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CAPÍTULO 6 MODULADOR ELETRO-ÓPTICO E VALIDAÇÃO

6.1 A Célula Pockels

A propagação da radiação óptica através de determinados materiais, cuja estrutura cristalina não exibe centro de simetria, e na presença de um campo elétrico externo dá origem a um fenômeno físico conhecido como o efeito eletro-óptico. O efeito eletro-óptico refere-se à mudança nas propriedades de polarização óptica em um dielétrico, através do qual a luz se propaga, induzidas por um campo elétrico externo cuja frequência encontra-se muito abaixo da primeira ressonância cristalina do meio (YARIV; YEH, 1984). Uma onda óptica, ao se propagar através desse material, sofre uma modulação de fase, a qual pode ser posteriormente demodulada utilizando-se métodos adequados. Em 1893, Röntgen e Kundt observaram o efeito eletro-óptico linear no quartzo. Porém, coube a Pockels estudar fisicamente este efeito e

provar a existência de um efeito eletro-óptico intrínseco, independente da piezoeletricidade induzida por deformações mecânicas (KAMINOW, 1974).

Um cristal é constituído por um arranjo (array) tridimensional periódico de átomos no espaço, e a aplicação de um campo elétrico externo resulta numa redistribuição das cargas de ligação ocorrendo uma pequena deformação na rede iônica, o que causa a variação da permissividade dielétrica deste material (KAMINOW, 1974, YARIV; YEH, 1984), e daí no seu índice de refração.

Denomina-se célula Pockels um dispositivo constituído pelo cristal eletro-óptico, juntamente com os eletrodos para aplicar o campo elétrico externo. O niobato de lítio (LiNbO3) é um dos principais cristais empregados para confecção de células Pockels, devido

a uma excelente combinação de propriedades ópticas como, por exemplo, ótima transparência na faixa de espectro da luz de interesse em comunicações ópticas e sensores, coeficientes eletro-ópticos elevados, custo reduzido, não-higroscópico, etc.

Há diferentes tipos de eletrodos que podem ser utilizados nas células Pockels, como placas metálicas, filmes metálicos ou tintas metálicas (MARTINS, 2006). Conforme ilustram as figuras 6.1 e 6.2, a maneira com que são dispostos os eletrodos em uma célula Pockels pode ocorrer segundo duas configurações: transversal, para campo elétrico perpendicular à direção de propagação do feixe óptico, ou longitudinal, para campo elétrico paralelo à direção de propagação do feixe óptico.

Figura 6.2 - Célula Pockels com eletrodos na configuração longitudinal.

No caso da célula Pockels longitudinal, utilizam-se eletrodos condutores semitransparentes para revestir as extremidades do cristal. Esta configuração proporciona uma distribuição uniforme de campo elétrico, mas ocorrem perdas ópticas severas quando a luz atravessa os eletrodos, que algumas vezes não podem ser toleradas. Por esta razão, neste trabalho, utiliza-se a célula Pockels com eletrodos na configuração transversal com cristal de LiNbO3 de dimensões de 5mm x 50,025 mm x 1,1 mm, nas direções cristalógráficas X, Y, Z,

respectivamente. Neste arranjo, a propagação óptica se dá na direção Y do cristal, e a aplicação do campo elétrico externo ocorre na direção Z, perpendicular à direção de propagação da luz. Este campo será representado por %8. Na figura 6.3 observa-se a célula utilizada, já fixada em um suporte com múltiplos ajustes mecânicos.

A célula Pockels, quando empregada em sistemas de comunicação óptica para modular a luz, tem o sinal de informação disponível na forma de um campo elétrico modulador. Através do efeito eletro-óptico, esta informação é inserida na fase da luz que passa através da célula. Ao emergir do dispositivo, o sinal óptico modulado segue em direção ao receptor para que a informação seja decodificada (YARIV, 1985). Por outro lado, nos casos em que a célula Pockels é utilizada como sensor, as características de fase da luz transmitida são mensuradas para determinar o valor do campo elétrico desconhecido aplicado à célula Pockels (LI; YOSHIRO, 2002).

No caso do cristal apresentar eletrodos na forma de placas paralelas, separadas por uma distância d, obtém-se o campo elétrico, %8, a partir da tensão elétrica aplicada, ( ), ou seja:

%8( ) =( ) . (6.1)

O niobato de lítio é um meio dieletricamente anisotrópico (uniaxial negativo), que apresenta dois modos de propagação eletromagnética, dependendo do estado de polarização da luz incidente: os modos ordinário e extraordinário. O desenvolvimento desta análise é longa e trabalhosa, fugindo do escopo deste texto. Ao leitor interessado, sugere-se recorrer ao livro de Yariv e Yeh (1984) ou a tese de Martins (2006).

