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A Comissão de Comunicação da Troca de Saberes 2013

1. A EXPERIÊNCIA NO PROGRAMA TEIA/UFV 2013

1.5 A Comissão de Comunicação da Troca de Saberes 2013

Minha participação na Troca de Saberes foi como membro da Comissão de Comunicação, o que não se deu apenas no dia do evento, mas nas reuniões gerais com todos os interessados em construir coletivamente o evento, bem como nas reuniões da própria Comissão de Comunicação, da qual participei na organização e planejamento das estratégias que seriam utilizadas para captar os registros do evento.

Além das reuniões preparatórias para o evento, participei dos Ensaios das Instalações Pedagógicas a serem oferecidas e das reuniões da Comissão de Comunicação.

Foi perceptível durante a concepção do evento a maior participação de alguns estudantes, em comparação a outros, devido a fatores como: envolvimento maior nas atividades dos projetos ou parcerias que participam dentro do ambiente Teia; familiaridade com o evento da Troca de Saberes devido à participação em anos anteriores; e vivência e contato constantes com comunidades participantes do evento. De modo que, é perceptível nesta pesquisa, ao fazer a análise sobre a percepção dos estudantes com relação as ações do Programa, resultados muito variantes e singulares.

Na Comissão de Comunicação, fui responsável, juntamente com outros participantes pela organização de toda a equipe de registro para evento. Foi a primeira vez que participei da Troca de Saberes em toda a minha trajetória acadêmica, ou seja, tanto como pesquisadora, quanto como participante. Meu trabalho junto a Comissão de Comunicação na semana anterior ao evento foi de refletir junto aos membros, de maneira mais específica, como seriam as estruturas das relatorias.

Para o meu trabalho junto à Comissão de Comunicação, além dos estudantes ligados ao Programa Teia, foram selecionados estudantes da UFV, que não eram do Programa, mas que tinham interesses em aprimorar as técnicas de relatar, para participarem da equipe de registro. De modo que ao responderem ao chamado como voluntários para o registro,

63 chamado esse que aconteceu devido à necessidade de um número maior de pessoas que garantisse o registro de todos os espaços sem sobrecarga de tarefas, os sujeitos foram escalados em horários diversificados a fim de relatar o máximo de espaços possíveis conforme a programação da Troca de Saberes. Esses horários foram disponibilizados via rede social do Facebook, para consultas, negociações e trocas de horários entre os relatores.

O curso de relatoria tinha como objetivo despertar o olhar dos estudantes para o registro, demonstrando maneiras diversas de se relatar, bem como uma apresentação breve dos tipos de relatoria existentes e modelos de perguntas a serem respondidas, conforme os espaços a serem relatados. O curso e seu conteúdo compôs um convite para o exercício de reflexão dos estudantes sobre aquilo que se faz e do que acontece na Troca de Saberes. A Comissão de Comunicação, além de organizar a equipe de registro, também se debruçou no exercício de registrar seja em forma de relatorias, fotos ou vídeos.

O registro na modalidade escrita foi uma atividade um tanto delicada, o grupo de estudantes desvincula esta prática coletiva da maioria de suas experiências. Houve ausência de uma metodologia sistemática em relação à organização das pessoas e dos modos de registro dos acontecimentos que não atrapalhassem os estudantes no sentido de aproveitamento das experiências proporcionadas pelo evento.

Durante meu envolvimento junto a Comissão de Comunicação, o desafio nesse trabalho foi o de mobilizar relatores para a equipe, ou seja, garantir o maior número possível de espaços relatados, com o máximo de diversidade de olhares sobre o evento e suas dimensões. No entanto, o referido trabalho revelou outro desafio: o de envolver, de fato, os relatores com o trabalho de relatoria.

A utilização convencional da prancheta e anotações descritivas e incessantes não era o objetivo dos registros e nem tampouco condizem com a pesquisa-ação, metodologia utilizada pelo Programa. Entretanto, ainda faz-se necessário aprofundar a pesquisa-ação enquanto ferramenta metodológica do Programa para que a observação da experiência não seja dissociada da própria experiência, o que se pretende, por conseguinte é que o estudante seja alguém que troca experiências e não somente as observa e assimila. O registro na modalidade escrita na Troca de Saberes de 2013 e nas demais ações do Programa ainda é um desafio.

