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5. O DIREITO A CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

5.2 A CONSOLIDAÇÃO DE DIREITOS

A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 227 reconhece que é da família, da sociedade e do Estado a responsabilidade por assegurar direitos universais à criança e ao adolescente. A regulamentação deste artigo deu origem ao Estatuto da Criança e a do Adolescente (Lei 8069/90) que propõe uma mudança na forma de intervenção estatal prevendo programas para apoiar a família na garantia do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária, como também dos demais direitos fundamentais.

A medida extrema de suspensão do poder familiar, conforme os artigos 22 e 24 do ECA deve ser aplicada apenas nos casos em que os pais ou responsáveis deixarem de cumprir seus deveres de sustento e de proteção aos filhos. A medida de suspensão do poder familiar também deve ser aplicada em casos de crianças e adolescentes que forem submetidos a abusos, maus tratos ou devido ao descumprimento de determinações judiciais. Segundo o artigo 19 do ECA:

Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em uma família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. (BRASIL, 1990, p. 40).

As famílias, como se explicou anteriormente são reconhecidamente fundamentais e têm prioridade na proteção das crianças e adolescentes. A família deve ser amparada

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pelas políticas públicas para suprir as necessidades básicas de seus filhos, para evitar o afastamento destes sujeitos do seu convívio familiar e comunitário. Nos casos em que crianças e adolescentes necessitem realmente do afastamento de sua família, as instituições de acolhimento familiar devem promover a convivência familiar e comunitária com ações que realizem a manutenção dos vínculos.

Desde a crise econômica mundial dos fins dos anos 1970, a família vem sendo redescoberta como importante agente privado de proteção social. Em vista disso, quase todas as agendas governamentais prevêem de uma forma ou de outra, medidas de apoio familiar, particularmente as dirigidas às crianças [...] tentativas de redução dos riscos de desagregação familiar, por meio de campanhas de publicidade e de conscientização, que abarcam desde orientações pré-nupciais até o combate à violência doméstica, à vadiagem, à gravidez na adolescência, a drogadição e aos abusos sexuais. (PEREIRA, 2009, p.26)

As instituições de acolhimento institucional devem e vêem buscando, conforme a analise dos resultados que temos neste estudo, o fortalecimento dos vínculos familiares das crianças e adolescentes e a manutenção destes vínculos na perspectiva de materialização do direito a convivência familiar e comunitária.

O estudo revelou que todos os profissionais entrevistados, que corresponde ao número de cinco, vêm buscando nas suas práticas efetivar a promoção do direito a convivência familiar e comunitária. O discurso dos profissionais traz este entendimento e a prática relatada está sendo pensada no sentido de concretizar tal ação. A busca pela convivência familiar e comunitária se da através de visitas domiciliares, visitas da criança e adolescente a sua comunidade e a sua família. Em alguns casos as crianças e adolescentes podem passar o final de semana com sua família. Algumas famílias trouxeram no seu relato a exemplificação disto, ao serem questionadas sobre o trabalho dos profissionais:

Está muito bom. Não tenho o que falar, está muito bom. Muito bom mesmo. E elas são bem atenciosas (Profissionais), também, conversam com a gente. Se eu não posso vir, elas me ligam. Então, na semana em que as crianças vão para lá, ela me liga para perguntar como é que foi, como é que não foi, se está tudo bem, se foi tudo bem com os passeios deles. É uma maravilha, eu estou adorando, mesmo. É bom a gente se comunicar. E a gente se comunica bastante, eu e a Vânia e a Roberta, a gente se comunica. (Miguelina).

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Outra forma que os profissionais relataram de promover o direito a convivência familiar e comunitária é mantendo as crianças e adolescentes em escolas da comunidade e desenvolvendo atividades esportivas e sócio-educativas no território de origem. São diversas as formas que as instituições encontram de fazer com que estes sujeitos convivam com sua família e sua comunidade. Mas esta não é uma tarefa fácil de ser realizada, muitas vezes a comunidade da criança e do adolescente fica longe do acolhimento e nestes casos não é possível realizar a vinculação.

Daí, dentro da possibilidade a gente tenta buscar a reconstrução do território do abrigo, com o SASE o próprio Inter, que sempre abriu essa possibilidade de uma convivência em outros espaços, e a própria situação de, daqui a pouco, tu estares buscando alternativas se a criança eventualmente, ou quinzenalmente ou uma vez por mês, ter a possibilidade de vínculo familiar. Pode ser uma professora que se coloque como uma possibilidade de a gente estar podendo estimular isso para aquela criança ter a possibilidade de convivência em outros espaços, em outras famílias, outras possibilidades de conviver que essa família vai poder proporcionar para ela. (Profissional Fernanda).

Segundo IPEA (2004, p.8) no Levantamento Nacional dos Abrigos, com relação a ações de incentivo à convivência dos abrigados com suas famílias, 68,6% promovem visitas das crianças e dos adolescentes aos lares de suas famílias; e 43,1% permitem a visitação livre das famílias ao abrigo, sem datas e horários pré-estabelecidos. No entanto, quando considerados os dois critérios conjuntamente, o percentual reduz para 31,2% (184 abrigos).

Quando uma criança e um adolescente são afastados de sua família de origem, por motivos diversos já citados, faz-se necessário que o poder público crie uma rede de atendimento que envolva esta família em programas e serviços na sua comunidade. A família deve ter acesso a políticas públicas que promovam seu fortalecimento para que possa ter condições do retorno de seus filhos.

Silva (2004, p.215) analisa que a discussão sobre o direito à convivência familiar das crianças e adolescentes em situação de risco envolve questões ainda mais específicas, relacionadas aos diferentes aspectos dos problemas por eles enfrentados. Em primeiro lugar, é preciso considerar a prioridade a ser dada à manutenção da criança ou do adolescente no arranjo familiar de origem, seja ele qual for, evitando-se a separação e tudo o que isso implica. Em segundo, quando o afastamento é inevitável,

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há que se pensar em como manter a vivência familiar, seja com a família da qual foram afastados, seja com outras famílias. Ao se falar em manutenção da criança e do adolescente no arranjo familiar de origem, devem ser consideradas as situações de vulnerabilidade que podem resultar em violação de direitos infanto-juvenis no próprio âmbito familiar, assim como a atenção a lhes ser conferida a fim de evitar que novas violações de direitos aconteçam.