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A comparação das duas línguas: português e chinês

CAPÍTULO I – PRINCÍPIOS GERAIS DA

5. A comparação das duas línguas: português e chinês

francês e russo, só tem uma história de cem anos. E em relação à história do confronto entre chinês e português, tenho a lamentar a nível do tempo e da publicação de obras de contraste entre as duas línguas, ou seja, digo com muito pesar que, há apenas alguns anos, se começou a fazer análise contrastiva entre as duas línguas e, até agora, não há nenhuma obra publicada a respeito do estudo contrastivo entre as duas línguas, motivo pelo qual, para desenvolver a minha vantagem bilingue chinês-português, gostava de proceder ao trabalho de análise contrastiva entre chinês, a minha língua materna, e português, a minha primeira língua estrangeira, que são completamente diferentes.

Apesar de não ter pesquisado em profundidade a história da difusão da língua portuguesa na China, tenho, no entanto, reflectido e investigado algo dessa problemática. Na China há mais aprendentes de línguas estrangeiras, tais como inglês, francês, alemão e russo, do que de português. Esta diferença de número de aprendentes é demasiado grande, designadamente entre os aprendentes de português e os de inglês. Quando alguma língua estrangeira é mais procurada num país, certamente, aumenta o número das pessoas desse país que estudam este idioma estrangeiro ou o pesquisam através da AC. Com o aumento de estudiosos dessa língua estrangeira, é natural que surjam também o fruto do estudo e as obras sobre a AC entre as duas línguas.

O estudo amplo e completo para o inglês, o francês e o russo começou também muito cedo na China. O facto de poucos chineses contrastarem o chinês e o português resultou de haver poucos aprendentes chineses de português. Nesse contexto, sem dúvida, o fruto do estudo e as obras sobre a AC português-chinês são pouquíssimas. Isso aconteceu também em Macau.

O português e o chinês, muito diferentes, pertencem, respectivamente, à família indo-europeia e à tibetano-chinesa. A AC, um método destinado a conhecer duas línguas, por comparação, permite conhecer tanto o português como o chinês. Lu Shuxiang defendeu: “As características de algumas coisas só se revelam quando as contrastamos…. Quanto às línguas, é a mesma coisa” (1977). Através da AC entre o português e o chinês, podemos conhecer e dominar as suas respectivas características e regras, assim como aprofundar o estudo teórico destas duas línguas. Igualmente, o ensino e aprendizagem de português e

chinês como línguas estrangeiras, o ensino e aprendizagem de tradução bidireccional português-chinês, a tradução nos dois sentidos português-chinês e a elaboração de manuais e dicionários bilingues português-chinês também podem ter muito a ver com a análise contrastiva entre as duas línguas.

O estudo de confrontação entre o português e o chinês é muito deficitário, porque poucas pessoas se dedicam à AC entre as duas línguas, motivo pelo qual existem pouquíssimas obras relacionadas com ela, o que afecta directamente a elevação do nível de ensino de português ou chinês como língua estrangeira, tradução bidireccional e afecta também a elaboração de manuais e dicionários bilingues. Desta forma, é muito necessário que mais pessoas se dediquem à AC entre o português e o chinês. Foi mesmo por essa razão que concretizei a AC entre os adverbiais em português e em chinês. Espero que este trabalho possa ser útil para o ensino das duas línguas como línguas segundas, para o ensino de tradução nos dois sentidos, para a tradução bidireccional própria e para a elaboração de manuais e dicionários bilingues.

Conclusões

Ao longo da aprendizagem de língua estrangeira, os alunos costumam cometer erros por causa da interferência da sua língua materna. A interferência da língua materna para a aprendizagem de língua estrangeira regista-se nos aspectos da fonética, da morfologia, da sintaxe, do texto (textologia) bem como os outros campos. Isso leva os estudiosos a pensar que precisamos de pesquisar ao mesmo tempo duas ou mais línguas através da análise contrastiva no sentido de encontrar as relações existentes entre duas ou mais línguas, procurar as semelhanças e diferenças entre elas, detectar por que razões os alunos costumam cometer erros quando aprendem alguma língua estrangeira ou quais as interferências existentes no decurso da aprendizagem de língua estrangeira. Os estudiosos necessitam de pressupor os casos de interferência da língua materna que só se podem fundamentar nas diferenças entre duas línguas, estas diferenças somente se podem detectar quando se contrastam as duas línguas. As diferenças detectadas são a chave para solucionar os problemas da interferência surgidos ao longo da aprendizagem de língua estrangeira. Assim, podemos dizer que o estudo contrastivo entre duas línguas visa principalmente servir o ensino e a aprendizagem de língua estrangeira.

A linguística contrastiva não é simplesmente comparar duas ou mais línguas, contudo consiste em confrontar duas ou mais línguas para as contrastar no intuito de encontrar os pontos similares e os diferentes entre elas. A linguística contrastiva toma como ponto principal detectar as diferenças entre duas ou mais línguas apesar de ao mesmo tempo procurar as semelhanças e as diferenças entre elas. Isso não significa que não precisamos de detectar as semelhanças entre elas ou as podemos negligenciar, visto que, só as coisas que pertencem à mesma categoria (ou elas ficam no mesmo nível de contraste) e possuem alguns pontos semelhantes (ou elas possuem a equivalência) podem ter um

tertium comparationis. Baseando-se em um tecto comum: um tertium comparationis, as

coisas somente podem ser contrastadas.

Para além de levarmos a cabo os seis passos destinados à pesquisa contrastiva entre duas ou mais línguas, devemos prestar mais atenção à descrição contrastiva. Para aprofundar uma pesquisa contrastiva entre duas ou mais línguas, a descrição contrastiva a desenvolver envolve normalmente os seguintes domínios: a circunstância de comunicação (pragmática), as estruturas da língua, as regras da língua, a função gramatical e textual e o envolvimento funcional.

A linguística contrastiva, linguística aplicada, tem muito a ver não só com a aprendizagem e o ensino de língua estrangeira mas também com o ensino de tradução bidireccional, a preparação de materiais didáticos de língua estrangeira, a verificação da aprendizagem de língua estrangeira, a tradução bidireccional própria e a elaboração de dicionários bilingues.

CAPÍTULO II

O CONCEITO DE

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