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2. A LINGUAGEM E O TELEJORNALISMO

3.2 A cobertura da Boate Kiss

3.2.1. A cobertura da Chapecoense

A edição do Jornal Nacional da Rede Globo, exibido no dia 29 de novembro de 2016, terça-feira, tratou exclusivamente da tragédia envolvendo o avião da Chapecoense, que ocorreu na madrugada do mesmo dia. O telejornal teve duração de uma hora e trinta minutos, com quatro blocos. Como os âncoras principais, William Bonner e Renata Vasconcellos, estavam ausentes por motivos pessoais, a apresentação ficou por conta de Heraldo Pereira e Giuliana Morrone, além dos comentários de Galvão Bueno.

O início do telejornal se dá através da escalada dos dois âncoras, destacando os principais assuntos sobre a tragédia. Doze manchetes, algumas cobertas por imagens e outras não, ganharam destaque: a queda do avião com o time de futebol perto do aeroporto em Medellín, na Colômbia; o sonho dos jogadores de participar pela primeira vez de uma final da Copa Sul-Americana; o número de mortos confirmados, entre jogadores, comissão técnica e jornalistas; os sobreviventes; o trabalho de resgate nos destroços; a dor dos parentes e amigos das vítimas; a opinião de especialistas em aviação sobre as causas do desastre; a repercussão internacional da tragédia; a solidariedade dos clubes e jogadores de futebol brasileiros; o gesto do adversário da Chapecoense na final da Sul-Americana; a história da Chapecoense, que vivia um momento de ascensão; e o luto na cidade de Chapecó, Santa Catarina.

Após a escalada e a vinheta de abertura, com a logo do Jornal Nacional, os apresentadores destacam o choque mundial da tragédia, que interrompeu o sonho de clube e de jovens jogadores. Afirmam que ao longo da programação todas as informações serão atualizadas. E, para dar início, Giuliana chama a repórter Lília Telles que estava ao vivo direto de La Ceja, na Colômbia. A repórter conta como foi a chegada ao país e comenta sobre a tristeza, tanto da equipe como dos moradores locais. Ela destaca também a solidariedade do prefeito, que providencia um ato no estádio onde aconteceria o jogo da final, contra o Clube Nacional Atlético de Medellín. Uma homenagem às vítimas, onde as pessoas usam roupas brancas e velas nas mãos. Logo na sequência, Lília, que fala ao vivo da frente do hospital para onde foram encaminhados os feridos, chama uma reportagem sobre como começou a viagem dos jogadores da Chapecoense, ainda em São Paulo, no Brasil, e como transcorreu o voo.

Durante o VT, uma simulação é feita mostrando o “possível” interior da aeronave, com o modelo da empresa LaMia e as informações técnicas, a tentativa do pouso de emergência do piloto, a perda de contato com a torre de controle do voo e, na sequência, a queda. A jornalista destaca que, por volta das quatro horas e dez minutos da manhã do dia 29,

a TV Globo interrompeu a programação com um plantão urgente para anunciar o acidente. A apresentadora era Monalisa Perrone. Na finalização da matéria, a repórter Lília mostra o aeroporto da Colômbia, local onde o piloto tentou fazer o pouso de emergência, cerca de trinta quilômetros do local do acidente, que era uma região montanhosa. O que surpreendeu foi o fato disso representar cerca de cinco minutos de voo. Essa simulação é um dos recursos gráficos mais utilizados pelo Jornal Nacional. Segundo Souza (2010), é através da “reconstituição dos fatos [...] bem como o uso de personagens para ilustrar os acontecimentos, mapas, cartelas, gráficos, selos, ilustrações e inclusive, algumas matérias abusam de sobe- sons e efeitos sonoros para valorizar o conteúdo” (SOUZA, 2010, p. 6-7). Na imagem abaixo é possível perceber a reconstituição do avião da Chapecoense.

Figura 7 – Recurso gráfico – Simulação do avião da LaMia que transportava os jogadores da Chapecoense em

29/11/2016 – Fonte: Reprodução/Youtube.

Na sequência do telejornal, direto do estúdio, Giuliana Morrone chama uma nota coberta com imagens. São vídeos que mostram a alegria e a ansiedade dos integrantes da delegação da Chapecoense em disputar uma final de um grande campeonato. São imagens antes do embarque no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e outras já dentro do avião. Depoimentos de jogadores que sobreviveram e de alguns que perderam a vida, mostrando a expectativa e a emoção do grande momento.

