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A CCSh em Goiânia

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CAPÍTULO 1: O CAMPO DAS INSTITUIÇÕES TERESIANAS

1.3. Comunidade Católica Shalom (CCSh)

1.3.1 A CCSh em Goiânia

Para que uma nova missão da CCSh seja iniciada em alguma diocese, faz-se necessário que haja a permissão do bispo diocesano. O local de fundação pode ser fruto de uma solicitação do bispo, sacerdote ou membro da comunidade que mudou de cidade. Para que a fundação seja efetivada em um local, a CCSh precisa passar por três fases: grão de trigo, edificados na rocha e alma da cidade.

Em Goiânia, após um período de discernimento, a comunidade de missionários chegou em 29 de agosto de 2013, com a presença de quatro missionários, atendendo ao convite recebido do arcebispo metropolitano Dom Washington Cruz:

Escrevo-lhe para manifestar meu desejo de receber alguns missionários da Comunidade Shalom para formar um núcleo missionário em nossa querida Arquidiocese de Goiânia, da qual o Senhor me fez servidor como arcebispo. Dentre as inúmeras necessidades pastorais, reconheço que a Shalom em muito poderá colaborar no processo de ‘gestação’ do Santuário da Sagrada Família, hoje Paróquia Sagrada Família, frequentada por numerosos fiéis provenientes de várias regiões da capital goiana (Carta Convite, 2011)30.

A CCSh respondendo ao convite, ao chegarem em Goiânia, permaneceram por dois anos e meio na Paróquia Sagrada Família. A qual, após

30 Carta enviada por Dom Washington Cruz em 29 de novembro de 2011, convidando a CCS a colaborar

muito diálogo, foram deixando o território paroquial, o que podemos constatar no diálogo da Regina (31 anos), uma das primeiras missionárias enviadas para Goiânia.

No início quando chegamos, o padre nos apresentou em todas as missas, achavam que íamos morar com o padre e tivemos que bater o pé [...]. Então pra gente conseguir o nosso centro de evangelização, manter grupo de oração lá, os cursos de formação, tudo sendo lá no Shalom, no centro de evangelização/casa comunitária, houve bastante diálogo nessa dimensão, pra não ficarmos vinculados a paróquia, pra termos uma cara própria de centro de evangelização (Regina 31 anos, participante da CCSh [sic]).

A CCSh não se vincula a uma paróquia específica, seu vínculo é com a diocese, o que possibilita ao grupo uma maior circulação dos jovens do movimento em diversas paróquias ao mesmo tempo. As dioceses estão habituadas a quando chega um grupo de religiosos/as ou missionários em uma cidade, estes já se vinculam a uma paróquia específica. No período em que ficaram na Paróquia Sagrada Família, contribuíram com as pastorais e serviços na igreja, mas foram também dando a conhecer a forma como trabalham e se relacionam com as paróquias de uma diocese, como nos relata Regina, na sequência de sua partilha.

A princípio o padre nos acolheu como missionários daquela paróquia, e não é assim que o carisma pensa, funciona. No início tínhamos um irmão que trabalhava na secretaria da paróquia, trabalha na oração e aconselhamento na paróquia, e sempre que era marcado na paróquia. Dias de quintas-feiras alguns irmãos atendíamos alí oração e aconselhamento. Tínhamos que sair, ter a cara Shalom, não vivermos dentro da paróquia, nesta dinâmica que é a paroquial (Regina 31 anos, participante da CCSh [sic]).

Através da fala de Regina, podemos constatar que a CCSh demonstra ter clareza de seu papel na igreja, assim como onde querem chegar numa diocese, reafirmando o que Azevedo (2012) apresenta ideal da comunidade, vir a ser a “alma da vidade”. Para estabelecer-se em um local, há na instituição um setor chamado de Difusão da Obra31 que faz os diálogos e acompanhamento dos

31 Nascido em 2012, o Setor da Difusão da Obra é uma grande novidade dentro da estrutura da

Comunidade Shalom. Um grande instrumento para que o Carisma se propague em várias cidades ao mesmo tempo no decorrer de um ano. Ela é um braço da Comunidade, uma ponta de lança para chegar em lugares onde ainda não há uma missão da Comunidade (https://www.comshalom.org/o-que-e- difusao-da-obra/ acesso 07/11/2018).

primeiros passos até o processo de consolidação da comunidade. O grupo depende da aprovação diocesana, buscam perceber a necessidade em relação as juventudes e oferecem um caminho de evangelização, que se expressa de três formas formação, artes e evangelização. Para chegar a ser uma fundação da CCSh em uma diocese, faz-se necessário a passagem por três etapas, implantação, consolidação e transição, que são estabelecidas pela própria instituição.

