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Nascida da mobilização da comunidade de um bairro localizado no município de Belo Horizonte, na Região do Barreiro – caracterizada por ser uma região industrial –, a EMAH foi construída com recursos do Orçamento Participativo. Sua história se insere na luta popular para que o direito à educação básica deixasse de ser apenas letra morta em documentos legais como a Constituição Federal, de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990.

A reivindicação dessa comunidade por uma escola pública iniciou-se em 1993, a partir da constatação de que havia crianças em idade escolar que ainda não tinham conseguido a efetiva garantia do direito à educação:

Após uma minuciosa pesquisa realizada pelas lideranças comunitárias, a comunidade percebeu que havia um número significativo de crianças em idade escolar que não ingressaram na rede pública de ensino, pelo motivo da inexistência de uma escola que atendesse à demanda local. (EMAH, documento 1, 2002, p.1)

No primeiro semestre de 1997, as atividades da EMAH aconteceram em um prédio emprestado por outra unidade escolar da RME/BH. Quando a sua construção foi finalizada, em setembro do mesmo ano, as atividades da Escola passaram a ocorrer em prédio próprio, após vários anos de espera por parte da comunidade.

Quando ainda funcionava em prédio emprestado, sua direção foi entregue a duas pessoas indicadas pela SMED/BH:

A Diretora e a vice-diretora foram convidadas para gerir os primeiros meses dessa Escola. Até que a sede ficasse pronta, até que houvesse uma eleição pela comunidade, elas usaram o espaço da Escola Maria da Penha, de manhã. (Depoimento de docente do 1º ciclo)

Logo que o prédio próprio ficou pronto, a diretora e a vice-diretora, que já estavam no cargo, tiveram os seus mandatos referendados pela comunidade, apesar de outros interessados em dirigir a Escola terem apresentado seus projetos de trabalho. Vale destacar que a associação comunitária participou ativamente

desse processo. Segundo Mazoni (2003), as candidatas escolhidas apresentaram um projeto pedagógico que se mostrava inovador, indo ao encontro dos interesses dos representantes da comunidade.

O nome da Escola, escolhido entre três opções apresentadas, também expressa o envolvimento da comunidade, que “iniciou um processo de discussão para a escolha do nome da escola que refletisse a luta dos moradores” (EMAH, documento 1, 2002, p.1).

Em 1997, a EMAH atendeu 105 alunos em quatro turmas de 1º ciclo, os quais se deslocavam até suas dependências em ônibus cedidos pela PBH. No ano seguinte, a Escola passou a atender, no primeiro turno, apenas o 2º ciclo e, no segundo turno, o 1º ciclo. Somente em 1999 ela iniciou o atendimento aos alunos de 3º ciclo do Ensino Fundamental, o que ocorria, nesse momento, apenas no primeiro turno. Entretanto, no mesmo ano, a partir de uma demanda da comunidade, decidiu- se em assembleia que a Escola passaria a atender alunos dos três ciclos do Ensino Fundamental nos primeiro e segundo turnos.

Quanto à primeira equipe de professores, sua escolha foi definida pela diretora, que convidou pessoas que apresentavam, assim como ela, concepções e práticas educativas em sintonia com os princípios da Escola Plural. Entretanto, foi incorporado a essa equipe um grupo de docentes que ficou excedente em uma escola da região. Em entrevista, uma das professoras que vivenciou esse processo afirma que o fato de já trabalharem em sintonia com o Programa Escola Plural fez com que ela e algumas de suas colegas, oriundas de outra escola da RME/BH, fossem imediatamente acolhidas na EMAH. A Escola demonstrava, pois, desde o início de seu funcionamento, um posicionamento favorável ao Programa:

Estava começando a Escola Plural e aqui foi fundado dentro da linha da Escola Plural. Realmente, a diretora fazia entrevista mesmo com os professores no início. Se a pessoa não comungasse dos princípios da Escola Plural, não ficava não. Mas eu acho também que isso de não entrevistar os professores da Escola Y, é que lá nós já trabalhávamos com projetos. Eu me lembro que essa época foi assim, surgiram projetos maravilhosos na Escola Y. Os professores que participavam daquela época lembram desses projetos até hoje. Foi uma época muito boa, que teve um resultado, assim, muito bom. (Depoimento de docente do 1º ciclo)

A partir de 1998, no turno da noite, iniciou-se na Escola o desenvolvimento do Projeto de Educação de Trabalhadores – PET20, atendendo trabalhadores e trabalhadoras da região, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Esse Projeto já acontecia desde 1995 na Escola Sindical 7 de Outubro. Percebendo-se demanda para o diurno, em 2001 iniciaram-se turmas pela manhã e à tarde. A partir de 2002, iniciou-se o que veio a ser denominado PET Itinerante, com a formação de turmas em outros espaços, além dos muros da Escola.

Já a implementação da Educação Infantil se deu a partir de 2002, com o atendimento de duas turmas de crianças de 5 anos. A partir de 2003, com o objetivo de acatar uma demanda da comunidade, passaram a ser atendidas também crianças de 4 anos. Para essa ampliação foi necessário que a Escola reestruturasse mobiliários, banheiros, bebedouros, playground, brinquedos e materiais pedagógicos em geral. Inicialmente, as aulas da Educação Infantil eram ministradas por professores do Ensino Fundamental (EMAH, documento 4, 2006, p. 7). Com a criação, pela PBH, do cargo de Educador Infantil, foram lotadas na Escola, em 2005, três educadoras para atender duas turmas à tarde.

Ao longo dos anos, os docentes da EMAH foram experienciando sua construção em consonância com os princípios da Escola Plural. A seguir, apresento aspectos da dimensão político-pedagógica da EMAH, destacando um documento que, a meu ver, expressa a sua filosofia: o Projeto de Intervenção/Ação Pedagógica (PAP).

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Para maiores informações sobre esse Projeto, seu histórico e a forma de organização do trabalho docente ver: CUNHA, Charles M. O Trabalho Docente em Equipe: Tramas e processos vivenciados e significados atribuídos. A experiência do projeto de educação de trabalhadores – PET. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.

4.2 DIMENSÃO POLÍTICO-PEDAGÓGICA DA ESCOLA MUNICIPAL AMPLO