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A consolidação dos estados nacionais na Ibero América

1. PENSAR PATRIMÔNIO, VIVER CULTURA

1.2 Patrimônio Ibero-Americano

1.2.2 A consolidação dos estados nacionais na Ibero América

O panorama no final do século XVIII, e começo de XIX, é marcado pelo início dos movimentos de insurreição, em que as forças políticas e econômicas começam

a organizar-se a fim de tornar independentes as colônias americanas dos reinos europeus.

Conforme relata Arruda (1980), outro acontecimento que marcou aquele período foi a transferência do governo português para o Brasil, que se deu no ano de 1808, devido à praça de guerra em que havia se transformado a Europa, com as investidas de Napoleão Bonaparte, imperador francês, sobre os reinos ao seu redor, inclusive Portugal. Esse contexto político na Europa também deixou as províncias espanholas em alerta e, no ano de 1810, o primeiro país a declarar independência na região do Prata foi a Argentina, o que levou a Espanha a mudar a sede daquele Vice-Reino do Prata para a cidade de Montevidéu. Logo em seguida, o Paraguai também conquista a sua independência, no ano de 1811, liderado nas batalhas revolucionárias por Yegros e José Francia.

Ainda em terras orientais, Montevidéu é sitiada novamente pelas forças da Argentina, ajudadas pelo exército do “caudillo”19 José Gervasio Artígas, o que levou o governador de Montevidéu a pedir ajuda a Dom João VI, governante português em terras brasileiras. Este cria um exército pacificador para a Banda Oriental que logo se espalha sobre o território da mesma, estabelecendo-se em Maldonado, o que leva a Inglaterra a intervir na situação, temendo o avanço das tropas portuguesas pela banda oriental pudessem de alguma forma afetar os interes da Inglaterra com relação ao Vice-Reino da Prata. Eles conseguem estabelecer um armistício ilimitado entre Buenos Aires e Montevidéu no ano de 1812, tornando assim desnecessária a presença das forças portuguesas naquela zona.

No entanto, relata Fortes (1976), que Artígas não reconhece o armistício, porque só se juntara aos argentinos com o objetivo de buscar de alguma forma a independência do Uruguai, conseguindo assim estimular os independentes argentinos a retomarem o cerco a Montevidéu que, então se entrega, em junho de 1814, expulsando os governantes espanhóis para Europa. Este fato deixava a Banda Oriental entregue à decisão de Buenos Aires de incorporar, ou não, esta região ao seu território, mas tendo como forte opositor Artígas que, em 1815 conquista Montevidéu, tornando-a parte das Províncias Unidas do Rio da Prata.

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Caudillismo é o exercício do poder político caracterizado pelo agrupamento de uma comunidade em torno do caudilho, em geral, os caudilhos eram lideranças políticas carismáticas ligadas a setores tradicionais da sociedade na America Espanhola dos Vices – Reinos.

Começando a expansão do seu domínio para a fronteira com o Brasil e as Missões, acaba por provocar o governo português, levando Dom João a determinar sua invasão, que culmina com a derrota de Artígas na batalha de Tacuarembó, seguindo-se a incorporação do território ao Brasil, com o nome de Província Cisplatina.

Os limites entre Brasil e Uruguai, como conhecemos hoje, foram definidos, segundo Cesar (1970), por pleito de Portugal na Convenção20 de 1819, somente ratificada no pacto de 31 de julho de 1821, que estabeleceu os limites a partir do encontro do Rio Quaraí com o Rio Uruguai, até as pontas do rio Jaguarão; daí até o encontro deste com a Lagoa Mirim; de onde parte passando pela ponta de São Miguel até o arroio do Chuí e o oceano Atlântico.

De acordo com Arruda (1980), nesse período surgiu o anseio pela independência das colônias latino-americanas, libertando-se de suas metrópoles, tornando-se países soberanos, mas esse movimento tomou formas diferentes em cada localidade, devido às suas especificidades. O Brasil se liberta através da reforma administrativa proposta por Dom João VI, passando por meios pacíficos, em 1822, a ser independente da metrópole, e o Uruguai conquista a sua independência definitiva em 1828, sendo o último território da bacia do Prata a estabelecer um governo soberano. Esses acontecimentos mudam o rumo do colonialismo por parte das potências européias, que se dirigem à África e à Ásia, onde havia imensas porções de terra inteiramente desconhecidas, e como estes países estavam entrando na fase da primeira revolução industrial21, eles precisavam desesperadamente de fontes de matéria-prima em abundância, como o carvão, ferro, assim como produtos alimentícios que faltavam em suas terras.

No decorrer do século XIX, na América Latina, surgiram algumas disputas internas, na tentativa dos governos exercerem a soberania em seus territórios, desenvolvendo suas economias e aumentando suas populações, urbana e rural, tornando-se estados soberanos de fato. No final deste século, enquanto muitos dos países latino americanos começam a entrar na fase que já dominava o cenário econômico mundial, da revolução industrial, a região onde se inserem Uruguai e Rio

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20 Convenção celebrada em Montevidéu em 30 de janeiro de 1819, entre Portugal e Espanha,

demarcando os limites entre o atual território do Uruguai com o Brasil.

21 Época em que se aprimoram os processos de manufatura, passando do processo manual para a

Grande do Sul vivencia de forma muito tímida o progresso, visto que estes têm sua economia baseada na agropecuária, onde as charqueadas eram a única experiência – se é que se pode chamar assim - de industrialização.

O século XX traz o crescimento econômico dos países e a consolidação dos Estados, além do desenvolvimento urbano, acarretado pela revolução industrial e o consequente êxodo rural, transformando algumas cidades em espaços caóticos, refletindo diretamente na qualidade de vida das populações, gerando um cinturão de isolamento cultural entre as classes sociais que as habitam.

Segundo Barbeiro (1984), o continente americano vive duas realidades distintas: uma é a civilização avançada, econômica e tecnicamente, e outra subdesenvolvida e, ainda que estruturadas na mesma época, se desenvolveram de modos muito diferentes. Essa visão da América, trinta anos depois, mesmo se constatando que foram amenizadas as desigualdades sociais em todo o continente – em especial nessa última década –, que muita gente tenha saído da linha de pobreza, e apesar do surgimento de outras formas de analfabetismo, como o cultural. Isto oportunizou a milhares de seres humanos uma vida social mais equitativa, mas ainda há um longo caminho por percorrer, e essa herança cultural que formou e consolidou os estados nacionais na América Latina deve servir de base para um desenvolvimento pleno do ser humano, apropriando-se a população desse patrimônio cultural construído ao longo dos séculos, e utilizando-o como elo que entrelaça suas histórias, criando uma cultura de paz para as futuras gerações.