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3.2 COLETA SELETIVA

3.2.5 A Coleta Seletiva na PNRS

Após vinte e um anos de tramitação no Congresso Nacional, em 02 de agosto de 2010, foi sancionada a Lei Federal nº 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), regulamentada pelo Decreto Federal nº 7.404/2010. Ela coloca como uma de suas prioridades a maximização da coleta seletiva e da reciclagem com inclusão de catadores e participação da sociedade.

A aprovação da Lei mobilizou durante anos ambientalistas, movimentos sociais e entidades que buscavam criar um marco legal para os resíduos sólidos no Brasil. Para Gomes e Steinbrück (2011) às duas décadas de espera são atribuídos os entraves políticos e a pressão das grandes indústrias, que muitas vezes tem representantes no Congresso Nacional, e preferiam não se responsabilizar com os resíduos que geram, um dos aspectos contemplado na nova legislação.

A PNRS engloba o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações a serem adotados pelo Governo Federal para uma

gestão integrada e gerenciamento de resíduos sólidos com vistas a atingir a universalização da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos (BRASIL, 2010a).

A PNRS estabelece princípios de gestão integrada e sustentável de resíduos, a prevenção e a precaução, baseada na não geração, redução, reutilização e reciclagem, além da disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos (BESEN, 2011).

A responsabilidade compartilhada é um ponto de inovação da Lei e reconhece a necessidade de participação de todos os atores envolvidos na cadeia produtiva. É um grande desafio à sua implementação, pois envolve uma diversidade de interesses econômicos, sociais e ambientais. A Lei no 12.305/2010 elenca como objetivo da responsabilidade compartilhada em seu Artigo 30, parágrafo único:

Art. 30 (...)

Parágrafo único: A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos tem por objetivo:

I – compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias sustentáveis (BRASIL, 2010a, p.12).

A responsabilidade compartilhada será implementada de forma individualizada e encadeada e os consumidores serão obrigados, sempre que existir coleta seletiva, a acondicionar de forma adequada e diferenciada os resíduos sólidos gerados e disponibilizar os resíduos reutilizáveis e recicláveis para a coleta ou devolução (BRASIL, 2010a).

Outro ponto importante é a logística reversa apresentada como um instrumento econômico à PNRS e definida em seu Artigo 3º, inciso XII, como:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

XII – logística reversa: instrumento de desenolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010a, p.2).

A PNRS estabelece responsabilidades para os diferentes atores na logística reversa, onde cada um deverá ter comprometimento com o desenvolvimento de suas ações à implementação do sistema (PEREIRA NETO, 2011). O sistema de retorno dos produtos deve ser estruturado de forma independente do serviço público de limpeza urbana.

De fato, a logística reversa, se realizada adequadamente, aumentará a reciclagem no Brasil, reduzirá o descarte de resíduos, e amenizará os impactos ambientais provocados pela geração excessiva de resíduos sólidos. Do ponto de vista mercadológico, as empresas podem melhorar sua imagem junto ao consumidor e se destacar no mercado competitivo.

A coleta seletiva tem papel fundamental na nova política brasileira. O Decreto regulamentador da PNRS (no 7.404/2010) deixa claro que a coleta seletiva é um instrumento essencial para se atingir a meta da disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Em relação à coleta seletiva e a reciclagem, um dos princípios da PNRS é o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania (CORNIERI, 2011).

A Lei prevê prioridade no acesso aos recursos da União aos municípios que implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou associações formadas por pessoas físicas de baixa renda.

As cooperativas e organizações de catadores são mencionadas diversas vezes no texto da Lei no 12.305/2010, com o intuito de subsidiar a participação de catadores nos processos de gestão ambiental e coleta seletiva, bem como promover a inclusão social e econômica desses catadores.

Além da PNRS e do seu decreto regulamentador, outra base legal foi instituída para fortalecer a inclusão das cooperativas nos sistemas de gestão integrada de resíduos sólidos. O Decreto Federal no 7.405/2010 cria o Programa Pró-Catador, que em seu Artigo 1º prioriza sua finalidade:

Art. 1º (...) integrar e articular as ações do Governo Federal voltadas ao apoio e ao fomento à organização produtiva dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, à melhoria das condições de trabalho, à ampliação das oportunidades de inclusão social e econômica e à expansão da coleta seletiva de resíduos sólidos, da

reutilização e da reciclagem por meio da atuação desse segmento (BRASIL, 2010b, p.1).

São objetivos do Programa Pró-Catador, dentre outros: • capacitação, formação e assessoria técnica;

• fortalecimento da participação do catador nas cadeias de reciclagem; • incubação de cooperativas e de empreendimentos sociais solidários que

atuem na reciclagem;

• pesquisas e estudos para subsidiar ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

• desenvolvimento de novas tecnologias e aquisição de equipamentos, máquinas e veículos voltados à coleta seletiva, tratamento, beneficiamento e reciclagem;

• implantação e adaptação de infraestrutura física;

• organização de redes de comercialização e abertura de linhas de crédito especiais.

Para Besen (2011), os catadores têm o grande desafio de se inserir nesse novo modelo de gestão e garantir seu espaço na cadeia produtiva da reciclagem. O papel das cooperativas de catadores poderão determinar o êxito da implementação da PNRS (PEREIRA NETO, 2011).