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4.2 O PROJOVEM NA CIDADE DE SÃO LUÍS: alguns impactos do

4.2.4 A condição Juvenil dos Egressos do ProJovem em São Luís:

A condição juvenil é determinada por diversas categorias sociais presentes no meio social em que se está inserido e essa relação dá à condição juvenil características únicas. Como afirma Juarez Dayrell (2007, p. 1106), a condição juvenil refere-se ao modo como uma sociedade constitui e atribui “significado a esse momento do ciclo da vida, no contexto de uma dimensão histórico-geracional, mas também [...] o modo como tal condição é vivida a partir dos diversos recortes referidos às diferenças sociais”. Esses diversos recortes dão à juventude possibilidades de vivenciar de modo plural a condição juvenil. Norbet Elias (1994, p.25) reforça essa ideia ao afirmar que “A relação entre o indivíduo e a sociedade é uma coisa singular”.

Paulo Carrano (2007) nos diz que as identidades juvenis podem ser compreendidas a partir de três recortes: o espaço, que se desdobra em duas dimensões: “o espaço dado e o território como espaço construído”; a alteridade, que se configura como “a necessidade do outro para a constituição do ‘nós’ do grupo” e o terceiro recorte que se refere à necessidade de a identidade se mostrar para se manter (p. 62/63). Portanto, é a partir do reconhecimento dessa identidade que se buscam novas políticas de juventude pautadas na condição juvenil do jovens ludovicenses.

O número de inscritos no Programa foi de 12.540 jovens, mas só foi matriculados um contingente de 6.860. Segundo Melo e Branco (2009, p.67), entre os aspectos apontados pela supervisora que impediram a matrícula de mais jovens

está “a falta de documentação [..] além do não atendimento de requisitos básicos”. Entre esses requisitos básicos estava a faixa etária que o Programa abrangia.

Ainda com relação à faixa etária, ao fazerem uma pesquisa sobre o perfil dos jovens egressos do ProJovem, Melo e Branco (2009) apontam que cerca de 38% dos entrevistados tinham idade entre 24 e 26 anos, ou seja, a maior parte dos jovens entraram no Programa com a idade limite para dele participar. Diante dessa realidade, as autoras sugerem a “necessidade de programas que atinjam jovens até 30 anos” (p.69). Essa sugestão nos remete à discussão sobre a “Moratória Social” que se configura como a prolongação do tempo do jovem como estudante (CARRANO, 2007; DAYRELL, 2007; SANTOS, 2009). Esse fenômeno vem crescendo na sociedade contemporânea a partir do momento em que as transformações sociais deram à juventude a necessidade de um maior tempo de preparação para a vida adulta. Mas, em se tratando de jovens das camadas populares, o que ocorre, muitas vezes, é a diminuição do tempo para viver a moratória social, pois muitos têm que trabalhar para manter o seu sustento. Assim, o fato de ter que trabalhar acaba, algumas vezes, influenciando de forma negativa na trajetória de escolarização desses jovens, como nos diz Dayrell (2007, p. 1109):

Ao contrário, para grande parcela de jovens, a condição juvenil só é vivenciada porque trabalham, garantindo o mínimo de recursos para o lazer, o namoro ou o consumo. Mas isso não significa, necessariamente, o abandono da escola, apesar de influenciar no seu percurso escolar.

Sabemos que o ProJovem é um programa direcionado para jovens que possuem baixa escolaridade. Segundo Nascimento e Queiroz (2009), os jovens que integram o ProJovem geralmente não possuem boas lembranças da vida escolar, mencionam: “ressalta-se que em suas memórias e apreciações sobre a escola fundamental a que tiveram acesso, estas são constantemente associadas a lembrança de um fracasso” (p.164). Considerando o fato de concluírem o ensino fundamental no período de 12 meses, um estudo realizado com 20 egressos de São Luís assinala que a finalidade de conclusão do ensino fundamental alcançou níveis significativos. A conclusão desse nível de ensino foi o objetivo principal de 55% dos egressos e 65% deram continuidade aos estudos cursando o ensino médio (NASCIMENTO; ARAÚJO, 2009, P.170). Com esses dados podemos perceber que muitos jovens ludovicenses que abandonaram os estudos só precisam de uma oportunidade, como a dada pelo ProJovem, para prosseguir os estudos.

