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A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 16 de julho de

No documento O sufrágio feminino no Brasil (páginas 64-67)

4.3 AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

4.3.3 A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 16 de julho de

Em 11 de novembro de 1930 é editado o Decreto n° 19.398 que altera a Constituição de 1891 e vigora até 1934 sob um governo provisório comandado por Getúlio Vargas. Tal decreto dissolve o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas dos Estados e as Câmaras de Vereadores dos municípios, além de constar a indicação dos governadores pelo governo provisório e cortar as garantias da magistratura (GROFF, 2007, p. 11).

A Assembleia Constituinte de 1933 conta com a participação histórica da primeira Deputada Federal do Brasil e de toda a América Latina, Carlota Pereira de Queirós (1892- 1982), educadora e médica paulista, eleita por voto popular. Conforme Oriá (2009, p. 33-36),

“a primeira e única mulher a sentar-se entre 253 Deputados Federais”.

A Constituição de 1934 demonstra apelo social, inserindo no contexto matérias sobre família, educação, ordem econômica e social, cultura, legislação trabalhista e previdenciária (GROFF, 2007, p. 149).

Os direitos políticos são alterados, sendo que para a eleição de Presidente da República, o sufrágio passa a ser universal, direto e secreto. Apesar disso, a própria Assembleia Nacional Constituinte elege o Presidente de forma indireta e, em 1937, em função do golpe de Estado, as eleições não ocorrem (GROFF, 2007, p. 153).

Em seu artigo 23, a Constituição inclui na composição da Câmara de Deputados uma espécie de sufrágio corporativo: “Art. 23. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos mediante sistema proporcional e sufrágio universal, igual e

direto, e de representantes eleitos pelas organizações profissionais”. A crítica na época

referia-se a falta de representatividade das categorias profissionais, o que criaria oportunidades para manipulações e surgimento de sindicatos e federações com intuito de manter interesses políticos de uma elite que tentava manter-se no poder (BONAVIDES; ANDRADE, 2004, p. 304-309).

Um dos atos políticos mais importantes do governo de Getúlio Vargas é a aprovação do Decreto n° 21.076/1932, Código Eleitoral. Tabak e Toscano (1982, apud SOUZA, 2010, p. 72) comentam o assunto:

O Decreto n° 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, regulamentava o alistamento e o processo eleitoral no país, nos âmbitos federal, estadual e municipal, trazendo uma série de inovações, dentre as quais se destaca o estabelecimento do sufrágio universal e secreto. Mais ainda, o novo código ampliava o corpo político da nação, concedendo o direito de voto a todos os brasileiros maiores de vinte e um anos, alfabetizados e sem distinção de sexo. As mulheres brasileiras adquiriam assim, pela primeira vez e após árdua luta, cidadania política, contribuindo para o aumento significativo do número de votantes no país.

Segue o texto do Código Eleitoral que regulamenta o voto feminino no Brasil:

Art. 2º E’ eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma deste Código.

[...]

Art. 4º Não podem alistar-se eleitores: a) os mendigos;

c) as praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares de ensino superior. Parágrafo único. Na expressão praças de pré, não se compreendem:

1º) os aspirantes a oficial e os sub-oficiais;

2º) os guardas civís e quaisquer funcionários da fiscalização administrativa, federal ou local (BRASIL, 1932).

A Constituição de 1934 replica o texto do Código Eleitoral referente ao sufrágio feminino, garantindo o direito tão almejado pelas mulheres. Dessa forma, um fato histórico coloca o Brasil entre os países pioneiros: o exercício do voto feminino (BONAVIDES; ANDRADE, 2004, p. 325). Segue critérios para caracterizar os eleitores na época:

Art 108 - São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei.

Parágrafo único - Não se podem alistar eleitores: a) os que não saibam ler e escrever;

b) as praças-de-pré, salvo os sargentos, do Exército e da Armada e das forças auxiliares do Exército, bem como os alunos das escolas militares de ensino superior e os aspirantes a oficial;

c) os mendigos;

d) os que estiverem, temporária ou definitivamente, privados dos direitos políticos. Art 109 - O alistamento e o voto são obrigatórios para os homens e para as mulheres, quando estas exerçam função pública remunerada, sob as sanções e salvas as exceções que a lei determinar (BRASIL, 1934).

É consagrado o Princípio da Igualdade proibindo-se expressamente qualquer privilégio baseado no sexo do indivíduo. Conforme Biceglia (2002, p. 62) “pela primeira vez

na história, o legislador demonstra preocupação com a situação jurídica da mulher”. Tais

preceitos ficam claros nos artigos abaixo:

Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

1) Todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissões próprias ou dos pais, classe social, riqueza, crenças religiosas ou idéias políticas.

Na Constituição de 1934, foram feitas algumas compensações para equilibrar os direitos trabalhistas da mulher: proibição da diferença de salário motivada por sexo, garantia da licença gestante e proibição do trabalho feminino em empresas insalubres (CENTRO FEMINISTA DE ESTUDOS E ASSESSORIA, 1996, p. 23).

Araújo (2003) comenta o momento inevitável de grandes mudanças em que a mulher se encontrava:

As mudanças nas áreas de atuação da mulher e nos padrões de comportamento feminino eram correlacionadas às conquistas tecnológicas mundiais – à eletricidade, à aviação, aos avanços na indústria de eletrodoméstico, que, ao tornar mais ágil o serviço no interior do lar, permitiu à mulher urbana das camadas médias dispor de mais tempo livre para si. Associadas, também, a maior facilidade nas comunicações, quando se assistiu a uma multiplicação de novos títulos na imprensa de periódicos, ao surgimento do rádio e à consagração do cinema como veículo de mais viva penetração entre os vários segmentos e categorias da sociedade.

No contexto jurídico-constitucional, a partir da Constituição de 1934, as constituições brasileiras passam a buscar a não discriminação das mulheres (MADERS, 2010, p. 106).

No documento O sufrágio feminino no Brasil (páginas 64-67)