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A Biotecnologia e a Aprendizagem Significativa Crítica

No documento PR Cleuni Fretta (páginas 37-42)

Em tempos modernos, onde há uma forte influência dos meios de comunicação e da mídia no desenvolvimento de nossos alunos, se faz necessária a busca por métodos inovadores de ensino, que despertem a atenção de nossos alunos; tal constatação é reforçada por MOREIRA (2000, p. 2):

Nestes tempos de mudanças rápidas e drásticas, a aprendizagem deve ser não só significativa, mas também subversiva. Meu raciocínio é o de que a aprendizagem significativa subversiva é uma estratégia necessária para sobreviver na sociedade contemporânea. Contudo, o termo aprendizagem significativa crítica poder ser um rótulo mais adequado pra o tipo de subversão ao qual estou me referindo.

A Biotecnologia constitui uma das áreas da Biologia que mais vem apresentando avanços, exercendo grande influência social, devendo por isso ser ensinada de modo crítico e reflexivo, de modo a proporcionar uma apropriação significativa de seus conceitos.

Dentro dessa perspectiva, apontamos para a Teoria da Aprendizagem Significativa Crítica, elaborada por Moreira (2000), defensor, usuário e divulgador da Teoria da Aprendizagem Significativa (TAS) de David Ausubel (1982), com suporte nos ensinamentos de Paulo Freire, que afirma que “ensinar exige criticidade” (FREIRE, 1996, p. 31).

De acordo com Mafra (2011):

A aprendizagem significativa envolve, a partir de conhecimentos prévios, assimilação de conceitos e proposições novos, a formação de uma rede cognitiva que se mantém em constante intercâmbio e diferenciação de modo tal que as estruturas cognitivas preexistentes

acrescentando novos significados, ampliando a rede e gerando novas interações. (MAFRA, 2011, p.15)

Nesse sentido, a TAS parte do pressuposto de que o aprendizado se dá pela interação cognitiva entre o novo conhecimento e o conhecimento já adquirido pelo aluno, onde o aprendiz não é um receptor passivo. De acordo com Moreira (2000), a teoria de Ausubel focaliza primordialmente a aprendizagem cognitiva, sendo este um representante do cognitivismo e existindo algumas condições para que essa aprendizagem ocorra: a predisposição para aprender, a existência de conhecimentos prévios adequados e materiais potencialmente significativos.

Sabe-se que para aprender significativamente, o aluno tem que querer aprender, o que para Moreira (2000) é natural, pois ninguém vai aprender qualquer conhecimento se não estiver disposto a aprendê-lo.

Quanto ao uso de materiais potencialmente significativos Ausubel (1982, apud WEINGARTNER, 2014, p. 22) menciona:

Um material potencialmente significativo para” o aprendiz pressupõe (1) que o próprio material de aprendizagem possa estar relacionado de forma não arbitrária (plausível, sensível e não aleatório) e não literal com qualquer estrutura cognitiva apropriada e relevante e (2) que a estrutura cognitiva particular do aprendiz contenha ideias ancoradas relevantes, com as quais se possa relacionar o novo material. A intenção entre novos significados potenciais e ideias relevantes na estrutura cognitiva do aprendiz dá origem a significados verdadeiros ou psicológicos.

Em relação aos conhecimentos prévios, também chamados de subsunçores. Moreira (2013, p. 6) ressalta que “o conhecimento prévio pode servir de ancoradouro para novos conhecimentos, podendo haver uma interação entre os conhecimentos novos e os conhecimentos prévios”. Esse processo pode ser assim descrito:

- Um novo conhecimento interage com algum conhecimento prévio, especificamente relevante, e o resultado disso é que esse novo conhecimento adquire significado para o aprendiz e o conhecimento prévio adquire novos significados, fica mais elaborado, mais claro, mais diferenciado, mais capaz de funcionar como subsunçor para outros novos conhecimentos.

- Durante certo período de tempo, a fase de retenção, o novo conhecimento pode ser reproduzido e utilizado com todas suas características, independente do subsunçor que lhe deu significado em um processo de interação cognitiva.

-No entanto, simultaneamente, tem início um processo de obliteração cujo resultado é um esquecimento (residual) daquele que era um novo conhecimento e que foi aprendido significativamente. Isso quer dizer que aprendizagem significativa não é sinônimo de “nunca esquecer” ou “daquilo que não esquecemos”.

- A assimilação obliteradora é a continuidade natural da aprendizagem significativa. Mas essa obliteração não leva a um esquecimento total. Ao contrário, o novo conhecimento acaba “ficando dentro do subsunçor” e a reaprendizagem é possível e relativamente fácil e rápida (MOREIRA, 2013, p. 6).

