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3. BIOGEOGRAFIA, EDUCAÇÃO BÁSICA E LIVROS DIDÁTICOS

3.2 A BIOGEOGRAFIA COMO INSTRUMENTO NA EDUCAÇÃO PARA

Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), são três grandes grupos de estratégia de conservação, a clássica - com o estabelecimento de áreas com restrição de acesso e uso, a de uso sustentável e a repartição de benéficos oriundos do uso da biodiversidade. Como estratégias complementares destacam-se incentivos fiscais e econômicos, educação e conscientização pública, transferência de tecnologia e produção e ampliação de conhecimentos.

A conservação clássica pode ser in situ ou ex situ. A conservação in situ é aquela que ocorre nos próprios lugares onde vivem as espécies principalmente por meio de áreas de proteção para conservação da diversidade biológica.

De acordo com o artigo 8º da CDB (1994), a conservação in situ tem como diretrizes estabelecer para conservação da biodiversidade um sistema de áreas protegidas ou áreas onde medidas especiais precisem ser tomadas para conservar a diversidade biológica; desenvolver diretrizes para a seleção, estabelecimento e administração de áreas; regulamentar ou administrar recursos biológicos importantes dentro ou fora de áreas protegidas, a fim de assegurar sua conservação e utilização sustentável; promover a proteção de ecossistemas, habitats naturais e manutenção de populações viáveis de espécies em seu meio natural; promover o desenvolvimento sustentável e ambientalmente sadio em áreas adjacentes às áreas protegidas.

Também, recuperar, restaurar e gerir ecossistemas degradados e promover a recuperação de espécies ameaçadas; estabelecer ou manter meios para regulamentar, administrar ou controlar os riscos associados à utilização e liberação de organismos vivos modificados resultantes da biotecnologia que provavelmente provoquem impacto ambiental negativo ou riscos para a saúde humana; impedir que se introduzam, controlar ou erradicar espécies exóticas que ameacem os ecossistemas, habitats ou espécies; compatibilizar as utilizações atuais com a conservação da diversidade biológica e a utilização sustentável de seus componentes.

A conservação ex situ, segundo o artigo 9º da CDB (1994), visa complementar as medidas de conservação in situ, a partir da adoção de medidas para estabelecer e manter instalações para a conservação ex-situ e pesquisa de vegetais, animais e microrganismos, de preferência no país de origem dos recursos genéticos; adotar medidas para a recuperação e regeneração de espécies ameaçadas e para sua reintrodução em seu habitat natural em condições adequadas; regulamentar e administrar a coleta de recursos biológicos de habitats naturais com a finalidade de conservação ex-situ de maneira a não ameaçar ecossistemas e populações in-situ de espécies e cooperar com a aporte de apoio financeiro e de outra natureza para a conservação ex-situ.

O segundo grupo, o uso sustentável da biodiversidade, diz respeito a alternativas relativas ao compartilhamento e negociação sobre o uso da terra e dos recursos naturais, como por exemplo, o zoneamento econômico-ecológico, onde os diversos setores devem entrar em acordo sobre como serão utilizados os recursos naturais nas distintas porções do território. Entre

as ações desse grupo estão as iniciativas dirigidas à conservação de serviços ambientais, como a polinização, a fertilidade dos solos, a qualidade da água e o controle de doenças e pragas.

O artigo 10 da CDB (1994), traz as seguintes diretrizes sobre este grupo: incorporar o exame da conservação e utilização sustentável de recursos biológicos no processo decisório nacional; proteger e encorajar a utilização costumeira de recursos biológicos de acordo com práticas culturais tradicionais compatíveis com as exigências de conservação ou utilização sustentável; apoiar populações locais na elaboração e aplicação de medidas corretivas em áreas degradadas onde a diversidade biológica tenha sido reduzida; e estimular a cooperação entre suas autoridades governamentais e seu setor privado na elaboração de métodos de utilização sustentável de recursos biológicos.

