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característica constante: a necessidade que senti de refletir sobre cada etapa do caminho, considerando e reconsiderando, entre outros aspetos, os princípios psicopedagógicos que me orientaram, enquanto me ia definindo enquanto educadora. Nesta última etapa da minha formação, teço um balanço final, focando as experiências vividas em Creche e em JI, construindo uma análise do meu percurso formativo em inter-relação com os vários atores com que tive a sorte de me cruzar e de aprender: profissionais, professores, colegas, crianças, familiares, etc. Para isto, considero ser pertinente referir as maiores dificuldades sentidas, a minha evolução dentro da profissão e as aprendizagens mais significativas.

Durante os dois momentos de PPS, estive em contacto com práticas pedagógicas diferentes, meios socioeducativos distintos, assim como profissionais de educação diferenciados, o que me possibilitou conhecer a fundo, através das vivências, variadas técnicas, estratégias e perspetivas. Isto tem um peso considerável na riqueza da minha formação, porque, nas palavras de Sarmento (2009), a formação da identidade profissional “corresponde a uma construção inter e intra pessoal, não sendo, por isso, um processo solitário: desenvolve-se em contextos, em interacções, com trocas, aprendizagens e relações diversas da pessoa com e nos seus vários espaços de vida profissional, comunitário e familiar” (p. 48), sendo este um ponto bastante positivo no meu processo de aprendizagem. Esta aprendizagem, realizada nos contextos e através das

46 reflexões pessoais e partilhadas resultou numa apropriação dos saberes teóricos, que fui transpondo para a minha prática profissional.

Começo por focar o percurso em creche. Apesar de não ter sido o meu primeiro contacto com o contexto, foi o primeiro com as funções e as responsabilidades de um educador de infância. Foi com isto em mente que encarei o desafio, empenhando-me para retirar o máximo de aprendizagens. Mais ainda, tive a sorte de me integrar num contexto que considero de excelência que em inter-relação com os conhecimentos que levava comigo, me proporcionaram uma constante evolução, pois, “os comportamentos velhos desenvolvem-se e modificam-se, para melhor, através da exercitação” (Berbaum, 1993, p.17) e isto aconteceu ao longo do processo, construindo novos comportamentos e elaborando novos tipos de reação, que se integraram na minha postura (Berbaum, 1993). Em relação ao contexto de JI, mais uma vez a novidade passou por assumir o papel de educadora, com um grupo de crianças que me desafiou, não só pelos normais comportamentos de “desafio”, como também pela sua exigência, pois são um grupo muito curioso, ávido de experiências e com muita vontade de ir sempre mais além. Com eles, aprendi a ter sempre “cartas na manga”, a repensar a minha planificação no momento, como por exemplo,

quando após a minha apresentação de uma história recorrendo ao teatro de sombras, no final, apesar de não ter planeado, quem quis, foi para a sala e os restantes ficaram em três grupos, a criar uma pequena cena para apresentar, enquanto eu filmava. Assistir aos vídeos foi um ponto-chave deste dia, adoraram. A tecnologia é algo com que estão familiarizados e faz todo o sentido usá-la no dia-a-dia do JI (cf. Anexo A, Tabela 22) e a tomar decisões rápidas, de forma calma e assertiva. Em meu ver, foram eles os maiores impulsionadores das minhas conquistas!

Realizando uma análise geral da intervenção, considero que existiram cinco pressupostos transversais a ambas as valências, que influenciaram positivamente a minha formação, trazendo-me os conhecimentos e princípios que hoje me definem como profissional. Em primeiro lugar, coloco a relação com as crianças. Independentemente das idades, existe sempre um primeiro momento de apresentação e de adaptação, em que devem ser lançadas as bases para o estabelecimento de uma relação de confiança, afeto e respeito, que são essenciais para o sucesso de todo o restante trabalho. De facto, considero que esta é uma dimensão tão importante, que foquei a relação pedagógica na minha

47 investigação, em ambos os contextos. Em segundo lugar, como já referi, está o contacto com as equipas educativas. Ambas contribuíram para o meu crescimento enquanto doente, tanto quando me apresentaram exemplos com os quais me identifiquei e que pretendo seguir, como em situações contrárias, pois tendo a consciência de que estou apenas no início, “todas as informações recebidas contribuem para modelar a nossa maneira de ser” (Berbaum, 1993, p.17). Ao mesmo tempo, a partilha das vivências com as colegas de curso, foi essencial para enriquecer as perspetivas e tirar proveito desta cooperação entre pares, que nos possibilita comparar e refletir situações, assim como encontrar estratégias e novas linhas de ação. Como terceiro ponto, sublinho o facto de o nosso trabalho ter mais significado e ser mais profícuo quando realmente respondemos às necessidades e interesses das crianças. Acredito que só assim são alcançadas aprendizagens significativas. Sem esquecer que, estas necessidades e interesses podem ser biopsicossociais, ou seja, não se limitam ao “currículo”, pelo contrário, focam a criança de forma holística almejando, em primeiro lugar, o seu bem-estar. No contexto de creche, a minha preocupação central foi em adotar uma postura de cuidador responsivo e afetivamente disponível, assumindo as propostas educativas como momentos de exploração, sem descurar os outros momentos, pois nestas idades, as aprendizagens acontecem em todos os momentos da rotina, desde a higiene, à alimentação e ao sono. No contexto de JI, apesar de ser verdade que as aprendizagens também não se reduzem aos momentos de atividade, são as próprias crianças que têm já uma ideia mais abrangente do que são os seus interesses, assim como nós (adultos) temos uma ideia das experiências que lhes podemos proporcionar, para os desafiar a ir sempre mais além. Isto leva-me ao quarto pressuposto, o planeamento e a avaliação. Estas são etapas que estão presentes em todos os momentos do trabalho docente e que foram um constante desafio. Em ambas as valências, tive a oportunidade de criar os meus instrumentos de planeamento e de avaliação, sempre com a contribuição das educadoras cooperantes. Isto foi fundamental para que fosse sempre regulando a minha ação, levantando necessidades de melhorar, descobrindo novas estratégias, etc. Também o facto de ter contactado, em creche, com um modelo pedagógico com o qual nunca tinha trabalhado, o HighScope, foi uma importante fonte de experiências e aprendizagens:

