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A condição de produção dada no grupo controle

2 ARTICULAÇÕES TEÓRICAS SOBRE OS GÊNEROS DE TEXTO COMO OBJETO DE

3.5 Segunda fase da pesquisa

3.5.3 Procedimentos adotados para análise dos textos

3.5.3.1 A condição de produção dada no grupo controle

principalmente, no tocante à produção escrita, se restringem à prática da “redação”, na qual o agente não mobiliza, de acordo com Bronckart (2007), algumas de suas representações sobre os mundos (físico, social e subjetivo) que são requeridas, por um lado, como contexto da produção textual, ou seja, a situação de interação ou de comunicação na qual o agente-produtor julga se encontrar e que irá exercer um controle pragmático ou ilocucional sobre alguns aspectos da organização do texto; e, por outro, como conteúdo temático ou referente, ou seja, os temas que serão verbalizados no texto e que irão influenciar os aspectos locucionais ou declarativos da organização textual.

Além do mais, a prática da redação, não considera, segundo Schneuwly (2004, p. 26), que

os gêneros têm uma certa estabilidade: eles definem o que é dizível (e, inversamente: o que deve ser dito define a escolha de um gênero); eles têm uma composição: tipo de estruturação e acabamento e tipo de relação com outros participantes da troca verbal (...) eles têm uma certa estrutura definida por sua função; eles são caracterizados por aquilo que chamamos (...) um plano comunicacional. (...) eles são caracterizados por um estilo, que deve ser considerado não como um efeito da individualidade do locutor, mas como elemento de um gênero.

Como já relatamos, as aulas destinadas à produção textual no GC aconteceram em dois encontros: no primeiro a professora titular, apresentou em uma transparência, algumas orientações sobre como os alunos deveriam agir ao redigirem um texto narrativo, em seguida ela distribuiu para cada um a cópia da proposta de produção do texto, contendo as linhas onde o texto deveria ser escrito.

Figura 2 – Proposta de redação (1) – GC

Escreva um Relato Pessoal no qual você expõe um acontecimento que nunca esqueceu.

No segundo dia, a professora iniciou a aula35 apresentando alguns comentários sobre os textos escritos pelos alunos da outra sala e em seguida distribuiu para cada um a cópia da proposta de produção de um texto narrativo, contendo as linhas onde o texto deveria ser escrito.

Figura 3 – Proposta de redação (2) – GC

Verificamos em ambas as propostas da professora P, a ausência de um projeto coletivo de escrita para que os alunos compreendessem de primeiro a situação de comunicação na qual deveriam agir e que lhes dessem as indicações que respondessem às seguintes questões tais como propõem Schneuwly e Dolz (2004, p. 99-100): (i) “qual é o gênero que será abordado”, esclarecendo as representações dos alunos, pedindo-lhes que lessem ou escutassem um exemplo do gênero visado; (ii) “a quem se dirige a produção”, os múltiplos destinatários possíveis (pais, outras turmas da escola, turmas de outras escolas, um grupo de aluno da turma, pessoas de bairro); (iii) “que forma assumirá a produção” (gravação de áudio e vídeo, folheto, carta a ser enviada, representação em palco ou em sala de aula); (iv) “quem participará da produção” (todos os alunos, alguns alunos da turma, todos juntos, uns após os outros, individualmente ou em grupos, etc.).

Para Schneuwly e Dolz (2004. p. 101), quando a situação de comunicação é previamente bem definida, todos os alunos, inclusive os mais fracos, são capazes de produzir um texto que responda adequadamente à situação dada, mesmo que não apresentem de imediato todas as características do gênero visado.

Mas quando as propostas dadas são atividades de produção escrita limitadas “à elaboração de um texto escrito sobre um tema proposto (ou imposto), em que o aluno deveria pôr em prática as regras gramaticais aprendidas num momento anterior” conforme diz (SUASSUNA, 2007. p. 41), isso não acontece.

As práticas de ensino de redação, ressalta Suassuna, “deveriam dar conta das condições concretas de produção do texto escrito (...) é preciso que ele seja o dizer de alguém para outro alguém; que tenha finalidades sociais definidas; que represente a interpretação que seu autor faz do mundo e da vida; que se justifique como prática histórico-social” Essas são condições fundamentais

Crianças assassinadas, abandonadas, torturadas – as notícias que têm chocado o Brasil lembram que o lado monstruoso do homem pode até ser contido, mas jamais será definitivamente domado.

Jerônimo Teixeira

Abordando o tema do texto acima indicado, elabore uma redação em que relate uma violência sofrida.

para as atividades de produção escrita concentradas no processo (ato de redigir) e não no produto (texto) que visam apenas à correção ortográfica e gramatical em detrimento aos demais aspectos textuais (SUASSUNA, 2007. p. 45) conforme as correções da professora P, da qual selecionamos um exemplar de texto transcritos a seguir.

Texto (1) - GC

Prejudicado nos estudos36

1. Quando eu tinha 13 anos, estudava (n)a 6ª série no inicio tinha nota(s) boa(s), mas depois comecei a fumar, beber e usar algumas drogas. A minha cabeça nunca foi a mesma. Perdi a concentração nas aulas e por trabalhar o tempo que tinha era ocupado por diversão com colegas nas ruas.

2. Então tirava notas baixas e passei de série na marra, problema que eu não tinha até a 5ª série era sempre elogiado, com notas boas, principalmente, em matemática e inglês. Na 7ª série desistir 2 vezes em 2 anos, com problemas também na família, eu queria subir sempre nos estudos mas não achava solução.

3. Terminei o ensino fundamental em 1999, conheci a mulher (mãe) de meus filhos e tudo melhorou.

4. Hoje mim sinto culpado porque acho que prejudiquei um pouco o meu céribro (cérebro) por loucuras na adolescência.

5. Se voltasse atráz seguiria os conselhos da minha família e nunca esperimentária (esperiemntaria) drogas.

(D.)

Redação boa, escolheu bem o assunto.

Faltou alguns acentos, reescreva a redação fazendo as correções devidas

Você poderia ter aumentado o relato enriquecendo com outras experiências vividas.

36

Verificamos no exemplo (1) acima, não só nesse, mas em quase todos os textos dos alunos do GC, a presença de uma sucessão de coisas ou de acontecimentos vividos, mas que não basta, para que possamos configurá-los como relatos de vida, já que sua organização se manteve somente na reprodução cronológica dos acontecimentos (LAINÉ, 1998). Verificamos também, a presença reduzidíssima de descrições, explicações e avaliações que fazem parte de toda narração e contribuem para construção de seu sentido (BERTAUX, 1997). Essas ocorrências se justificam, devido, principalmente, à ausência na proposta (1) dada pela professora P, dos parâmetros da situação de comunicação para que os alunos pudessem exprimir com precisão os personagens, descrever as razões de suas atitudes, os contextos das ações e interações, para que ocorresse uma ação discursiva própria para este gênero de texto.