Já com relação à qualificação profissional ofertada no ProJovem Original em São Luís, foram encontrados alguns pontos que dificultaram o seu sucesso. Numa amostra de 20 egressos, só a metade conseguiu cursar de forma integral o que corresponde às aulas práticas e teóricas. Os outros 50% não finalizaram o curso por falta de aulas práticas. Dos egressos que concluíram o curso, 40% estão trabalhando na área da sua formação, 20% trabalharam na área, mas estão desempregados, 10% trabalham em áreas diferentes (MORAES; MARTINS, 2009). Segundo a pesquisa, quando perguntados sobre os motivos da não atuação na área, a resposta foi a falta de oportunidade no mercado de trabalho, o que nos mostra que a juventude ludovicense possui potencialidades a serem exploradas.

É interessante frisar que nessa pesquisa foram identificadas importantes questões sobre a inserção do jovem na sociedade, tendo sido constatados como pontos positivos: em primeiro lugar, a realização pessoal (50%); em seguida, a continuação dos estudos e a oportunidade em conseguir um emprego (20%) e, por fim, a ampliação de conhecimentos (10%). Esses resultados nos mostram o quanto nossos jovens precisam de políticas de inclusão social, pois, a partir do momento em que se lhe é proporcionada educação, abrem-se portas para uma nova vida que amplia as potencialidades de cada um.

Portanto, devemos pensar em um currículo que possibilite o reconhecimento de cada um como sujeito concreto, detentor de singularidades e potencialidades que merecem ser avivadas, atentando para o fato de que o currículo do ProJovem deve ser desenvolvido a partir das necessidades reais daqueles para quem é direcionado. Cantanhêde (2011) faz uma crítica à formulação desse currículo por não perceber nele a participação dos professores. Então, afirma que “a participação dos educadores do ProJovem [...] se daria somente na operacionalização do currículo já inscrito nos guias” (p.93) Defendemos, portanto, que os professores, por serem pessoas mais próximas dos alunos, e também, estes necessitam ser ouvidos para melhor compor as estratégias de ensino-aprendizagem. Outra finalidade do Programa é a ação comunitária que visa à participação ativa dos jovens egressos em suas comunidades. Com as atividades que envolvem essa finalidade os jovens passam a participar de palestras e discussões sobre os principais problemas de ordem social, econômica e cultural do local onde vivem. Ao serem questionados sobre a sua percepção em relação ao significado de Ação Comunitária, os jovens ludovicenses apontaram uma dupla

perspectiva: como um processo de reivindicação social e prestação de ajuda humanitária. Dessa maneira, verificamos que alguns jovens possuem uma “conscientização prévia acerca da necessidade de reivindicação dos direitos da comunidade” (SANTOS, 2011, p.178).

Ainda com relação a esse tema, 84% dos jovens egressos afirmaram já ter participado, visitando instituições como: “creches, asilos, casas de apoio a portadores de AIDS, museus, feiras de artesanatos e outros” (p.179). Outro aspecto interessante é o questionamento quanto à conscientização sobre a prática dessas ações em suas comunidades. Nesse enfoque, 96% dos egressos afirmaram ter conhecimento dos problemas das suas comunidades e 46% afirmaram sua participação em mobilizações nelas realizadas. Contudo, Santos (2011) conclui que a maior parte dos jovens entrevistados possuem a capacidade de construir “seus próprios caminhos e desenvolverem projetos pessoais e coletivos para o seu futuro” (p.191).

Com essa breve abordagem, podemos constatar que os jovens ludovicenses precisam com urgência de políticas que busquem a sua inserção na sociedade. A esse respeito, o ProJovem tem em sua dinâmica de formação integral a possibilidade de compor novas e positivas perspectivas de vida. Ao pesquisamos sobre esse Programa, não afirmamos o seu pleno sucesso, mas o reconhecemos como uma oportunidade que, se for aproveitada, pode dar aos seus egressos uma nova chance de prosseguir o caminho.