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CAPÍTULO I CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM – REVISITANDO A HISTÓRIA

1 SURGIMENTO E CARACTERÍSTICAS DO MUNICÍPIO

1.1 A capital do mármore e granito

Antes de se estabelecer com potencial explorador do mármore e do granito, Cachoeiro de Itapemirim percorreu outros caminhos econômicos, como a exploração do calcário, fabrico de cal, tijolos e telhas, fabrico de cimento e posteriormente, a extração mineral das rochas encravadas nas regiões de Itaoca, Gironda, Soturno, Santana e tantas outras das proximidades que foram sendo descobertas.

Existem diferenças entre as rochas do mármore e o granito, no entanto, a principal está na gênese e na sua composição mineralógica, que sofre influência pelas condições da formação das rochas. Os mármores são rochas constituídas em grande parte por calcita e dolomita, com acréscimo de alguns minerais, tais como mica, clorita e etc, enquanto os granitos tem sua formação predominantemente por quartzo, feldspato, biotita ou muscovita e anfibólios, o que garante a coloração diferente e diversificada, de acordo com sua formação.

Segundo Maciel (2003), a primeira marmoraria era a do Sr. Waldemar Alves Tavares, instalada na região central da cidade, na Rua 25 de Março, e consta de junho de 1919, com o nome de Marmoraria Itabira. Por muitos anos, era a única marmoraria existente e trabalhava com a construção de mausoléus, lápides, catacumbas, estatuetas de mármore, mesas, lavatórios e outros objetos de utilidade doméstica.

Apesar da importância econômica, com atividades em vários ramos, o setor de extração e serragem de mármore e granito começou a se destacar em Cachoeiro de Itapemirim. Em 1977, das 44 empresas de beneficiamento de mármore do Estado, 32 estavam instaladas no município, o que corresponde a 73% do total. No entanto, as mesmas enfrentavam dificuldades no transporte da produção, já que as vias de acesso se encontravam em situação precária epela falta de investimento e incentivos por parte do governo e ainda porque os grupos mineradores tinham interesse apenas na exploração e aproveitamento do calcário,

Os grandes grupos mineradores, em poder dos quais estavam as reservas minerais do Estado, só se interessavam pela exploração e

aproveitamento do calcário, dificultando o acesso das empresas voltadas para o beneficiamento do granito e do mármore, assim como também, a precariedade das vias de acesso encarecia sensivelmente o preço do frete[..] O mármore nacional, segundo seus produtores, só se tornava inviável devido ao fator frete. Sua qualidade era tida como sem competidor no mercado internacional (BITTENCOURT, 2006, p. 405-406).

Com o passar dos anos, ocorreram diversas transformações no espaço geográfico. Em 1995, houve a retirada dos trilhos do centro da cidade para dar lugar à construção de uma das principais vias, a Linha Vermelha. A cidade perdeu o título de polo econômico, em razão de fechamentos ou transferências de indústrias para outros lugares, em consequência dos altos impostos e da guerra fiscal, agregados à falta de capacitação profissional e de investimentos e o não acompanhamento da modernização dos equipamentos. No entanto, com a descoberta das jazidas minerais na região, os investimentos migraram para a exploração do setor de mármore, granito e rochas ornamentais. Segundo Maciel (2003), em 1990 acontecia a 2ª Exposição de Mármore e Granito de Cachoeiro de Itapemirim e a beleza e alta qualidade e variedade das amostras seria motivo de

atração irresistível aos antigos gregos, egípcios e romanos que ornamentavam suas construções com mármores raríssimos- os palácios, os templos, as mansões e os teatros; fascinaria aos orgulhosos faraós, que irigiam enormes construções, ornamentando- as com mármores especiais dificilmente encontrados; causaria deslumbramento ao rei Artaxerxes da Pérsia, que pavimentava seus palácios com os preciosíssimos mármores de Paros. Superaria as belezas dos palácios Assírios-Babilônicos, as enormes construções consagradas ao culto da divindade, o templo da “Fortuna Viril. O famoso templo de Jerusalém. Tudo edificado de mármore esmeraldino. E, pode-se dizer, os blocos marmóreos expostos nesta exposição, procedentes de Gironda, Itaóca, Prosperidade, Vargem Alta etc... causaria superioridade às cavas da Ilha de Paros, na Grécia, às cavas do Lácio, às massas de Carrara, na Itália, aos mármores Porfiro rubro do Egito, ao Altíssimo, o Corchia, o Monte Costa, o Estatuário, o Porraci e o Branco Altíssimo, antigamente muito famosos (MACIEL, 2003, p. 396-397).

