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II. Bairro do Barruncho: ler o lugar

2.1 A construção de um lugar

O Bairro do Barruncho é um núcleo habitacional que cresceu e se desenvolveu após meados do século XX na Póvoa de Santo Adrião. Todo o núcleo foi sendo composto por habitações construídas e implantadas pelos próprios habitantes, que assim foram definindo o bairro à medida que se mudavam para lá. As primeiras habitações clandestinas, pouco mais de uma dezena, foram surgindo nos anos 60 e 70. As duas décadas seguintes – 80 e 90 – viram o bairro crescer exponencialmente, com a vinda de mais 100 famílias (designadamente 47 na primeira década assinalada e 60 na segunda). (figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6)

Durantes as décadas de 60 e 70, famílias de proveniência portuguesa foram ocupando o terreno. Pagavam renda aos proprietários e construíram clandestinamente as suas casas e também pequenas hortas e quintais – aproveitando assim o potencial de cultivo do terreno. O grande crescimento do número de habitantes, nas duas décadas seguintes, deu-se por ocupação de imigrantes vindos dos PALOP’s (Cabo Verde; Guiné; Angola e Moçambique) e também de portugueses retornados. Na maior parte dos casos, este crescimento correspondeu à vinda de homens jovens à procura de trabalho na construção civil e de pequenos agregados de cerca de 2 a 3 pessoas. Tudo isto levou a um desenvolvimento e transformação das habitações, que foram sendo implantadas de modo disperso no terreno e construídas com a utilização de materiais mais consistentes, como o cimento e alvenaria de tijolo.

Figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6 | Evolução da área de intervenção – Bairro do Barruncho. Imagens datadas de 1944, 1965, 1982, 1990, 1998 e 2013 da esquerda para a direita e de cima para baixo, respectivamente.

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Assim, o terreno foi sendo ocupado e os próprios habitantes foram desenhando e definindo o Bairro do Barruncho e aquilo que ele é hoje. Actualmente continua a ser habitado por uma população maioritariamente imigrante em Portugal – pessoas originárias de culturas, etnias e nacionalidades diversas.

Em resultado de tudo isto, o bairro caracteriza-se actualmente por um “mix cultural”. Tem presentemente um total de 540 habitantes. Sente-se uma forte presença de etnias africanas, que compreendem mais de 80% dos moradores, sendo a maioria cabo-verdiana. Segue-se a naturalidade portuguesa, existindo também uma comunidade cigana, que representa cerca de 5% da população. Regista-se ainda uma presença muito reduzida de habitantes de nacionalidade francesa e brasileira – 0,4% e 0,2% da população, respectivamente. Esta complexidade cultural é fruto da procura dos moradores que se instalaram neste território, muitos provenientes de outro países ou outras realidades e que vieram em busca de oportunidades diferentes.

Relativamente à população que habita o bairro, o registo mais recente é de 118 agregados familiares, com 122 habitações construídas (são os dados de 2006, recolhidos num inquérito realizado pela Câmara Municipal de Odivelas). Não existe outro registo mais actual e exacto. Mas, nos Termos de Referência para a Elaboração do Plano de Pormenor de Reabilitação Urbana do Sítio do Barruncho, documento datado de Abril de 2009, faz-se referência a cerca de 130 agregados familiares.

Ao contrário da estrutura etária portuguesa, o núcleo do Barruncho é actualmente composto por uma população maioritariamente jovem – com mais de 50% da população abaixo dos 24 anos e com uma população idosa muito reduzida (abaixo dos 5%).87

Relativamente à composição dos agregados familiares, neste núcleo habitacional verifica-se a prevalência de famílias de média dimensão (4 a 5 pessoas); seguem-se as famílias de pequena dimensão (2 a 3 pessoas). Há ainda uma pequena percentagem (de apenas 5%) de famílias unipessoais. Existe também um considerável número de famílias de grande dimensão, até 14 pessoas – que, perfazendo 30%, reflecte culturalmente a origem da população. A média é de 4,7 pessoas por agregado – um valor superior à média do concelho de Odivelas e da AML88.89 Um outro aspecto a ter em conta neste bairro é um significativo número de casos em que, apesar de os agregados serem de os agregados serem considerados diferentes, existem muitas ligações familiares entre os habitantes o que leva, por vezes, a níveis elevados de ocupação dos

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Fonte: INE, I.P. Lisboa, Portugal, 2011, AML e CMO 88

Área Metropolitana de Lisboa

89 Fonte: TOMÁS, A. M. – “Realojamento Social em Portugal, Estudo sobre as expectativas e necessidades da população residente no Bairro do Barruncho face ao futuro realojamento” (2011)

alojamentos. Com o passar do tempo, o crescimento das famílias que habitam o Barruncho reflecte-se na composição do bairro e na sua vivência. Grande parte da população veio juntar-se a parentes próximos e muitos já nasceram no bairro. Muitas famílias partilham a casa entre pais, filhos, netos, primos, parentes chegados… Tudo isto criaum ambiente familiar e chegado, não só dentro de casa mas também nas estreitas ruas que dividem as habitações, nos telhados exteriores e pátios de encontro. A população mostra tendência para continuar o aumento da dimensão das famílias, devido à elevada taxa de natalidade, e à frequência dos fenómenos de reagrupamento familiar.

No que diz respeito à escolaridade, a população do bairro apresenta um gau de instrução baixo. Quanto às condições profissionais, 41% da população é empregada, enquanto 26% estuda. Cerca de, 33% da população encontra-se inactiva90 – um número elevado face à reduzida percentagem de população idosa. É comum verem-se jovens no bairro durante o dia, sentados, a conversar, a observar… Na população mais adulta, muitos correm no dia-a-dia entre trabalhos e trazem para dentro do bairro a “correria” – mas também a alegria de cuidar de uma família grande. A população idosa é mais recolhida, os pequenos pátios e telheiros e também as zonas socias associadas à cozinha, perto da entrada da casa, oferecem um abrigo para estar.

A grande maioria da população, cerca de 80%, aufere um valor inferior ao salário mínimo nacional. De facto, 33% recebe menos de 300 euros mensais. O baixo nível socioeconómico vem acentuar as condições precárias existentes contrariando a vontade de habitar um bairro mais desenvolvido e mais humano.