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A concepção de sustentabilidade disseminada no contexto de uma sociedade global

RESPONSÁVEL 1 PA Projeto de Assentamento Federal INCRA/INSTITUTO DE

3 O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA, CONCEPÇÕES DE SUSTENTABILIDADE E OS IMPACTOS SOBRE A

3.4 A concepção de sustentabilidade disseminada no contexto de uma sociedade global

Para compreender as formas de resistência e luta do campesinato, em qualquer que seja a esfera (global, nacional, regional, estadual ou municipal), faz-se necessário entender o contexto da sociedade/mundo em sua plena complexidade, em diversos níveis: econômico, social, cultural e ambiental, sedimentados no modo de produção capitalista que pela sua própria essência de produção e reprodução, procura homogeneizar o modo de vida, o consumo, a cultura, as relações de trabalho e, as diversas formas de acumulação e exploração das mais variadas categorias sociais que vivem do trabalho, através do trabalho. (THOMAZ JÚNIOR, 2006).

A história e/ou o processo evolutivo da humanidade é marcado por contradições econômicas, sociais, políticas ou territoriais. Momentos históricos sempre conflitivos. Mas, há um consenso nos estudos voltados para o entendimento e compreensão da “nova sociedade” ou do “mundo” que emerge a partir dos séculos XVII, XVIII e XIX, especificamente, a Europa Ocidental: a edificação de uma sociedade moderna; a formação de uma sociedade intrínseca às relações capitalistas de produção, a produção do conhecimento científico como instrumento de transformação social e econômica e a produção industrial (intensificada pelas duas revoluções industriais) como a principal atividade para o desenvolvimento econômico e produção de riqueza.

Neste sentido, a natureza inserida nesta “nova” sociedade transforma-se em mercadoria. Impulsiona-se a exploração dos recursos naturais para garantir a demanda do parque fabril capitalista, a mundialização da mais-valia e profundas transformações no mundo do trabalho, causando fortes impactos nos movimentos populares de resistência a esta ordem econômica, sejam movimentos sociais operários ou movimentos sociais camponeses (THOMAZ JÚNIOR, 2006).

Essa sociedade evoluiu nos últimos três séculos, marcada por rápidas e profundas transformações decorrentes de crises econômicas, conflitos políticos e de guerras entre nações (Primeira e Segunda Guerras Mundiais) e conflitos em regiões urbanas (engendrados por operários e manifestações populares) e os espaços agrários (impulsionados por diversas categorias de camponeses).

O processo de urbanização desse novo tipo de sociedade em direção a outros espaços mundiais (parte da Ásia, da África, Oceania e continente americano), impulsionado pela globalização do capital, desencadeia uma nova ordem socioeconômica e faz desaparecer (através de processos históricos econômicos e conflitivos) uma mobilidade socioeconômica espacial, construída anteriormente.

Deste modo, as sucessivas revoluções industriais ou “momentos técnicos”, provocaram uma maior dinâmica no ritmo evolutivo da sociedade mundial (embora com diferenciações regionais e locais), contribuindo para um mundo cada vez mais acelerado, a começar do século XX, em especial, quando se analisa esse processo de modernização a partir da segunda metade dos anos 1950. Acelerou o processo de uma sociedade global inserida em contradições socioeconômicas e ambientais.

Santos (2005) explica que o meio técnico-cientifico-informacional é caracterizado pelo conhecimento científico, ou seja, configura a presença da ciência

e da técnica, envolvido no processo de modelação e remodelação dos territórios fundamentais para a consolidação dos processos produtivos hegemônicos.

Esse processo contribuiu para acelerar a globalização da economia. Marcou o período da mundialização das empresas e da internacionalização da produção. O território é reestruturado a partir da inserção das técnicas, impulsiona os fluxos, facilitando, desta forma, a circulação. Neste território tecnificado aumenta a capacidade e a velocidade da reprodução do capital (SANTOS, 1997; 2005).

A tecnificação dos territórios agrícolas no Brasil está associada ao advento da Revolução Verde e ao processo de tecnificação do território brasileiro a partir da segunda metade do século XX. Assim, ocorre a interligação das estradas de ferro, das estradas de rodagem federais e estaduais, contribuindo para o processo de integração territorial do País.

