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Capítulo III Dinâmicas de aprendizagem

III. 2. A comunicação como objectivo

2.1. A competência comunicativa

O Marco Común Europeo de Referencia para las Lenguas define «competência comunicativa em língua» de uma forma geral: «Las competencias comunicativas son las que posibilitan a una persona actuar utilizando específicamente medios lingüísticos» (MCER, 2003:9) e depois refere-se aos vários componentes que a constituem: o linguístico, o sociolinguístico e o pragmático, acrescentando que cada um deles compreende o conhecimento declarativo, as capacidades e a competência de realização. As «competências linguísticas» dizem respeito aos conhecimentos e às capacidades lexicais, fonológicas e sintácticas e a outras dimensões da língua como sistema; as

33 «competências sociolinguísticas» referem-se às condições socioculturais do uso da língua; e as «competências pragmáticas» prendem-se com o uso funcional dos recursos linguísticos (produção de funções linguísticas e actos de fala).

De acordo com o Marco común (ibid.: 106) a «competência linguística» foi sempre difícil de descrever em qualquer sistema linguístico devido à sua complexidade e constante evolução. Contudo, este documento apresenta uma descrição geral para os diferentes níveis de referência e subdivide a competência linguística em lexical, gramatical, semântica, fonológica, ortográfica e ortoépica.

A «competência sociolinguística» corresponde à sensibilidade das convenções da língua e o controlo das mesmas, que estão determinadas pelas características do contexto específico em que se utiliza a língua, através dos marcadores linguísticos de relações sociais: as normas de cortesia, as expressões de sabedoria popular, as diferenças de registo, dialecto e pronúncia (ibid.: 116). Sendo a língua estrangeira um veículo de comunicação entre indivíduos de sociedades diferentes, é importante trabalhar esta competência e desenvolvê-la procurando criar situações de comunicação autêntica ou o mais real possível, procurando também incentivar ou provocar esse contacto com falantes nativos através de várias actividades comunicativas quer escritas, quer orais.

A capacidade de usar a língua prende-se com o «conhecimento pragmático» que o falante tem. O Marco común considera que competência discursiva (capacidade de ordenar orações em sequências e produzir fragmentos coerentes de língua) e a competência funcional (utilizadas para realizar funções comunicativas na interacção entre falantes) fazem parte desse conhecimento pragmático (ibid.: 120).

O conceito de «competência comunicativa» foi inicialmente desenvolvido pelo linguista e antropólogo Dell Hymes em 1966, na continuidade do conceito chomskiano de competência (linguística ou gramatical), à qual Hymes acrescenta o conhecimento das normas sociais que regem a comunicação linguística em cada comunidade. Isto é, postulava-se que o estudante de uma segunda língua devia adquirir não só um controlo da gramática básica das orações, mas também todas as habilidades comunicativas de um falante nativo para saber seleccionar de entre as formas linguísticas possíveis as mais adequadas a cada situação concreta. Hymes refere-se à importância das regras de uso da língua, pois sem elas as regras gramaticais seriam inúteis (Hymes, 1971:35), ou seja, refere-se à existência de uma competência que depende tanto do conhecimento como do uso. Tal como expõe Llobera, Hymes tentava definir os diferentes factores da

34 comunicação linguística desenvolvendo o conceito de Roman Jakobson das funções da língua (publicado em 1953 e 1960) e, por isso, expõe a forma da mensagem, o conteúdo, o âmbito e a situação dos emissores e receptores da mensagem, a finalidade da mensagem e o resultado final, a chave que se ocupa do tom e da maneira como a mensagem é formulada, os canais usados, as variedades linguísticas usadas, etc. (Llobera, 2000:12).

Mais tarde, nos anos 80, Michael Canale e Swain (1980) acentuaram a aplicabilidade da «competência comunicativa» no ensino e na avaliação de uma segunda língua, incluíram a «competência linguística» dentro da comunicativa, argumentando que as regras gramaticais são insignificantes sem as regras de uso. Canale divide a «competência comunicativa» em quatro competências subjacentes: a «competência gramatical» (ou seja, aquela que se demonstra através da memorização de regras explícitas), a «competência sociolinguística» (que diz respeito às regras socioculturais: trata tanto da adequação do significado como da forma do discurso em relação ao contexto descrito como do estatuto dos participantes, finalidade da interacção e normas ou convenções da interacção), a «competência estratégica» e a «competência discursiva» (apresentada de forma muito simples, está só articulada à volta do binómio coerência-coesão) (Canale, 1983:66-71).

Para além destes aspectos da «competência comunicativa», Canale considera que a docência tem de estar baseada em: necessidades comunicativas dos alunos; interacções comunicativas significativas e realistas; habilidades que já tem o falante da sua primeira língua e a interdisciplinaridade. Canale acrescenta que a competência comunicativa interactua com outros sistemas de conhecimento e habilidades, como por exemplo o conhecimento do mundo e outros factores como a personalidade.

Do ponto de vista dos alunos é interessante observarmos as técnicas que usam para solucionar problemas que surgem quando querem comunicar um significado ou uma mensagem e carecem do conhecimento linguístico necessário para o fazerem, a chamada «competência estratégica» de que falava Canale. Em 1977, Tarone (citado por Martínez, 2007:159) distinguiu cinco grupos de estratégias: a elisão (quando o aprendente evita falar de um determinado tema ou abandona a mensagem já iniciada), a paráfrase (quando utiliza uma expressão alternativa, mas aceitável na L2, uma circunlocução), a transferência consciente (em forma de tradução literal ou alternância de códigos), o pedido de ajuda (pergunta ao interlocutor ou a um dicionário) e a mímica (usa gestos para exprimir um significado). Canale defende que os alunos devem ser

35 estimulados a usar estas estratégias (em vez de permanecerem calados porque não sabem dizer algo) e devem-lhes ser dadas oportunidades para o fazerem (Canale, 1983: 70), pois uma vez mais importa trabalhar a fluência e a motivação, através do incentivo da competência estratégica que tem uma função compensatória quando a competência linguística do falante é inadequada e permite-lhe, mesmo assim, interagir.

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