Em junho de 1982, uma caravana de empresários do setor do mármore e do granito participa pela primeira da Feira de Mármore e Máquinas, em Carrara, na Itália. Esse fato foi importante para estabelecer o contato com compradores internacionais e para apresentar os produtos brasileiros, que foram expostos no

evento. Além disso, os empresários brasileiros puderam conhecer novidades no ramo a partir de visitas às empresas italianas.

Entretanto, o mármore de Cachoeiro de Itapemirim-ES, somente foi reconhecido por sua variedade e qualidade no final da segunda metade do século XX, pois, até então, a exploração desses minerais era duvidosa. Ainda que alguns geólogos atestassem sua existência no Brasil, raramente eram encontrados e, ainda assim, apresentavam qualidade muito abaixo da expectativa. A preferência era pelo mármore da França, Alemanha, Holanda, Grécia e de outros países de onde eram importados para cá. Um dos mais famosos era o mármore de Carrara, da Itália, cobiçado pelo mundo todo. Atualmente, o município de Cachoeiro de Itapemirim promove a Feira Internacional do Mármore e Granito, que está na 25ª edição e atrai pessoas de todo o mundo interessadas no negócio das rochas ornamentais.

O município, após o investimento no setor do mármore e granito, deu um salto na modernização e passou a ser destaque no ramo no sul do estado do Espírito Santo, tornando-se responsável pelo fornecimento de 80% do mercado brasileiro de mármore, sendo o maior pólo de beneficiamento de rochas e fabricação de máquinas e equipamentos para o setor de rochas das Américas.

No entanto, para chegar a essas riquezas nas profundezas da terra, as empresas do setor deixaram profundas cicatrizes no meio ambiente, em um rastro de destruição inimaginável por onde passaram explorando. Também é verdade que a legislação ambiental não era tão rigorosa como atualmente o são. O produto seguia em direção ao exterior, que muitas vezes comprava a matéria-prima bruta e nos vendia por alto preço, já trabalhada.

Com o setor cada vez mais em ascensão, foi inevitável à organização da classe trabalhadora em associação e posteriormente em Sindicato.Em 1989, um grupo de trabalhadores liderados por parte da igreja católica do município de Vargem Alta-ES, participou da “Caminhada dos Mártires”, que começou na localidade de Alto Moledo. Essa caminhada teve o objetivo de denunciar o grande número de acidentes que acontecia com os operários nas jazidas de extração de mármore e granito e nas serrarias daquela região. A partir deste ato, foi fortalecida a

ideia de se formar o Sindicato dos Trabalhadores do Mármore e Granito, que atualmente atua em todo o estado do Espírito Santo.

O Sindicato dos Trabalhadores do Mármore e Granito se fortaleceu com o apoio do Partido dos Trabalhadores, que posteriormente ganhou musculatura política devido ao grande número de trabalhadores do setor que incorporou à militância do partido. A representatividade de classe deste sindicato foi tanta que, em 1999, o ex-Presidente Lula, que à época ainda não estava neste cargo, veio a Cachoeiro de Itapemirim –ES para visitar o distrito de Itaoca “Pedra”, devido ao volume de denúncias de acidentes de trabalho, e ficou conhecido como lugar de viúvas e mutilados. A influência política do órgão de classe no município foi relevante, pois em 2008 teve um de seus dirigentes, Gildo Abreu, que era suplente, assumido a vaga de vereador pelo Partido dos Trabalhadores.

Essa revisita à História do município de Cachoeiro de Itapemirim é uma tentativa de lançar um pouco de luz sobre o presente, para melhor compreensão do processo político que vivenciamos, a partir do levantamento dos fatos históricos, políticos, econômicos, sociais e culturais. Para entender a história do tempo presente, é necessário revirarmos o passado.

CAPÍTULO II