Nesta dissertação, em razão da célula Pockels ser utilizada como modulador de intensidade óptica, considera-se uma diferença de fase relativa entre os modos de propagação da luz, transmitida na saída do cristal dada por (YARIV; YEH, 1984):

Δθ =2πB  ( C− .)A −  B( C  − .  )%8( )A, (6.2)

sendo B o comprimento de onda do laser, C e . os índices de refração extraordinário e ordinário do cristal de niobato de lítio,  e  são seus coeficientes eletro-ópticos e A é o comprimento do cristal.

A expressão (6.2) torna evidente que existem dois tipos de defasagem relativa. O primeiro tipo, correspondente a primeira parcela de (6.2), e se deve à birrefringência natural do cristal. O segundo tipo, corresponde a segunda parcela de (6.2), e é induzida pelo campo elétrico externo %8. Esta parcela pode ser controlada eletronicamente, bastando ajustar a

amplitude da tensão elétrica ( ) aplicada. Estas diferenças de fase são denominadas de defasagens natural e induzida, respectivamente.

Utilizando (6.1) e (6.2), a defasagem induzida pode ser definida como:

Δ( ) =B ( C



− .  )A ( ), (6.3)

e a defasagem natural pode ser dada por:

 = 2πB

( C− .)A. (6.4) O valor da tensão elétrica aplicada ao cristal, e que proporciona o retardo eletro-óptico, ∆( ), de  radianos é denominada de tensão de meia-onda, representada por K. Assim,

fazendo Δ( ) =  e ( ) = K, a partir de (6.3), obtém-se:

K = B C  − .   A. (6.5) A tensão de meia-onda é um fator de mérito para o dispositivo e é usada para comparar diferentes células Pockels. Além disso, quanto menor o valor de K, menor é a tensão necessária para alimentá-la, o que nos casos dos moduladores ópticos usados em telecomunicações constitui uma característica desejável.

Como se observa em (6.5) a tensão de meia-onda depende do material e do comprimento de onda da radiação óptica (B). Os parâmetros do material ( , C,  e  ) não variam tanto com a frequência da luz, porém, valores elevados de K serão obtidos quando B for grande.

Uma maneira de obter um valor de K pequeno no modulador transversal é reduzir a razão  A⁄ . Entretanto, esta informação deve ser usada com critério, uma vez que valores muito elevados de L causam um aumento substancial na capacitância do modulador eletro- óptico. Isto, por sua vez, faz com que o dispositivo não consiga responder em freqüências elevadas, da ordem de MHz. Além disso, para dimensão d muito pequena, existem problemas associados à largura do feixe de laser que é utilizado. Se ambos forem da mesma ordem de

grandeza, o efeito da difração do feixe óptico pode degradar o desempenho do modulador (KAMINOW, 1974).

Conhecendo-se os parâmetros do cristal de niobato de lítio utilizado na célula Pockels implementada na FEIS-Unesp, é possível calcular o valor de VÕ teórico aplicando (6.5). Para tanto, considera-se o valor do comprimento de onda do laser λ = 632,8 nm (laser de Hélio- Neônio), a espessura do cristal d = 1,1 mm, os valores dos índices de refração ordinário e extraordinário dados por nÍ= 2,286 e nÊ = 2,2, respectivamente, os coeficientes eletro- ópticos do niobato de lítio como sendo r = 9,6 pm/V e r = 30,9 pm/V, e, finalmente, que o comprimento da célula é igual a L = 50,025 mm. Assim, obtem-se um valor teórico de K = 64,92 V.

Por outro lado, substituindo-se (6.5) em (6.3), tem-se que:

Δ( ) =

K( ), (6.6) a qual fornece o retardo de fase como função linear da tensão aplicada ( ). De acordo com (6.6), quanto menor o valor de K maior será o valor de retardo para um mesmo valor de ( ). Portanto, conforme mencionado, sabe-se que o efeito eletro-óptico permite inserir informações na fase da luz, ou seja, no retardo eletro-óptico (6.6). Isto permite a implementação de um modulador óptico, no qual a informação sobre o valor instantâneo da tensão ( ) pode ser inserida na fase da luz e transmitida até um receptor, onde, havendo um esquema adequado para realizar a demodulação, ocorrerá uma conversão inversa.

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