Em seguida, Heraldo Pereira chama um VT do repórter Marcos Uchôa sobre o local da queda do avião. Com imagens do socorro dos bombeiros às vítimas, é possível perceber a movimentação e cuidados, juntamente com a solidariedade dos moradores. O repórter ressalta a dificuldade dos socorristas para chegar exatamente onde o avião tinha caído, já que era uma região de rota complicada. Os trabalhos foram dificultados também porque naquela

madrugada chovia muito na Colômbia. Ao longo da reportagem é mostrada a procura por sobreviventes entre os destroços e que, ao final, são encontradas seis pessoas feridas. Entre elas, a aeromoça Ximena Suárez, o técnico da aeronave Erwin Tumiri, o jornalista Rafael Henzel da Rádio Oeste de Chapecó, Santa Catarina, além de três jogadores da Chapecoense: o goleiro Follmann, o zagueiro Neto e o lateral Alan Ruschel. As imagens do que sobrou do avião emocionam o repórter e os demais profissionais envolvidos nas buscas. O silêncio transmite a tristeza do momento. Imagens como essas, segundo Rezende (2000), permitem ao telespectador testemunhar o fato como se estivessem exatamente no local, junto com o narrador da história e as vítimas, aproximando-o da informação, da realidade. A imagem impacta, é mais forte que a própria palavra, como é demonstrado abaixo, com os destroços do avião.

Figura 8 – Importância da imagem na TV – Restos dos destroços do avião após o acidente em 29/11/2016.

Fonte: Reprodução/Youtube.

De volta ao estúdio do Jornal Nacional, a apresentadora Giuliana chama novamente a repórter Lília Telles, ao vivo da Colômbia, que está acompanhada da repórter Lívia Laranjeira do Sport TV. Lívia acompanhava a delegação da Chapecoense desde o início, já que faria a cobertura do primeiro jogo da final. Como estava no hotel com a equipe e soube em primeira mão das informações do avião, a repórter acompanhou a chegada dos sobreviventes ao hospital e toda a movimentação dos atendimentos médicos. Lívia chama uma matéria que fez sobre os ferimentos dos internados e atualiza o estado de saúde de cada um. Ao vivo novamente, relata o desafio de uma grande cobertura, que inicialmente seria festiva e acabou se tornando trágica. Segundo Motta e Rublescki (2013), o cenário das coberturas trágicas

“costuma ser de caos absoluto, principalmente nas primeiras horas. Em casos assim, a grande dificuldade do jornalista é conseguir apurar as informações” (MOTTA; RUBLESCKI, 2013, p. 6). E essa dificuldade foi relatada pela repórter Lívia, que precisava manter a agilidade na apuração e obter as informações corretas.

Um ponto a ser destacado na entrada ao vivo da repórter Lívia é a utilização da linguagem humanizada ao relatar tudo o que presenciou. Em poucas palavras, ela resume: “infelizmente o jornalismo acaba pregando essas peças na gente, tem situações que a gente não pode prever. Viemos preparados para cobrir um momento histórico, de festa da Chapecoense, mas acabamos cobrindo aqui essa tragédia”. Esse relato humano é defendido por Ijuim (2014), que afirma que tudo começa quando o “jornalista esvazia-se de preconceitos de modo a captar, ver e enxergar, ouvir e escutar, questionar e sentir” (IJUIM, 2014, p. 14). Através da linguagem simples e direta, a repórter tratou as vítimas como personagens da história contada e não apenas como uma fonte a mais da reportagem.

Na sequência do bloco, o apresentador Heraldo chama uma reportagem de Dulcinéia Novaes. No VT, o relato emocionado do filho de Caio Júnior, técnico da Chapecoense, uma das vítimas fatais do acidente. O jovem acompanharia o pai na viagem, mas de última hora não pode embarcar por conta de documentos. Ele destaca os últimos momentos com o pai e a despedida. Também compartilha um áudio, que pode ser visualizado abaixo, enviado momentos antes de o avião cair na Colômbia.

