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PARTE II – ANÁLISES

CAPÍTULO 4. A PROGRAMAÇÃO PRÉ-PEDAGÓGICA

4.4 O papel do Programa Nacional do Livro Didático

4.4.1 A coleção Português linguagens segundo o GLD

Em primeiro lugar, a avaliação do GLD realizada por meio da seleção de critérios comuns e específicos, postula que o Manual do Professor (MP) da coleção Português linguagens (manual 1) merece atenção especial, pois serve de instrumento para as escolhas efetuadas por seus autores no momento em que traça suas ações de ensino. A orientação principal é a de que

a proposta teórico-metodológica do MP esteja em consonância com a apresentada no Manual do Aluno (MA).

Os capítulos sobre literatura do manual 1 são compostos de três seções: na Introdução, é realizado o estudo de um estilo de época; em Leitura, é apresentado um texto literário para interpretação; Do contexto ao texto, conclui-se o capítulo com a apresentação dos autores que mais se destacam no contexto sócio-histórico do estilo de época em questão. O PNLEM aponta que a maior parte da obra é dedicada ao estudo dos estilos de época numa perspectiva tradicional, embora reconheça a qualidade da maioria dos textos apresentados. De modo geral, os exercícios são avaliados como favoráveis à formação do aluno como leitor literário por explorarem os recursos estilísticos adequados.

Alguns recursos são apontados como interessantes por valorizarem outras formas de manifestação literária, como as canções populares, além de outras artes como a pintura e a escultura, estando assim em consonância com a proposta inicial do MP de relacionar a história literária com a cultura atual. A seção Intervalo é utilizada para esse fim. Nela são feitas referências a filmes, peças de teatro, CDs musicais, coletâneas, dentre outros.

Os capítulos sobre produção de texto abordam um gênero ou um tipo textual31 em três seções: em Trabalhando o gênero, o aluno é interpelado a fazer a leitura e a interpretação de um determinado texto que serve como protótipo do gênero; em Produzindo, o aluno é levado a escrever de acordo com o gênero; e Para escrever, fornece ao aluno os subsídios gramaticais necessários à escrita.

As propostas de leitura e reescrita das produções são consideradas pertinentes na medida em que fornecem modelos de redação. Entretanto, o planejamento dessas atividades e suas etapas não são explicitadas de forma direta, sendo quase sempre apenas sugeridas. Em relação à

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Sobre essa distinção, recomendamos a leitura do artigo de Roxane Rojo “Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas” (ver referência completa no final do trabalho) que traz dados esclarecedores sobre a questão das implicações teóricas e metodológicas das diferentes teorias sobre os gêneros para a melhoria das práticas de ensino, tendo em vista as orientações oficiais, as dos PCN, por exemplo, no campo da política de ensino. Sobre esse tema de ensino, salientamos que é comum a confusão tipo/gênero em algumas atividades dos manuais didáticos analisados, demonstrando o desconhecimento dos autores sobre a relevância desses fatores sobre o ensino de língua portuguesa. No manual Português :linguagens, por exemplo, embora os autores apresentem, no manual do professor, uma distinção entre gêneros e tipos textuais, não são apresentadas nenhum tipo de distinção dessas noções aos alunos. No manual Português de olho no mundo do

trabalho, por outro lado, os autores não fazem nenhuma menção a esse tipo de distinção, tomando quase sempre

análise dos conhecimentos lingüísticos, o GLD aponta que o manual tem como referência ora a gramática tradicional, ora a Lingüística do texto e do Discurso, transitando entre o ensino tradicional e o renovado. Para os autores desse manual, trata-se de uma tentativa de atualização da teoria dos gêneros discursivos que, de acordo com o livro MP, fundamenta a proposta didático-pedagógica do livro.

No GLD, argumenta-se que a própria segmentação dos capítulos em seções – Para compreender o funcionamento da linguagem, Para escrever e falar com adequação, Construindo o conceito – revela-se “pouco adequada à perspectiva teórica perseguida, na medida em que tende a dissociar a reflexão do uso” (BRASIL, 2006, p.61).

As intenções declaradas no MP não são efetivamente realizadas no MA, já que as categorias de análise dos conhecimentos sobre a língua seguem as orientações da gramática tradicional. Quanto aos exercícios, avalia-se que, embora os autores recorram a práticas tradicionais de reconhecimento de classes e funções gramaticais por meio do preenchimento de lacunas e de substituição de palavras por seus “sinônimos”, “colaboram para a compreensão do conteúdo apresentado e agregam informações importantes para a apreensão do conhecimento lingüístico trabalhado, permitindo a apropriação adequada das regularidades em jogo” (BRASIL, GLD, 2006, 62).

O que podemos perceber, desse sumário da avaliação do GLD é que as considerações partem, efetivamente, da dicotomia entre dois imaginários sociodiscursivos da educação: o imaginário da tradição, representado basicamente pelo apego aos elementos e atividades estruturais e classificatórias, e o imaginário da modernidade, representado pelas atividades voltadas para relações entre textos e história, identidade, posicionamentos, contextualização etc. Percebe-se, porém, que a presença do imaginário tradicional faz com que o manual sofra uma restrição, mas não o desqualifica, como mostra a concessão feita ao manual 1: embora os autores recorram a práticas tradicionais de reconhecimento de classes e funções gramaticais por meio do preenchimento de lacunas e de substituição de palavras por seus “sinônimos”, “colaboram para a compreensão do conteúdo apresentado e agregam informações importantes para a apreensão do conhecimento lingüístico trabalhado, permitindo a apropriação adequada das regularidades em jogo. Como se pode notar, o próprio avaliador hesita entre os dois imaginários.

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