48 tenho tido a oportunidade de observar e participar nas ações e interações diárias e considero que posso afirmar que este é um exemplo de que o trabalho educativo é mais eficaz, assertivo, coordenado e adequado, ou seja, tem mais qualidade quando todos sabem e conhecem a base segundo a qual devem ser orientados os vários aspetos do dia- a-dia, bem como o «porquê» teórico dos pressupostos educativos. Não quero com isto dizer que seguir determinado modelo é a única forma de existir um trabalho educativo de qualidade, mas sim que sem um entendimento e uma organização teórica, a prática perde muitas das suas qualidades e atributos. (Excerto de reflexão semanal, PPS I) Já em contexto de JI, o facto de ter realizado um projeto com as crianças segundo a Metodologia de Trabalho de Projeto foi mais um fator que contribuiu para a minha evolução. Quanto à avaliação em educação de infância, hoje entendo-a como um processo contínuo e multidimensional. É uma forma de o educador conhecer as crianças e os seus diversos contextos, é uma ferramenta que orienta as nossas escolhas pedagógicas e é uma base de dados que nos permite refletir sobre a adequação e readequação das práticas, ao longo do tempo. Por outras palavras, quando realizada de forma continuada e colaborada, possibilita que o educador tenha a perceção de todas as dimensões envolvidas no processo de ensino-aprendizagem de cada criança, pelo que, deve ser vista e valorizada como um “caminho seguro para a melhoria da qualidade em educação” (Nabuco, 2000, p.81) (cf. Anexo A, Capítulo 5 - Reflexão 13ª Semana). O quinto e último pressuposto que destaco é a importância de incluir as famílias no nosso trabalho, respeitando sempre a sua individualidade, os seus valores e reconhecendo as suas competências educativas. Este percurso fez-me ter plena consciência de que somos melhores profissionais se facilitarmos e potenciarmos a participação das famílias nos contextos, valorizarmos os seus contributos e esforços, bem como ao nos disponibilizarmos para estabelecer uma parceria na educação das crianças. Isto é importante, pois possibilita um clima de continuidade e de partilha, em que a criança se sente, claro, mais segura.

Quanto à evolução da minha postura enquanto docente a que me refiro, considero que ambos os períodos da PPS foram cruciais para a minha formação, bem como para evolução da mesma. Estas conquistas, ou seja, esta construção é percetível ao analisar as minhas reflexões semanais de ambas as intervenções, em que fui sempre fazendo uma análise da minha postura perante as situações presentes, assim como do que ambiciono para o meu futuro profissional (cf. Anexo A, Capítulo 5). Também as dificuldades e os erros se constituem como momentos cruciais de aprendizagem e de evolução. Neste

49 sentido, as dificuldades sentidas e, principalmente as estratégias que fui encontrando para as superar foram também peças importantes.

Foi assim que fui crescendo enquanto (futura) educadora, ganhando segurança nas minhas ideias, assumindo uma postura mais segura e assertiva, alcançando a capacidade de ser cada vez mais proativa e independente face à gestão dos grupos de crianças e da rotina, entre outras características que foram surgindo ao mesmo tempo que estabelecia o que eu acredito, o que eu defendo, que se espelha nos meus princípios e intenções, bem como na planificação e avaliação que realizei. Não obstante, outra aprendizagem nuclear é que, principalmente nesta profissão, nunca sabemos tudo, nem nunca seremos perfeitos. Devemos sim, investir sempre em novas aprendizagens e em conhecer novas perspetivas, mantendo-nos atualizados, para podermos realmente oferecer o melhor de nós, com qualidade às crianças com as quais nos cruzamos. São elas “a fonte inspiradora e central da acção profissional das educadoras de infância” (Sarmento, 2009, p. 62).

Concluindo, cada etapa deste processo teve influência no resultado final. É “em contexto de formação que o educador de infância, seja ele estagiário, principiante ou experiente, (re)constrói a sua identidade profissional, pois é impossível dissociar identidade pessoal de identidade profissional ou de identidade social” (Costa & Caldeira, 2015, p. 113). Hoje, sinto-me munida das ferramentas para o próximo passo, a entrada na profissão, e preparada para abraçar os desafios que me esperam, sem perder a vontade latente de dar o meu melhor, sempre.

Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.

(Ricardo Reis, p.148)

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