Durante a pesquisa-ação, estar na Comissão de Comunicação e compor a equipe de registro me proporcionou uma nova dimensão sobre a minha pesquisa. Essa nova dimensão se deu a partir da organização das pessoas no que diz respeito ao envolvimento com o trabalho de registro.

64 Enquanto pesquisadora estive diante também da mesma dificuldade no que diz respeito ao registro das reuniões do Programa Teia e do evento da Troca de Saberes. Desafio este que se dá no distanciamento necessário do observador com relação à realidade, pois dentro de uma realidade não se é apenas um observador, mas se compõe um cenário de interações nas quais se é constantemente convidado a participar. Lidar com o exercício de atuar na realidade e ao mesmo tempo se distanciar em momentos de reflexão foi um acontecimento permanente e, portanto, inerente à minha trajetória no Programa Teia e também à trajetória dos demais integrantes.

O registro dos acontecimentos com olhares diversos foi minimamente feito por algumas pessoas. Contudo, a maioria dos registros não possuíram reflexões mais profundas que cumprissem um papel mais crítico e de significação maior das experiências pelos participantes. Foram poucos os relatos dos estudantes envolvidos, bem como o registro de apontamentos de lacunas e de objetivos futuros a serem alcançados para a constituição de novas experiências.

Porém, as sociedades mesmo de modo desagregado, ou seja, sem fazer conexões e reflexões mais profundas de suas atividades com as perspectivas ideológicas, pensam suas próprias atividades práticas com uma mínima perspectiva nas relações que as mesmas travam com os aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos.

O homem comum e corrente é um ser social e histórico... Sua própria cotidianidade está condicionada histórica e socialmente, e o mesmo se pode dizer da visão que tem da própria atividade prática. Sua consciência nutre-se também de aquisições de toda espécie: ideias, valores, juízos e preconceitos, etc. Não enfrenta nunca um fato puro; está integrado em uma determinada perspectiva ideológica, porque ele com sua cotidianidade histórica e socialmente condicionada – encontra-se em certa situação histórica e social que engendra essa perspectiva. Por conseguinte, sua atitude diante da práxis já implica em si uma consciência do fato prático, ou seja, certa integração em uma perspectiva que vigoram determinados princípios ideológicos... Portanto uma consciência comum da práxis não está esvaziada, completamente, de certa bagagem teórica, ainda que nela as teorias se encontrem degradadas (VÁZQUEZ, 2011, p. 34).

No entanto, se tal perspectiva não coloca homens e mulheres enquanto sujeitos que transformam uma realidade de maneira que mesmos reflitam sobre seus atos práticos, tal perspectiva, por conseguinte, não faz de suas atividades práticas, atividades sociais, de fato, transformadoras.

65 Em Nóvoa (1979, p. 11):

Este homem, “ser de relações”, vive uma pluralidade dentro da própria singularidade e tem uma quota crítica enquanto tal. Esta inserção no mundo não o leva a uma imanência, ao contrário: ao ser capaz de compreender, pode, também, transcender: A sua transcendência está, também, para nós, na raíz de sua finitude. Na consciência que tem desta finitude...

Para Freire se faz imprescindível a preocupação em entender a educação como instrumento de conscientização, para pensar a educação como instrumento de revolução cultural. A conscientização nada mais é do que reconhecer que no próprio ato de conhecer o mundo o homem conhece a si próprio e, assim, pode transformá-lo, de modo que a sua consciência é ação, ou seja, é práxis (BAUER, 2008).

Posta tais colocações, os estudantes envolvidos no Programa Teia, de fato, tem uma certa consciência dos fatos práticos, nos quais vigoram princípios ideológicos como a Agroecologia, posto isto, a consciência destes atos não está esvaziada de uma certa bagagem teórica adquirida ao longo de suas vidas e dentro da Universidade.