Figura 9 – Recurso de áudio – Áudio do técnico da Chapecoense para o filho antes da queda do avião em

A âncora Giuliana chama outro VT, do repórter André Gallindo, que conta um pouco da história do clube Chapecoense. Um clube exemplo de boa gestão e que estava em ascensão, ganhando notoriedade. Bons resultados em campo, conquista de títulos e a paixão da cidade pelo time, que lotava o estádio da Arena Condá, em Chapecó. O repórter destaca como um dos times mais novos da elite do futebol brasileiro, que buscava mais um título e sonhava em erguer novamente a taça. De volta ao estúdio, os apresentadores chamam o narrador Galvão Bueno, que exerceu a função de comentarista do telejornal. Galvão, que conhece o aeroporto de Medellín na Colômbia, devido às transmissões do futebol, relata as condições complicadas do aeroporto e daquela região. Ele também destaca como recebeu a informação do acidente e o choque que foi. Galvão afirma que o terror foi estabelecido e a angústia pelas informações só aumentavam. Esse recurso do Jornal Nacional, com a presença de repórteres ao vivo, correspondentes e comentaristas especializados, como no caso do Galvão, enriquecem o noticiário e dão mais credibilidade à informação, é o que afirma a autora Souza (2010). Na imagem abaixo é apresentada a entrada ao vivo do comentarista, no próprio estúdio do telejornal.

Figura 10 – Presença comentarista – Importância dos comentários de Galvão Bueno durante a edição especial

sobre a tragédia da Chapecoense em 29/11/2016. Fonte: Reprodução/Youtube.

Após o comentário de Galvão, os âncoras chamam o primeiro intervalo. Nesse momento, o que chama a atenção é a tela com os nomes de algumas vítimas da tragédia. Em silêncio, o telespectador acompanha por ordem alfabética o gesto de respeito. Essa tela, representada na imagem abaixo, é repetida em todos os intervalos do telejornal, até concluir a lista dos nomes.

Figura 11 – Tela ilustrativa – Nomes das vítimas da tragédia em cada intervalo do telejornal em 29/11/2016 –

Fonte: Reprodução/Youtube.

No segundo bloco, os apresentadores chamam uma entrevista do repórter Carlos De Lannoy com um especialista em aviação. Durante uma simulação, eles tratam sobre as investigações das possíveis causas do acidente da Chapecoense, envolvendo o voo LaMia 2933. São descritos detalhes da documentação do avião, manutenção, as caixas pretas encontradas, a capacidade de autonomia tratando-se de quilometragem, plano de voo e condições climáticas no momento da queda. O especialista destaca as irregularidades da aeronave e as orientações necessárias que o piloto deveria ter seguido. Ele sugere como uma hipótese provável que o erro pode ter sido do próprio piloto e que o avião teve uma pane seca, já que faltou combustível e a distância percorrida era maior do que a autonomia. Nesse caso do repórter conversar com um especialista para sanar as dúvidas nota-se o discurso atualizado do telejornal com o telespectador. Conforme afirma Maia (2011), a fuga do discurso homogêneo, faz com que o telespectador seja “convidado a ‘bater um papo’ com o apresentador” (MAIA, 2011, p. 12).

Em seguida, Giuliana chama um VT do repórter Ricardo Von Dorff sobre a cidade de Chapecó, em Santa Catarina, que amanheceu de luto com a tragédia. O que era para ser um sonho tinha sido transformado em dor. Os depoimentos dos moradores e torcedores do clube demonstram a perplexidade diante do fato. A cidade estava tomada por homenagens às vítimas, com bandeiras do clube, faixas pretas e orações. Na reportagem, Ricardo conversa com o prefeito da cidade e com o presidente do time, que se mostram inconsoláveis. O clima da cidade é de dor e choro com a perda dos heróis e amigos e com o fim do sonho da taça. Na sequência, outra reportagem sobre o mesmo tema é chamada. A repórter Kíria Meurer conversa com os familiares das vítimas, entre eles pais, mães, esposas, irmãos e amigos. O

desespero e a comoção demandam de atendimentos médicos e psicológicos às famílias, que contam com a ajuda da comunidade. Após a reportagem, Kíria fala ao vivo, direto do estádio do clube, na Arena Condá, sobre as manifestações dos torcedores às vítimas ao longo do dia, com cartazes, velas e flores, a missa e também sobre o decreto de luto de um mês na cidade e da suspensão das aulas. A repórter destaca que o ambiente é de muita tristeza e que o clube já prepara o velório coletivo dos jogadores e dirigentes da Chapecoense. No caso de relatar os depoimentos dos familiares, amigos e conhecidos das vítimas, o jornalista precisa ter cuidado e responsabilidade, com sensibilidade. Segundo Barros (2005) citada por Montipó e Farah (2009), o repórter tem de se manter humano em tempo integral e não apenas para impressionar. Nesse caso, a intenção das reportagens de Ricardo e Kíria é de “um jornalismo mais sensível, é aproximar as pessoas de uma realidade que nem sempre conhecem e por isso não se preocupam” (MONTIPÓ; FARAH, 2009, p. 9).