A condição técnica constitui-se como fundamental à remodelagem do território. O conhecimento científico ligado às áreas da biotecnologia e dos sistemas de engenharia vão proporcionar as condições necessárias para o desenvolvimento de uma agricultura moderna, sustentada com o uso de equipamentos técnicos e insumos. Esse processo foi historicamente mais intenso nas regiões Sudeste e Sul e, mais recentemente na região Centro-Oeste. Elias (2006) sintetiza que nessas regiões concentram-se os principais territórios agrícolas, os quais passaram por transformações nos últimos quarenta anos e que possuem e desenvolvem arranjos produtivos concentrados por empresas nacionais e multinacionais, controladoras dos sistemas agroindustriais.

Os desequilíbrios socioeconômicos estão marcados pelas disparidades econômicas entre países, mercados econômicos ou em uma escala social, entre estados, municípios e cidades em nível global. Em relação às questões sociais, as desigualdades são históricas, e caracterizadas pela fome, precárias condições de moradia, saúde e saneamento básico e, principalmente, pelo aumento do desemprego em esfera global.

Essas desigualdades econômicas e sociais intensificaram-se a partir do advento do mundo moderno e do desenvolvimento do processo de globalização da economia, impulsionadas pelas relações de produção capitalista. Essas contradições também foram inerentes ao modelo soviético, baseado na economia estatizada, planificada e pela ideologia do Estado. Kurz (1997, p. 91), explicando o advento do mundo moderno e suas contradições, cita:

Na história do mundo moderno houve sempre o entrechoque mais ou menos hostil de dois ou mais princípios: Mercado e Estado, economia e politica, capitalismo e socialismo. A luta do homo economicus e do homo politicus renovou-se, constantemente, a cada surto de modernização, a cada crise os “individualistas” e os “coletivistas”, os livres empresários e os planejadores da economia, os gerentes de empresas e os burocratas estatais, os defensores do liberalismo econômico e os intervencionistas, os adeptos do livre comércio e os protecionistas enfrentam-se em combates.

Os impactos ambientais manifestaram-se em todas as escalas: mudanças climáticas em nível global, o comprometimento da camada de ozônio que é vital para a vida na Terra, a poluição das águas superficiais, deteriorização das condições de fertilidade do solo provocada pelo desmatamento e pela utilização de agrotóxicos, desmatamento da cobertura vegetal original pela ação da indústria madeireira e expansão da bovinocultura e soja. Ocorre a substituição da cobertura vegetal original por vegetais do tipo eucalipto para fins industriais, etc.

Os impactos ambientais intensificaram-se a partir dos “momentos técnicos”, da consolidação das relações capitalistas de produção e do próprio processo de globalização da economia mundial, do modelo de desenvolvimento engendrado pela sociedade e associado a três condições básicas:

A primeira condição dos impactos ambientais dar-se-á por conta da exploração dos meios naturais. A água, o solo, a cobertura vegetal original e os minerais devem ser explorados para abastecer as indústrias e fábricas, os quais serão transformados em produtos para satisfazer as “necessidades” da sociedade de consumo.

A segunda, os impactos ambientais estão associados às práticas da agricultura moderna, tecnificada e mundializada. E a terceira, a agricultura desenvolve-se a partir da associação com a grande propriedade, o latifúndio e as grandes corporações nacionais e internacionais, apoiadas pelo Estado e que se constituem nas forças que impulsionam a exploração e espoliação da natureza (PORTO- GONÇALVES; ALENTEJANO, 2010).

Camponeses e povos indígenas que vivem do trabalho, através do trabalho são destituídos dos meios naturais, agora, apropriados pelo capital. A pobreza, o desemprego e a violência existentes no campo e que envolvem esses povos estão associados a esse processo.

A economia capitalista desenvolveu-se como um sistema dissociado da natureza. Assim, as práticas de domínio da natureza através da apropriação dos

meios naturais pelo capital, negam a dimensão ecológica. Portanto, a economia da sustentabilidade caracteriza-se pela noção de crescimento econômico associado à preservação do meio ambiente e pela capacidade de sustentação dos ecossistemas. Cavalcanti (2009. p. 18), explica que essa concepção “necessita de uma análise multidimensional, multidisciplinar, que dê conta, no processo econômico, das referências físico-biológicas, geológicas, químicas – dentro do que se encaixe as estruturas da economia”.

Dentre os problemas engendrados por esta sociedade capitalista, os de maiores complexidades de caráter estrutural referem-se ao desemprego e ao crescimento da pobreza. Envolvem, de forma crescente, os países considerados desenvolvidos e ricos, emergentes e subdesenvolvidos. O maior crescimento da pobreza em nível global está associado às transformações estruturais ocorridas durante a modernização conservadora no mundo do trabalho.

3.5 As estratégias para a reprodução do capital e as discussões para uma