As experiências vividas pelos estudantes são resultado da interação entre suas singularidades e a cotidianidade construída nas comunidades e outros espaços proporcionados pelos projetos nos quais atuam. Há, por conseguinte, um desafio aos estudantes que se constitui no processo de captar a totalidade dentro da interação entre suas singularidades e pluralidades, e este desafio é ainda mais nítido pela incapacidade em se medir, entre eles, o grau de importância que delegam a tal reflexão.

Mas estes sujeitos que vivem pluralidades dentro de suas singularidades são convidados a transcender no real por meio da consciência e isto acontece em diversos níveis, os quais não podem ser medidos.

É na busca por esta contínua transcendência que a Extensão Universitária pode ser uma práxis no processo de conscientização viabilizada pelo diálogo, no sentido de Freire (2011). A Extensão Universitária só pode constituir-se em um instrumento no processo de conscientização se a consciência da transformação do mundo não reduzir tudo o que é relevante a modelos, como o colonialismo, por exemplo, ou “a própria fronteira entre o técnico e o social, uma fronteira móvel, que deve ser redefinida em função da situação e do problema, através das contribuições do todos os envolvidos.” Santos (2005b, p. 56).

A Troca de Saberes 2013, enquanto ação acompanhada do Programa Teia esboça a dificuldade em se medir o grau de envolvimento e de consciência dos estudantes sobre as suas próprias experiências.

66 É perceptível, desta forma que as práticas proporcionadas pela extensão universitária do Programa Teia/UFV em si possam transformar, em diversos níveis, as consciências dos sujeitos envolvidos. De forma que não se pode medir o grau de conscientização e os níveis de consciência dos sujeitos em relação às experiências que vivenciam. Apesar disso, a Extensão Universitária não é um fim, mas um meio, um instrumento de construção de possibilidades de conscientização e de transformação social, o que não pode ser negado. Mesmo porque, capitar o movimento do real com o distanciamento necessário, sem sair de cena, é um exercício difícil. E tais dificuldades são perceptíveis dentro dos poucos registros redigidos coletivamente pelos estudantes com pouca profundidade das temáticas trabalhadas.

Contudo, mesmo os registros mais profundos não podem garantir que, por isso, há uma consciência da práxis, pois ela não se encontra na ação que transforma uma realidade, mas numa consciência elevada intrínseca a esta ação.

Interpretar não é transformar... Em suma, a práxis se apresenta como uma atividade material, transformadora e adequada a fins. Fora dela fica a atividade teórica que não se materializa... Mas, entretanto, não há práxis como atividade puramente material, isto é, sem a produção de fins e conhecimentos que caracteriza a atividade teórica (VÁZQUEZ, 2011, p. 238-239).

Diante das diferenças entre os tipos de práxis, a atividade teórica puramente, e mesmo os registros redigidos pelos estudantes, não são, sozinhos, transformadores da realidade local, ainda que sirvam de instrumento para a modificação de ideias dos homens e mulheres.

O papel dos registros atuais do Programa possui mais predominantemente um caráter de acúmulo da aprendizagem coletiva e de partilha de experiências para a formação acadêmica. De maneira que, o processo de acúmulo da aprendizagem coletiva se dá principalmente mais pelas práticas disseminadas dos eventos anteriores que influenciam a construção da ação posterior e, em menor grau, pela reflexão profunda do próprio ato de conhecer o mundo para conhecer a si próprio e, assim, poder transformá-lo, de modo que a consciência é ação, ou seja, é práxis.

De maneira que a ausência de um número maior de registros mais profundos dos estudantes não significa, portanto, a ausência total de práxis, mas pode estar ligada à dificuldade dos sujeitos de compreender que as suas ações produzem fins e conhecimentos que caracterizam a atividade teórica e as relações entre o subjetivo e o objetivo.

67 Neste capítulo, algumas dessas categorias: ferramentas metodológicas, pesquisa-ação, diálogo, trocas de saberes, experiência dos sujeitos e escuta sensível trouxeram contribuições para a identificação de algumas das formas que a práxis assume no Programa Teia/UFV.

A experiência com relação aos registros demonstrou o meu desafio e o desafio dos estudantes de captar o movimento do sem sair de cena, contudo a extensão universitária realizada no Programa se constitui em um instrumento de possibilidades de conscientização e de transformação social.

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