Outro aspecto importante da TAS são os princípios facilitadores dessa aprendizagem: a diferenciação progressiva, a reconciliação integradora, a organização sequencial e a consolidação, e algumas estratégias facilitadoras como os mapas conceituais e os diagramas em V.( AUSUBEL, 1982, MOREIRA, 2000).

De acordo com Ausubel (2003), a TAS apresenta tipos e formas, revelando sua complexidade e dinamicidade. Para uma compreensão mais sucinta dessas características, elaboramos um esquema abaixo representado na figura 3:

Figura 3. Esquema abordando os tipos e formas de Aprendizagem Significativa de acordo com Ausubel (1982). Fonte: a autora (2015).

Moreira (2013) ressalta que um tipo de aprendizagem pode evoluir para outro tipo, revelando que sua estrutura cognitiva é dinâmica, buscando sempre a organização do conhecimento e envolvendo alguns princípios facilitadores: a diferenciação progressiva, a reconciliação integradora, a organização sequencial e a consolidação.

A Teoria da Aprendizagem Significativa Crítica, elaborada por Moreira (2000), defende a criticidade no ensino, e isso implica a captação de significados com questionamentos.

É através da aprendizagem significativa crítica que o aluno poderá fazer parte de sua cultura e , ao mesmo tempo, não ser subjugado por ela, por seus ritos, mitos e ideologias. É através dessa aprendizagem que ele poderá lidar construtivamente com a mudança sem deixar-se dominar por ela, manejar a informação sem sentir-se impotente frente a sua grande disponibilidade e velocidade de fluxo, usufruir e desenvolver a tecnologia sem tornar-se tecnófilo. Por meio dela, poderá trabalhar com a incerteza, a relatividade, a não-causalidade, a probabilidade, a não-dicotomização das diferenças, com a ideia de que o conhecimento é construção ( ou invenção) nossa, que apenas representamos o mundo e nunca o captamos diretamente (MOREIRA, 2000, p. 7).

Semelhante a TAS de Ausubel, na Teoria da Aprendizagem Significativa crítica também são propostos alguns princípios facilitadores da aprendizagem:

1. Aprender que aprendemos a partir do que já sabemos. (Princípio do conhecimento prévio.)

2. Aprender/ensinar perguntas ao invés de respostas. (Princípio da interação social e do questionamento.)

3. Aprender a partir de distintos materiais educativos. (Princípio da não centralidade do livro de texto.)

4. Aprender que somos perceptores e representadores do mundo. (Princípio do aprendiz como perceptor/representador.)

5. Aprender que a linguagem está totalmente implicada em qualquer e em todas as tentativas humanas de perceber a realidade. (Princípio do conhecimento como linguagem.)

6. Aprender que o significado está nas pessoas, não nas palavras. (Princípio da consciência semântica.)

7. Aprender que o ser humano aprende corrigindo seus erros. (Princípio da aprendizagem pelo erro.)

8. Aprender a desaprender, a não usar conceitos e estratégias irrelevantes para a sobrevivência. (Princípio da desaprendizagem.)

9. Aprender que as perguntas são instrumentos de percepção e que definições e metáforas são instrumentos para pensar. (Princípio da incerteza do conhecimento.)

10. Aprender a partir de distintas estratégias de ensino. (Princípio da não utilização do quadro-de-giz.)

11. Aprender que simplesmente repetir a narrativa de outra pessoa não estimula a compreensão (Princípio do abandono da narrativa)” ( MOREIRA, 2000, p. 20).

Cabe ressaltar que para que ocorra a aprendizagem significativa, é necessário que o aluno apresente disposição para aprender, sendo papel da escola e do professor orientar essa aprendizagem, por meio de planejamento e métodos adequados. De acordo com Moreira (2010, apud WEINGARTNER, 2014), o papel do professor envolve 4 tarefas fundamentais:

(1) Identificar os conceitos e princípios unificadores e inclusos, organizando-os hierarquicamente. (2) Identificar quais subsunçores são relevantes para a aprendizagem de determinado conteúdo. (3) Diagnosticar os subsunçores que o estudante possui. (4) Ensinar utilizando recursos e princípios que facilitem a aquisição da estrutura conceitual da matéria de ensino de uma maneira significativa (MOREIRA, 2010 apud WEINGARTNER, 2014, p. 23).

Para que a aprendizagem significativa se efetue é necessário, no entanto, que o aluno apresente disposição para aprender e o que o professor disponha de um material potencialmente significativo, em especial para a o ensino da temática Biotecnologia, uma vez que trata de temas de difícil entendimento por parte do aluno, que acaba memorizando e reproduzindo conceitos de forma mecânica em oposição ao que preconiza a aprendizagem significativa crítica.

No documento PR Cleuni Fretta (páginas 37-42)

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