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O Fórum paralelo à Rio + 20

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE (páginas 90-95)

2.7 A Rio+20 (CNUDS, 2012)

2.7.1 O Fórum paralelo à Rio + 20

Como exposto na seção anterior, a Rio + 20 ocorre em meio a uma conjuntura internacional desfavorável, marcada por crise econômica global e avaliações negativas sobre a qualidade ambiental no planeta, caracterizando-se pelo esforço na busca de pactos capazes de garantir um presente e um futuro mais sustentáveis para todos.

Esta foi a maior cúpula das Nações Unidas. As atividades paralelas espalharam-se por diversos pontos do Rio de Janeiro. No Riocentro, onde se deu o evento oficial. No Aterro do Flamengo, território considerado simbólico pelo movimento socioambiental, com a Cúpula dos Povos, evento realizado pela Sociedade Civil. No Parque dos Atletas, na Arena HSBC e no Pier Mauá, onde representantes de governos locais, empresas e outras organizações públicas e privadas puderam se expressar e realizar acordos.

No contexto da sociedade civil, as cinco plenárias de Convergência da Cúpula dos Povos produziram documentos que analisam a crise planetária e propõem soluções nos

seguintes temas: (1) Direitos por Justiça Social e Ambiental; (2) Bens Comuns; (3) Soberania Alimentar; (4) Energia; (5) Uma outra economia, novos paradigmas.

No âmbito da Cúpula, acontece a 2ª Jornada Internacional de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis com Responsabilidade Global, marcada por diversas atividades durante a Rio + 20. Ocorreram eventos em espaços diversificados, incluindo mesas redondas e círculos de cultura sobre o Tratado. E esses eventos tiveram como principais objetivos: (1) pactuar um Plano de Ação que fortaleça o cumprimento dos princípios do Tratado e (2) lançar uma rede planetária de educadores e educadoras ambientais.

PASSEIO DA ALMA NO LEGADO DEIXADO PELA PRIMEIRA JORNADA

INTERNACIONAL DE EA: O TRATADO DE EDUCAÇÃO

AMBIENTAL PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS E RESPONSABILIDADE GLOBAL

Em uma das seções do capítulo anterior foi produzida uma contextualização sobre o chamado Fórum Global das Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais, encontro paralelo que ocorreu à reunião de cúpula multilateral sobre meio ambiente em 1992 e, como já enfatizado, realizado numa área própria, apartada física e ideologicamente do Rio Centro, e que movimentou em torno de 6.800 ONGS de 177 países e movimentos sociais atrelados a ampla gama de temas, tendo mobilizado por volta de 19.000 pessoas, sendo 11.000 estrangeiros, envolvidos na participação dos mais de 400 eventos oficiais e não oficiais.

Em tendas armadas no Aterro do Flamengo, onde se realizou o Fórum Global, os ativistas questionavam as teses debatidas pelos governos oferecendo outras visões sobre o futuro. Das discussões ali levadas a cabo, resultaram 36 tratados, a partir dos quais se articularam diversas redes temáticas, num mosaico final de documentos de referência que ficou assim constituído:

Tratado sobre Banco de Tecnologia; Compromisso Ético das ONGs para uma Atitude e Conduta Ecológica Global; Tratado de Cooperação e Partilha de Recursos entre ONGs; Tratado Base sobre as Decisões Globais das ONGs; Tratado sobre a Pobreza; Tratado sobre Consumo e Estilo de Vida; Tratado dos Povos das Américas; Tratado de Comunicação, Informação, Meios de Comunicação e Redes; Tratado de Modelos Econômicos Alternativos; Tratado sobre Empresas Transnacionais (ETNs): Regulamentação Democrática de sua Conduta; Tratado Alternativo sobre Comércio; Tratado sobre a Dívida Externa; .Tratado sobre Corrupção e Desvio de Capital; Acordo Alternativo sobre Mudança Climática; Tratado das Florestas; .Compromisso dos Cidadãos em Relação à Biodiversidade; .Tratado sobre Energia; .Tratado sobre Oceanos; .Tratado para a Minimização das Alterações Físicas dos Ecossistemas Marinhos; .Tratado de Proteção dos Mares contra as Mudanças

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Atmosféricas Globais; Tratado sobre Resíduos; Tratado da Questão Nuclear; .Tratado sobre Agricultura Sustentável; Tratado de Segurança Alimentar; .Tratado de Água Doce; .Tratado sobre Pesca; Tratado sobre Cerrados; .Tratado sobre as Zonas Áridas e Semi-Áridas; Tratado contra Racismo;

Tratado sobre o Militarismo, Meio Ambiente e Desenvolvimento; Tratado em Defesa e Proteção das Crianças e dos Adolescentes. .Tratado da Juventude; .Tratado sobre População, Meio Ambiente e Desenvolvimento; .Tratado sobre a Questão Urbana Tratado entre Povos Indígenas e as ONGs; Tratado de Educação Ambiental

para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global

.