Novamente, os apresentadores chamam o intervalo. Na volta, o terceiro bloco inicia com uma reportagem de Pedro Vedova sobre a repercussão da tragédia no mundo, principalmente nos principais clubes europeus de futebol. O respeito e a solidariedade dos jogadores são representados pelos minutos de silêncio que antecedem as partidas. Mensagens de apoio nas redes sociais da FIFA e de craques como Maradona e Lionel Messi. Em vários países, as manifestações acontecem nos principais estádios e monumentos, iluminados com a cor verde da Chapecoense. O repórter relembra outras tragédias esportivas, também com vítimas fatais.

Na sequência, outra reportagem é apresentada, do repórter Abel Neto, sobre as manifestações dos clubes e jogadores brasileiros. Postagens de carinho de jogadores como Pelé, Neymar e de treinadores como Tite. O repórter destaca a atitude honrosa da Confederação Brasileira de Futebol, que além do decreto de luto, adia jogos das principais competições. As manifestações dos clubes brasileiros e do Atlético Nacional de Medellín também comovem. Os clubes mostram a disponibilidade de empréstimo de jogadores com o intuito de reconstruir a equipe da Chapecoense. Já o Atlético, que disputaria a final da Copa Sul-Americana com o time, envia pedido à Confederação Sul-Americana para que o título do campeonato fosse da Chapecoense. Após o VT, os comentários ficam por conta de Galvão Bueno, que ressalta as homenagens e a união no esporte, em diferentes línguas. Na imagem abaixo, o repórter Abel mostra que a mobilização em torno da tragédia gerou envolvimento nas redes sociais. Muitos brasileiros e estrangeiros utilizaram a hashtag Força Chape (#ForçaChape) como uma demonstração de carinho e união.

Figura 12 – Repercussão – #ForçaChape compartilhada por brasileiros e estrangeiros em nome das vítimas em

29/11/2016 – Fonte: Reprodução/Youtube.

A grande repercussão do acidente aéreo e o interesse das pessoas devem-se pelo fato da morte também ser considerada uma tragédia. No caso da Chapecoense, com várias vítimas, uma tragédia múltipla. Segundo Angrimani (1995), esse assunto torna-se um objeto de curiosidade e fascínio para a população, que é instigada pelo sofrimento envolvido, o choque e a dor de um fato trágico. O que também chama a atenção e mobiliza pessoas do Brasil e do mundo, além das vítimas do acidente, é a popularidade dos envolvidos, uma grande perda no mundo esportivo, do futebol em específico. Jogadores de um time em ascensão, conhecidos e admirados pelo público, além de jornalistas competentes e de grandes empresas do país, como a TV Globo, a Fox Sports e a RBS TV.

A reportagem que roda em seguida é do repórter Marcos Losekann. Os destaques são o pronunciamento do presidente do Brasil, Michel Temer, e o apoio no trabalho de identificação dos corpos das vítimas na Colômbia, disponibilizando os aviões da Força Aérea Brasileira. Do estúdio, Giuliana chama Marcos Uchôa, ao vivo, de Medellín, na Colômbia. O repórter fala sobre a conclusão do trabalho das equipes de resgate, na retirada dos corpos do local do acidente. Comenta da situação enfrentada pelo voo da LaMia minutos antes de cair, já que outro avião também estava em situação de emergência e teve preferência no pouso. Em seguida, os apresentadores chamam o próximo intervalo do telejornal.