A primeira etapa, implantação, é a fase em que o setor de Difusão da Obra inicia os primeiros diálogos entre os que estão interessados com a presença Shalom, nesta etapa se recebe orientação quanto a realidade diocesana, bem como a permissão do bispo e sacerdote local. Em seguida é formado um grupo de oração para iniciantes, que irão se preparar durante dois meses para o Seminário de Vida no Espirito Santo ou algum outro evento que marque o primeiro movimento do carisma nesta realidade.

A segunda etapa, consolidação, se dá quando o grupo que participou do Seminário de Vida no Espirito, inicia o Caminho da Paz, itinerário espiritual da obra Shalom, que já expliquei anteriormente, que está dentro do plano evangelizador, denominado Grão de Trigo 1. A consolidação aqui é em sua forma física, para passar para próxima etapa é necessário alcançar as metas estabelecidas pelo Plano Evangelizador (2014): obra com 150 pessoas, sendo 51% da Obra de jovens e grupos nas fazes: Kerigma e Filotéia.

A CCSh está em Goiânia a seis anos, na primeira fase grão de trigo um, já foram realizados alguns Seminário de Vida no Espirito Santo, porém contam com um número grande de evasão, informação fornecida pela coordenação pastoral, o que tem sido um dos grandes desafios

Atualmente o Centro de Evangelização Shalom, está no Jardim América, aberto ao público todos os dias das 14h às 22h, oferecendo orientação espiritual, grupos de oração e formação. O grupo não está vinculado a uma paróquia específica, mas coloca-se a disposição e oferece atendimento e assessoria onde for necessário. Na parte da manhã, os jovens da comunidade de vida, dedicam tempo exclusivo para oração pessoal e formação.

O centro conta com a participação na obra de mais ou menos oitenta membros, entre os missionários, leigos da comunidade de aliança, vocacionados e jovens da obra.

Síntese do capítulo

Caminhando para conclusão deste capítulo, retomo o caminho percorrido, dentro do campo religioso da ICAR e, observando os subcampos das instituições teresianas, é possível relacionar ao pensamento de Bourdieu quando classifica as relações estabelecidas como uma tensão que tende a polarizar as forças entre dominantes e dominados. Os dominantes podemos dizer que são os que se consideram guardiões do sagrado, da tradição, os que acreditam ter recebido um dom especial, a estes chamamos clero. Os jovens/leigos compõe o grupo dos dominados, pois estes são os destinatários da mensagem que cada grupo deseja anunciar e convencer a vincular-se.

Em relação ao campo católico, os dois subcampos teresianos compõe o grupo de dominados, as instituições formadas em sua maioria por leigos, mulheres e homens, que me parece buscar estabelecer relações de igualdade e reciprocidade entre seus membros. Em alguns aspectos como a priorização das juventudes e mulheres, em sua ação concreta, estas instituições romperam com a estrutura hierárquica da ICAR, em outros aspectos pode ser que contribua ainda mais para sua consolidação de sua hierarquia, com discursos mais fechados voltados a vivência dos sacramentos como via de salvação e a busca pela santidade em tudo, sob o manto do sagrado.

Cada subcampo teresiano, tem um carisma específico, mesmo estando vinculados a ICAR é portador de certa autonomia, quanto ao sustento financeiro, atuação pastoral, organização de seus espaços de missão e transferência de seus membros, não dependem da Igreja nestes itens. Quanto ao sustento a CSTJ possui colégios privados, sendo que as religiosas que estão em espaços que não possui colégios, em maioria, se submetem aos concursos públicos para conseguir trabalho. A CCSh recebe dos membros da comunidade de aliança, mediante liberação do bispo local, a devolução do dizimo, também contam com a lanchonete e a livraria, os membros da comunidade de vida não trabalham fora da instituição.

Os dois subcampos se encontram no campo pastoral da juventude, porém se diferem na proposta metodológica, na forma como apresentam e oferecem a

espiritualidade. A JT, ainda está bastante vinculada a CSTJ, a qual recebe uma influência das irmãs que acompanham os jovens em seus processos. Já a CCSh, em sua forma organizacional é dinamizada em sua maioria por jovens, o que também é uma forma de dialogar.

Metodologicamente, a JT propõe um caminho desde a base nos grupos locais, ou seja, pequenos grupos, para depois ir ampliando a vivência dos jovens participantes, através de encontros regionais e nacionais. A CCSh, aposta em um primeiro momento em encontros grandes, e desde aí, convida os jovens a participarem dos grupos de oração, que seriam os grupos de base.

Na medida que avançarmos em nosso estudo, outros elementos irão se agregando a nossa reflexão e nos ajudará a compreender com maior clareza o que e como cada subcampo faz sua oferta de seu capital simbólico religioso e como essa oferta conecta e garante a permanência do jovem.

CAPÍTULO 2: AS REPRESENTAÇÕES RELIGIOSAS DAS INSTITUIÇÕES

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