Como é possível constatar pelo quadro apresentado acima, o Tratado de Educação Ambiental foi o último a ser inserido no rol dos documentos aprovados. E há um motivo para tal posição. A Conferência do Rio foi precedida por um conjunto de reuniões preparatórias dos aspectos técnicos do encontro, protagonizadas pelo “Comitê Preparatório da Conferência” (PrepCom). E foi durante o IV PrepCom, realizado em Nova York, em 1991, que se tomou a decisão que este Tratado em particular viria em última posição na lista. Num depoimento dado por Moema Vizzer à Revista Eco-21, comenta:

[...] muitas pessoas não entendiam como se podia pensar num tratado com este tema. Outras, ao contrário, insistiam na importância de fazê-lo, principalmente porque este seria o tratado com condições de ser o elo de ligação entre todos os demais, uma vez que a educação, a reciclagem, a renovação dos seres humanos era, em última instância, o que definia a possibilidade de aplicar os demais tratados [...]

(VIEZZER, 2014, p. 2).

A proposição da 1ª Jornada de Educação Ambiental inicia-se em Gothenburg, na Suécia, em 1991, no contexto de um Seminário que discutiu o “Futuro da Democracia”, quando então o Conselho Internacional de Educação de Adultos – ICAE decidiu participar da Rio 92 por meio do seu Programa de Educação Ambiental e em parceria com o Programa de Educação Ambiental do Conselho de Educação de Adultos para a América Latina – CEAAL,

ambos com representação no Brasil, e contaram também com o apoio institucional da ONG Rede Mulher de Educação.

No Brasil, o Fórum Brasileiro de Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais, responsável pela mobilização e articulação do Fórum Global no país, inseriu, paulatinamente, entre os diversos temas que seriam debatidos, o da Educação Ambiental.

Para além das questões de infraestrutura e logística, a mobilização para a Jornada e formulação de uma documento-compromisso teve início com a elaboração de um texto-rascunho, escrito basicamente por um grupo de brasileiros que contou com o apoio do educador venezuelano Omar Ovalles, que aportou elementos importantes e provocativos ao draft inicial, como a necessidade de manter a questão ambiental como eixo para leituras dos países latino-americanos. A partir deste eixo, a ideia que tinha era a de discutir temas estruturantes como educação para a paz, direitos humanos, integração regional, destinação de resíduos e o cuidado com a água, entre outros. Segundo Moema comenta na mesma entrevista, com essas contribuições o texto foi evoluindo, ganhando maior amplitude e a perspectiva era de obter, ao final, um documento que fosse o resultado de várias mediações políticas, pedagógicas e práticas, que se daria pelo exercício da construção social e coletiva.

As ONGs e os movimentos sociais reunidos no Fórum Global da Rio 92, davam a impressão de terem achado caminhos mais viáveis do que alguns dos acordos pactuados na reunião intergovernamental. Esses ativistas submeteram a apreciação pública resultados de grande consenso jamais alcançado pela sociedade civil planetária, traduzido nos 36 planos de ação, aprovados em plenárias e denominados de tratados, conforme nominados acima, e que foram reunidos em quatro grupos principais: 1- Tratados de Cooperação; 2- Tratados Econômicos; 3- Tratados sobre o Meio Ambiente; 4- Tratados sobre os Movimentos sociais.

Moema argumenta na mesma entrevista concedida à Revista Eco-21, que o processo de elaboração e aprovação do Tratado foi uma verdadeira aventura, levando em conta as possibilidades e limitações das ONGs e Movimentos Sociais, que tinham pouca prática de participação em eventos planetários. Mas ao mesmo tempo, explica, era instigante levar a

cabo a experiência de redigir um documento comum, a ser tecido por muitas mãos e por pessoas oriundas de diferentes culturas.

As reflexões sobre o Tratado circularam por todos os continentes, sendo objeto de discussões em países latino-americanos, europeus (Alemanha, Itália, França, Bélgica, Rússia), da Ásia e do Pacífico – como Japão e a Austrália –, além dos Estados Unidos e do Canadá.

Houve, no processo de formulação, vária críticas e polêmicas, até o fato de ser um Tratado de Educação Ambiental, comenta Moema. Ela explica que várias ONGs do hemisfério Norte insistiam em eliminar o termo “ambiental”, justificando que toda e qualquer educação deveria conter esse elemento. Porém, não exatamente isso o que pensava a maioria dos participantes do hemisfério Sul, região na qual a questão ambiental ainda estava longe de ser um tema prioritário e transversal.

Também consultado para a mesma entrevista, Marcos Sorrentino (2014) comenta que um “documento comum, um pacto de educação ambiental não é consenso, ao contrário do que alguns educadores atribuem. É diálogo no conflito, é saber chegar onde é possível chegar com aquele grupo naquela hora”. A visão latino-americana, ressalta, se diferenciava da dos ingleses, dos norte-americanos e de outros lugares do planeta, que possuíam práticas sociais diferentes; porém, juntos, tínhamos a missão de encontrar um lugar comum a todos, independentemente da caminhada individual.

3.1 (RE)APRESENTANDO O TRATADO

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE (páginas 90-95)

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