O quarto bloco do Jornal Nacional volta com uma reportagem factual que não trata da Chapecoense. O VT de Andréia Sadi fala sobre o caso envolvendo Geddel Vieira Lima e diálogos gravados pelo ex-ministro da cultura, Marcelo Calero. Logo após, os apresentadores leem uma nota pé com as posições da Casa Civil e do Presidente Michel Temer sobre o

assunto. Depois, roda uma nota coberta sobre uma manifestação em relação à votação de uma proposta do Senado, seguida de uma nota pé da presidência sobre o caso. Seguindo o bloco, Heraldo chama Maria Júlia Coutinho com a previsão do tempo no país. Voltando a falar sobre a tragédia da Chapecoense, Heraldo Pereira chama uma nota coberta com um vídeo divulgado por uma televisão boliviana com os últimos momentos antes de o avião levantar voo. A nota apresenta entrevistas do técnico da Chapecoense e da tripulação do avião. Logo após, o telejornal tem outra entrada ao vivo de Medellín, na Colômbia, com o repórter Ari Peixoto. Ele traz as informações sobre a previsão de liberação dos corpos das vítimas e da importância do auxílio dos aviões da Força Aérea Brasileira.

O Jornal Nacional segue com as últimas informações sobre a tragédia. Giuliana Morrone chama uma reportagem de Eric Faria, cheia de emoção e que a sensibiliza. É uma homenagem aos oito jornalistas da TV Globo e da afilhada RBS TV que estavam no avião da Chapecoense e perderam a vida a caminho da grande cobertura esportiva. Eric conta a trajetória dos colegas e destaca os principais trabalhos e características de cada um. Ele ressalta que os contadores das histórias tornaram-se a notícia que não gostariam. Logo depois, é chamado outro VT de homenagem para os outros doze jornalistas que também estavam no avião. Seguindo a reportagem de Eric, o repórter Guilherme Pereira traz a trajetória dos companheiros da Fox Sports, Rádio Super Condá, Rádio Chapecó, Rádio Vang FM e Rádio Oeste Capital.

Nessas duas reportagens, percebe-se que, tanto os textos das cabeças dos VTs lidos pelos âncoras, quanto os offs gravados pelos repórteres, priorizam a sensibilidade, a humanização. Inversão de papéis. Os profissionais que sempre contaram as histórias, assim como eles que estão sentados na bancada do telejornal, viraram notícia. As palavras da reportagem do Eric Faria, descreve o sentimento: “informação... Emoção... São as nossas ferramentas no jornalismo esportivo e a Chape estava oferecendo um roteiro delicioso, matéria-prima de primeira... Éramos vinte no avião e outros tantos nas redações à espera dessa final inédita. Infelizmente, esse jogo acabou sem começar. Dessa vez, doeu estar perto da notícia. Doeu ser a notícia. Infelizmente, as câmeras e os microfones perderam bons amigos”. Para Ijuim (2009), essa narrativa humanizada além de tornar a reportagem mais humana, a torna mais “densa, complexa, como o é, de fato, o mundo em que vivemos. Sua narrativa leva o sujeito-leitor a pensar, a buscar compreender melhor o que se passa, as razões, os interesses, as variantes do caso relatado (IJUIM, 2009, p. 92).

Antes do encerramento, os apresentadores chamam um VT com uma homenagem aos jogadores da Chapecoense. A reportagem de Carlos Gil apresenta vídeos de momentos pessoais do time, memórias que demonstram a amizade, a união e a vontade de vencer de cada um. Cenas como a notícia da chegada do primeiro filho, as concentrações antes dos jogos e os bastidores do vestiário na comemoração da classificação inédita do time.

Segundo Maciel (1995), as palavras são secundárias, já que a “força da imagem costuma criar um clima emocional capaz de superar qualquer narração” (MACIEL, 1995, p. 46). A reportagem também traz os traços marcantes de cada jogador, com as qualidades ressaltadas e valorizadas, que são complementadas com mensagens dos familiares e amigos aos grandes “heróis”.

Por fim, o encerramento histórico do Jornal Nacional. Uma cobertura marcada pela emoção dos apresentadores e repórteres. Ao fundo no telão, a imagem de todos que perderam a vida em busca de um sonho. E o grande gesto de solidariedade da equipe do telejornal, que aplaudiu de pé as vítimas do acidente, como mostra a imagem abaixo.

Figura 13 – Encerramento – Homenagem da equipe do JN às vítimas da tragédia da Chapecoense em

29/11/2016 – Fonte: Reprodução/Youtube.

O próximo tópico aborda os resultados da análise dos estudos de campo das tragédias da Boate Kiss e da Chapecoense. Serão abordados os resultados das análises quantitativas e

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