O terceiro grupo, a repartição dos benefícios oriundos do uso da biodiversidade, é o de mais difícil aplicação, tanto dos componentes da biodiversidade para fins terapêuticos diretos, quanto o desenvolvimento da biotecnologia. O exemplo mais clássico é o da repartição de benefícios provenientes de remédios. A maior parte das novas tecnologias é desenvolvida por grandes empresas, muitas estrangeiras, com interesses econômicos primordialmente. Pesquisas biotecnológicas realizadas por universidades e institutos são feitas, muitas vezes, em parceria com empresas visando à comercialização dos produtos, o que resulta na produção de medicamentos ou tratamentos caros e inacessíveis a uma grande parcela da população, principalmente de países em desenvolvimento.

No artigo 15, 16 e 18 da CDB (1994), consta:

- Que os participantes devem procurar criar condições para permitir o acesso a recursos genéticos para utilização ambientalmente saudável por outras partes contratantes e não impor restrições contrárias aos objetivos da Convenção; deve-se adotar medidas legislativas, administrativas ou políticas, conforme o caso e, quando necessário, mediante o mecanismo financeiro estabelecidos, para compartilhar de forma justa e equitativa os resultados da pesquisa e do desenvolvimento de recursos genéticos e os benefícios derivados de sua utilização comercial e de outra natureza com a Parte Contratante provedora desses recursos.

- O acesso à tecnologia e sua transferência a países em desenvolvimento, devem ser permitidos e/ou facilitados em condições justas e as mais favoráveis inclusive em condições concessionais e preferenciais quando de comum acordo, e, caso necessário, em conformidade com o mecanismo financeiro estabelecido. No caso de Tecnologia sujeita a patentes e outros direitos de propriedade intelectual, o acesso à tecnologia e sua transferência devem ser permitidos em condições que reconheçam e sejam compatíveis com a adequada e efetiva proteção dos direitos de propriedade intelectual.

- As Partes Contratantes devem elaborar e estimular modalidades de cooperação para o desenvolvimento e utilização de tecnologias, inclusive tecnologias indígenas e tradicionais, devendo também promover a cooperação para a capacitação de pessoal e o intercâmbio de técnicos.

Entre as estratégias complementares, os incentivos fiscais consistem na compensação por serviços ambientais por meio na transferência de recursos (monetários ou materiais) a quem ajuda a manter ou a produzir os serviços ambientais. Estudo de Constanza et al (1997), estimou o valor de 17 serviços de ecossistemas por bioma, atingindo a cifra de 33 trilhões de dólares, tais como regulação da composição química da atmosfera e do clima; controle de erosão do solo e retenção de sedimentos; produção agrícola e extração de matéria prima; absorção e reciclagem de materiais já utilizados; regulação do fluxo de água; suprimento e armazenagem de água; recuperação de distúrbios naturais; ciclagem de nutrientes; polinização; controle biológico de populações; refúgio de populações migratórias e estáveis; utilização de recursos genéticos, entre outros.

Foram estimados os seguintes valores: serviços como regulação de gás (U$ 1,3 trilhões), regulação dos distúrbios naturais provocados pelo vento, água ou seca (U$ 1,8 trilhões), tratamento do desperdício (U$ 2,3 trilhões), ciclagem de nutrientes (U$ 17 trilhões). Cerca de 63% do valor estimado corresponde aos sistemas marinhos (U$ 20.9), a maior parte vem de sistemas costeiros (U$ 10,6 trilhões), cerca de 38% do valor estimado trata de sistemas terrestres, principalmente florestas (U$ 4,7 trilhões) e pantanais (U$ 4,9 trilhões), (CONSTANZA et al, 1997).

O conhecimento dos conteúdos biogeográficos é uma das ferramentas por meio do qual é possível promover ações para conservação da biodiversidade utilizando como instrumento a Biogeografia, foco deste estudo.

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