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A chegada do turismo de pesca na planície pantaneira-década de 70

A pesca é uma atividade muito antiga no pantanal, realizada, inicialmente, pelos povos indígenas. Serviu como fonte de proteína animal em tempos de escassez, durante o século XVIII, caracterizada como atividade de subsistência até a década de 60, por falta de condições de armazenamento do pescado, que dificultava o estabelecimento de uma atividade rentável. A partir da década de 60 e início da de 70, a pesca passou a ser importante comercialmente, com a instalação de fábricas de gelo na

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região (COSTA, JR., 1993; MEDEIROS, 1999).

A partir de 1974, depois de um prolongado período de seca, que se iniciado em 1962, ocorreram períodos de cheias anuais, que se sucedem até os dias atuais, fato este que interferiu, sensivelmente, na atividade de criação de gado em todo o pantana, definindo mudanças nas técnicas de manejo utilizadas, favorecendo a expansão das pastagens, levando ao desmatamento, à abertura de novas estradas e rodovias, que gradativamente passam a atender a outros setores da economia e ao desenvolvimento regional. Os diferentes setores socioeconômicos foram incitados na busca de soluções diante da crise econômica que se abateu sobre o pantanal, e dentre elas, surge o turismo (GARMS, 1993).

A implantação gradativa do turismo de caráter empresarial tem início no final da década de 70, ocorrendo num momento crucial da conjuntura socioeconômica dos municípios pantaneiros, quando a política de desenvolvimento agrícola privilegiou o grande empreendimento monocultor, provocando a concentração de terras e mecanização da lavoura, aliada à crise que se abateu sobre a pecuária regional praticada na planície, em função da ineficiência do modelo de criação extensiva, tudo isso resultou num processo de urbanização acelerada, nas pequenas cidades pantaneiras, nos moldes tradicionais, acelerando o êxodo rural e aumentando o processo de favelização das periferias das cidades localizadas no interior do pantanal (GARMS, 1993; BANDUCCI, 2001).

GARMS (1993), um dos pioneiros no estudo sistemático sobre o turismo de pesca, realizados, no pantanal sul mato-grossense, apontou a forma desordenada, predatória, consumista e destruidora na forma de instalação e de realização da atividade.

Mesmo com todos os problemas citados, o turismo surge como um importante setor empregador, tanto por vias diretas ou indiretas, da mão-de-obra desocupada no campo e sem alternativas de trabalho nos centros urbanos (BANDUCCl e MORETTI, 2001).

Por outro lado, nesse mesmo período, cresce o interesse internacional pela conservação do ambiente global e, por extensão do ambiente pantaneiro, a atividade turística desponta como uma alternativa atraente de promoção do desenvolvimento regional, segundo um modelo condizente com as demandas do desenvolvimento sustentável.

O turismo, então, passa a ser visto pelo setor público, empresarial, e por entidades não-governamentais como uma atividade capaz da promoção do aquecimento

da economia sem provocar grandes desequilíbrios ambientais, numa região de ecossistemas tão importantes e complexos quanto frágeis e ameaçados (BANDUCCI & MORETTI, 2001).

O pantanal de Mato Grosso do Sul ingressa no mercado turístico sobretudo pela via da pesca esportiva, quando os primeiros grupos de pescadores esportivos são atraídos pela alta piscosidade dos rios da Bacia do Alto Paraguai (BAP), mobilizando um maior fluxo de visitantes e o maior gerador de divisas para o Estado (BANDUCCI, 2001).

A infra-estrutura, destinada a atender, especificamente, o turismo pesqueiro, começa a ser instalada no ano de 1972, quando o Estado de Mato Grosso não havia sido dividido, fato que vem a se concretizar em 1979. Surge o primeiro hotel- pesqueiro da região nas proximidades de Porto Morrinho, junto à Rodovia BR-262, distante cerca de 100 km do Município de Corumbá, atualmente pertencente a Mato Grosso do Sul, no início, para atender os amigos do “Severino”, proprietário do local, que logo foi transformado em hotel voltado para a pesca esportiva. Em 1978 já havia triplicado sua capacidade, inclusive alterando o nome para “Paraíso dos Dourados”, encontrando-se desativado na atualidade (PCBAP, 1997).

Depois dessa iniciativa, diferentes tipos de alojamentos, desde hotéis pesqueiros a barcos-hotéis sofisticados, até camping e pesqueiros, foram instalados próximos ao Rio Paraguai e seus principais afluentes. Inicialmente surgiram estruturas sem conforto, que se destinavam a atender turistas dos mais diversos padrões de rendimento, denotando-se falta de planejamento e improviso, tanto por parte dos empresários quanto da administração pública (BANDUCCI, 2001).

Para realizar muitas construções, foram desmatadas as margens dos rios, provocando a erosão e contribuindo assim, com ela. Aliado a essa situação, a inexistia esgotamento sanitário, o sistema de coleta de lixo era ineficiente, sendo os dejetos, em muitos casos, lançados, in natura, nos próprios rios, contribuindo para a degradação dos próprios ambientes oferecidos como atrativos turísticos.

A presença do turismo pesqueiro, além das atividades de hotelaria, contribuiu para o surgimento de novas atividades na região pantaneira, que acabaram por se constituir em grande pólo de atração de trabalhadores das cidades próximas (BANDUCCI, 2001).

Os serviços não especializados e de baixa remuneração costumam ser executados por trabalhadores das próprias cidades pantaneiras, enquanto que atividades

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mais especializadas ficam a cargo de pessoas melhor treinadas, em geral provenientes de outras localidades.

As atividades, como as de “piloteiro”, condutor de barco para os turistas da pesca, e as de “isqueiros”, catadores de pequenos peixes e crustáceos, utilizados como isca nas pescarias, são algumas atividades que mobilizam grande fluxo de mão- de-obra das cidades para as vilas ribeirinhas, durante os meses de fevereiro/março a outubro, pois, no mês de novembro, tem início o período de proibição da pesca, em função da reprodução dos peixes.