documentos de um campo específico do conhecimento. Podem ser subordinadas a uma entidade científica e de pesquisa, a uma empresa industrial ou comercial, ou mesmo a um serviço público especializado. Infantil

Destinadas à recreação para crianças, incluindo estímulo à leitura, com acervo bem selecionado para tal propósito. Pode proporcionar atividades como clube da leitura, escolinhas de arte, exposições, dramatizações, hora do conto, contação de histórias, entre outras.

Especial

Atender a uma categoria especial de usuários, tais como: pessoas com dificuldades de visão e deficientes visuais. Deve fornecer, neste caso, acervo sonoro ou em suporte papel com Braille, ou com escrita em tipos maiores.

Multinível

Atender às necessidades de estudo, consulta e pesquisa de professores, servidores técnico-administrativos e alunos em nível profissionalizante, médio, técnico, superior de graduação e pós-graduação (lato e stricto sensu). Segundo a organização das coleções, assemelham-se às universitárias, podendo ser centralizadas ou descentralizadas. São, por exemplo, as bibliotecas das instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica no Brasil.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, baseado na classificação apresentada por Silva e Araújo (2014, p. 43)

Partindo desta premissa, considerou-se neste estudo que a biblioteca nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia devem ser do tipo biblioteca multinível, por compreender que a biblioteca atende aos usuários de todos os diversos níveis de ensino supracitados e por defender que a definição da identidade de uma biblioteca dessa complexidade é relevante para inseri-la no campo científico com propriedade, e para nortear as discussões entre os bibliotecários que dela fazem parte quanto às práticas e à política adotadas para seus próprios serviços de informação.