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A construção da fortificação de Estremoz

VII. AS PORTAS

VII.7. Porta de Évora

1. A construção da fortificação de Estremoz

A intenção de dotar Estremoz de fortificação abaluartada surge apenas em 1658, quase duas décadas depois de iniciada a guerra da Restauração e do início da fortificação das praças de fronteira, após a tomada de Olivença e face ao risco de invasão do exército espanhol. Até então, nos primeiros anos da guerra e à semelhança do ocorrido nas restantes povoações fronteiriças, apenas tinham sido construídas trincheiras, que protegiam a povoação dos eventuais ataques inimigos baseados em cavalaria.

No referido ano de 1658, terá sido decidida apenas a fortificação do Bairro do Castelo, estabelecendo um perímetro abaluartado em redor das muralhas medievais. Porém, devido à crise que sobreveio à tentativa de tomada de Badajoz no final de 1658, com o consequente cerco espanhol a Elvas e à batalha das Linhas de Elvas, as obras desta primeira fortificação ter-se-ão iniciado apenas em 1661, quando já se dava como certa a invasão do exército espanhol, comandado por D. Juan de Áustria.

No verão desse ano (por iniciativa do Conde de Schomberg e do Conde de Atouguia, que chefiavam então o exército do Alentejo), como recurso provisório face ao avanço do exército inimigo já em pleno Alentejo, terá sido demolido um terço da altura muralha medieval e aterrado o seu interior para resistir à artilharia. Já em 1662, terá sido finalmente colocada em defesa a nova fortificação abaluartada, provavelmente seguindo a planta antes traçada (entre 1658 e o início de 1661).

Ao mesmo tempo que se punha em defesa a fortificação do Bairro do Castelo, dá- se início à segunda fortificação abaluartada, envolvendo o Bairro de Santiago, núcleo habitacional também de génese medieval que ocupava a cumeada defronte do Castelo.

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Esta segunda fortificação terá sido construída com base em planta que se crê posterior à da primeira fortificação, muito provavelmente do final de 1661.

Em 1662, foi julgado necessário retirar o trem de artilharia de Elvas, onde estava demasiado exposto. Para o acolher foi escolhido Estremoz, passando esta praça a deter, para além da vedoria do exército da província, também o seu quartel-general.

Para o efeito, era necessário defender a parte baixa da vila e zonas limítrofes, criando uma praça de armas, o que conduziu à construção da terceira fortificação de Estremoz, a chamada fortificação, de grande extensão. Em complemento, foi ainda decidido erigir o Forte de S. José para defender o padrasto situado a sudeste da povoação.

A grande área incluída nesta fortificaçãoteve por justificação a conveniência de incluir as nascentes de água, sem o que Estremoz ficaria vulnerável em caso de cerco, bem como os dois conventos da periferia, de S. Francisco e das Maltesas132. Fixadas estas

duas condicionantes, o seu traçado desenvolve-se de forma a envolver a o que restava da povoação, espraiada pelas encostas da colina e pela margem do “ribeiro da vila”, bem como outros edifícios importantes, como o palácio do Conde de Assumar a sul (sem a sua tapada), que será ocupado no século XVIII pelo convento dos Congregados (atual Câmara Municipal), ou ainda a capela de S. Brás a norte.

A construção desta terceira fortificação, dos Arrabaldes, iniciou-se, assim, em 1662 e no final da Guerra da Restauração já estava em defesa, faltando apenas revestir a sua parte norte, sensivelmente entre as atuais portas de Santo António e de Santa Catarina133, obra que terá sido terminada até ao final do século.

No último quartel do século XVII realizaram-se obras na contra escarpa sul do Bairro do Castelo e nas zonas de ligação entre as três fortificações, que resultaram na transformação do que era uma praça alta (constituída pelas fortificações do Castelo e do Bairro de Santiago) e uma praça baixa (fortificação dos Arrabaldes)em dois perímetros defensivos independentes e fechados: um primeiro perímetro formado pela fortificação do Bairro do Castelo e um segundo pelas fortificações dos Arrabaldes e do Bairro de Santiago.

132Note-se que caso estes dois conventos não fossem incluídos, teriam certamente

de ser demolidos, pois de contrário poderiam servir como abrigo e preparação dos ataques ao exército sitiante.

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As portas dos Currais, Santo António e Santa Catarina, incluindo todo o seu trânsito militar e portais monumentais exteriores, seriam realizados no último quartel do século XVII. A porta de Évora, embora mais tardia, terá sido por sua vez concluída até aos primeiros anos do século XVIII.

Não obstante, a fortificação de Estremoz nunca terá chegado a ser concluída. Como se infere da observação das plantas do século XVIII, nunca foi completado o parapeito da fortificação e o que foi construído apenas era de terra. Acresce que apenas o baluarte de Santa Isabel na fortificação do Castelo foi dotado de canhoneiras, pelo menos construídas de forma duradoura. Também o fosso e estrada coberta da segunda linha defensiva ficou incompleto.

O avanço das obras de fortificação do Castelo passou por diversas fases ao longo do tempo, alterando tempos de rápido crescimento com outros de estagnação, ao sabor dos recursos existentes, situação esta que foi comum à generalidade das praças alentejanas, talvez com a exceção de Elvas. No entanto as fortificações do Bairro de Santiago e principalmente dos Arrabaldes foram postas em defesa em tempo muito curto para o seu grande perímetro, chegando a contar com mais de um milhar de trabalhadores em simultâneo, compostos por terços de militares e população.

Com a construção desta fortificação abaluartada e sobretudo da reserva de espaço para a sua esplanada, Estremoz sofreu uma grande alteração urbana. Em 1640 a povoação instalava-se por toda a colina do Castelo, espraiando-se mais ou menos de forma uniforme pelas suas encostas e, a norte, até à margem da ribeira formada a partir das nascentes junto ao atual Rossio e capela de São Brás. Porém, a fortificação da praça alta obrigou à demolição de grande parte das casas que se situavam nas encostas da colina, num total de cerca de novecentos edifícios. Com isso, o desenvolvimento urbano de Estremoz deixou de se fazer radialmente, a partir do Castelo, para passar a ser efetuado para norte, ocupando gradualmente a grande extensão interior à fortificação dos Arrabaldes. Nessa dinâmica, extravasou-a, no início do século XX, levando à demolição de uma parte importante da fortificação..

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