• Nenhum resultado encontrado

A partir da consolidação do pensamento antropológico no Brasil, as representações dos povos indígenas sofrem mudanças cruciais. Pois foram com os estudos etnológicos que a antropologia no Brasil obteve seus maiores êxitos. O destino das populações indígenas foi sempre balizado pelo modo como os outros habitantes da nação os trataram historicamente. Esse destino foi profetizado ora como sendo a extinção, ora como sendo a integração à sociedade nacional. Essa dúvida sobre a sobrevivência dos povos indígenas no Brasil tem sido um ponto de discussão central na Antropologia Brasileira. Os primeiros relatos sobre os povos nativos foram produzidos pelos viajantes e cronistas e na inexistência ou ausência do cientista social, eles deixaram registros de observações diretas, ainda que não controladas por nenhum parâmetro científico.

Até os anos 30, do século XX não existe formação acadêmica de etnólogo no Brasil, os estudiosos brasileiros que dão contribuições nessa área são médicos, juristas, engenheiros, militares ou de outras profissões. Mesmo na Europa, a Antropologia ainda era um ramo muito novo das ciências humanas. A partir de meados do século passado, alguns brasileiros se incubem de tarefas de caráter etnológico. Esses pesquisadores quase todos autodidatas em Antropologia, a par de seus levantamentos a respeito dos índios, negros, sertanejos, mostravam na maior parte dos casos um certo interesse no destino das populações e seu lugar na formação do povo brasileiro. A maioria dos pesquisadores que eram estrangeiros e pesquisavam as populações nativas, já estavam atentos para o problema do contato interétnico.

Nas décadas de 20 e 30 do nosso século, começam a se notar algumas modificações no que se refere às pesquisas com índios: as preocupações evolucionistas vão sendo aos poucos abandonadas e começa a decrescer o número de pesquisadores estrangeiros, em especial, alemães. Para Júlio Cezar Mellati no artigo “A Antropologia no Brasil: um roteiro”, talvez o mais notável pesquisador estrangeiro da época, pela extensão de seu trabalho e pela dedicação, tenha sido o alemão Curt Nimuendajú . Trabalhou inicialmente com os Guarani, os Xerentes, os Canelas, os Apinayé e os Tukúnas, através do então recém criado Serviço de Proteção Aos Índios (SPI).72

72 MELATTI, J. C. A antropologia no Brasil: um roteiro In: BIB ( Boletim Informativo e Bibliográfico de

Em 1934 foi criada a primeira Faculdade de Filosofia e Letras no Brasil, o que ocorreu na Universidade de São Paulo, e na mesma época também se fundou a Escola de Sociologia e Política. Para suprir a necessidade de professores foram contratados vários mestres estrangeiros, como Roger Bastide, Emílio Willems, Claude Lévi-Strauss. Também no Rio de Janeiro criava-se a Universidade do Distrito Federal, onde Gilberto Freyre assumiu, em 1935, como seu primeiro professor, as cátedras de Antropologia Social e Cultural e a de Sociologia. Em 1939, Darcy Ribeiro, que menciona a si mesmo como um dos três antropólogos da segunda geração da “família dos etnólogos brasileiros”, ainda não tinha saído de Minas Gerais, de onde foi, pelas mãos de Donald Pierson, para a Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Enfim com as oportunidades que se abrem para estudar, tanto no Brasil, como no exterior, começa a crescer o número de etnólogos brasileiros, o que culminou na criação em 1955 da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Mariza Corrêa, no ensaio “Traficantes do excêntrico: os antropólogos no Brasil dos anos 30 aos anos 60” afirma que:

Uma avaliação geral, ainda que sumária sobre as reuniões da ABA mostra que a definição e a configuração temática, apesar da mudança de terminologia e de ênfase, tem se mantido constantes desde a sua fundação. Seis de seus doze presidentes são, ou eram na época da eleição, especialista em assuntos indígenas - e todos os outros mantiveram o tema em primeiro plano em suas gestões.73

73 CORRÊA, Mariza Traficantes do excêntrico: os antropólogos no Brasil dos anos 30 aos anos 60 In:

No que tange ao estudo do contato interétnico entre índios e brancos, talvez tenha sido Hebert Baldus um dos primeiros a ensaiá-los e acentuar sua necessidade. Na década seguinte destacam-se os trabalhos de Robert Muphy sobre os Mundurukú, os de Eduardo Galvão sobre os índios do alto Rio Negro e o trabalho inicial de Roberto Cardoso de Oliveira sobre os Terenas. No final dos anos 50, alguns pesquisadores, como Eduardo Galvão, Darcy Ribeiro e Roberto Cardoso de Oliveira, começam a repensar a orientação que vinha sendo tomada nos estudos de aculturação, sem, porém, abandonar o uso desse termo. É o tempo em que Darcy Ribeiro chama a atenção para a importância das frentes de expansão, do caráter econômico das mesmas e desloca o interesse das culturas indígenas para o destino das sociedades que as mantém e seus membros.

Em 1955 se formava o “Curso de Aperfeiçoamento em Antropologia Cultural” no Museu do Índio, órgão do então Serviço de Proteção aos Índios. Criado por Darcy Ribeiro que tivera sua formação na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, contou com a colaboração docente, dentre outros, de Roberto Cardoso de Oliveira. Em 1957, também por iniciativa de Darcy Ribeiro, criou-se o “Curso de Formação de Pesquisadores Sociais” no Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Enfim, esses três cursos ( do Museu do Índio, do CBPE e do Museu Nacional) formaram vários dos antropólogos brasileiros e foram os percussores do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social que se instalou no Museu Nacional em 1968, ainda por iniciativa de Roberto Cardoso de Oliveira. Segundo Júlio Cezar Melatti : “ Com a criação de mais outros cursos de pós-graduação que vieram se juntar a este, o número de etnólogos começou a crescer rapidamente, fazendo com que

esses profissionais deixassem de constituir um velho grupo de amigos em que todos se conheciam” 74

Documentos relacionados