• Nenhum resultado encontrado

A CONSTRUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DO APOIO POPULAR AO EMPREENDIMENTO

No documento Rodrigo Pyramides Pinheiro (páginas 113-115)

CAPÍTULO 4 PROCESSO DE LICENCIAMENTO E APROVAÇÃO DO PROJETO DO TERMINAL

4.2 A CONSTRUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DO APOIO POPULAR AO EMPREENDIMENTO

Membros da classe política da cidade, dentre eles o prefeito - através de meios diversos de comunicação, defenderam abertamente o projeto do novo porto como fundamental para retomada do crescimento econômico da cidade e geração de emprego e recurso financeiro direto. Mesmo com o apoio político declarado, durante o processo de licenciamento ambiental do empreendimento surgiram movimentos sociais pró porto, que contribuíram para a legitimação do processo, dentre eles: “Porto eu apoio”; “Macaé porto já”; “Somos porto”, apresentados a seguir.

Os representantes do movimento “Macaé Porto Já”, em seu manifesto de apresentação, explicam que o movimento surgiu com o propósito de sensibilizar o poder público da “necessidade de garantir a Macaé a criação de um novo ciclo de prosperidade, acreditando no potencial da cidade em se manter estratégica para o mercado nacional do petróleo...”. O grupo é composto pela sociedade civil organizada, grupos de profissionais sindicalizados e agentes públicos “...com disposição e garra para lutar pelo projeto verdadeiramente capaz de salvar o município do colapso econômico iminente ... surge a mobilização que conclama a população para se posicionar de forma favorável ao novo porto, que ainda enfrenta os entraves da burocracia” (GARABINI, 2017).

O movimento, liderado por um vereador do município, usou as mídias sociais para convocar a população favorável ao empreendimento a participar da terceira audiência pública, e demonstrar assim um forte apelo popular para a consolidação do porto.

Teremos uma audiência pública que vai mudar a história de Macaé. Por isso, todo mundo que deseja ver a cidade se desenvolver, desde o desempregado ao empresário, precisa dar voz a um projeto que vai contribuir para esta nova fase da economia da cidade. Por isso precisamos permanecer unidos nesta corrente, Macaé Porto Já (O DEBATE, 2018, on-line).

Outro movimento atuante foi o “Somos porto”, “...integrado por empresários e representantes de instituições e associações, foi criado com o objetivo de reforçar o apoio a construção do porto e levar a audiência pública o maior número de pessoas a favor do empreendimento” (RC24h, 2018, on-line).

Além de organizar o apoio nas audiências públicas, esses movimentos também realizaram atos, como em 2017, com a realização de uma mobilização pública na Praça

Verissimo de Mello, no centro da cidade, em apoio a construção do porto. O movimento também utilizou as redes sociais para colher assinaturas, em uma petição digital, “...com objetivo de reforçar o posicionamento da sociedade macaense em defesa da consolidação do projeto” (O DEBATE, 2017, on-line).

A partir da análise dos objetivos dos movimentos se percebe, na narrativa, a produção de um consenso popular de que o TEPOR, como um grande projeto de investimento, será capaz de propiciar a retomada de crescimento e geração de empregos em Macaé.

A construção de um discurso homogêneo apresenta similaridades à estratégia de “citymarketing”, instrumento difundido no modelo de “gestão empresarial da cidade”, onde, de maneira geral, determinados fatos sociais são apresentados como inquestionáveis (SANCHEZ, 2001).

A aprovação por grande parcela da população não é condicionante a concessão da licença. Porém, a manifestação favorável da comunidade é considerada pelo órgão ambiental na avaliação do empreendimento. Por outro lado, também pode contribuir por coibir a participação e indagação de pessoas. Assim como ocorreu em Macaé, questionadores do projeto do TEPOR passaram a ser “tachados” de ambientalistas, e apontados como contrários ao desenvolvimento da cidade.

Durante o processo de análises realizadas pelo INEA, uma associação ambiental acionou a justiça, através de uma ação civil pública, questionando que a competência para processar o licenciamento ambiental do empreendimento TEPOR deveria ser do IBAMA. Diante do exposto, solicitou a consequente declaração de nulidade do processo de licenciamento ambiental, nº E-07/002.11633/2016, iniciado em 30/03/2016. Assim, o processo de licenciamento ambiental foi temporariamente suspenso, até que, em agosto de 2019, a empresa empreendedora divulgou nota sobre a decisão favorável ao TEPOR.

O TEPOR vem comunicar que foi proferida decisão que garante a implantação do Terminal Portuário de Macaé. A ordem foi proferida hoje no Pedido de Suspensão de Execução dos Efeitos da Sentença feito pelo Estado do Rio de Janeiro perante o Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Para o deferimento da medida, o Presidente do TRF-2, o Desembargador Reis Friede, levou em conta questões jurídicas, técnicas e econômicas, tendo reconhecido a potencialidade lesiva à ordem pública que decorre da paralisação do licenciamento ambiental do TEPOR. A decisão destaca, assim, o interesse coletivo no empreendimento, em razão de todos os benefícios que repercutirão na sociedade, no Estado e no país como um todo. Dessa forma, tanto o licenciamento ambiental quanto à implantação do TEPOR estão devidamente asseguradas pela medida judicial (CLIKMACAÉ, 2019, on-line).

Se evidencia, na sentença acima, o destaque para o “interesse coletivo no empreendimento, em razão de todos os benefícios que repercutirão na sociedade...”. E assim, se evidencia como a busca por apoio social ao projeto se torna instrumento que o legitima.

Nesse sentido, se recorre a Vainer (2000) ao abordar a “cidade pátria”, onde governantes locais se utilizam da construção de um consenso popular de que para se superar o período de crise, desemprego e competição entre cidades é preciso que o poder público municipal fomente e viabilize a implantação de grandes empreendimentos em seu território.

O respaldo popular a um empreendimento privado também ajuda a consolidá-lo como de utilidade pública. A prerrogativa de declarar o empreendimento como de “interesse público” acaba por institucionalizar a flexibilização de leis, como ocorreu no caso do projeto do novo porto de Macaé, como apresentado a seguir.

4.3 DECLARAÇÃO DE “INTERESSE PÚBLICO”, FLEXIBILIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO

No documento Rodrigo Pyramides Pinheiro (páginas 113-115)