• Nenhum resultado encontrado

A Construção do Corpus: os procedimentos utilizados no estudo

Vygotsky (2007), aponta uma ruptura com a ideia do esquema estimulo-resposta dos métodos diretos, visto que ele considera que entre o objeto e o produto dele decorrente, há um processo que requer ser compreendido em sua origem e desenvolvimento. Para tanto, é possível inserir um novo estímulo como mediador, o que configura uma atividade interventiva e não somente uma técnica.

Na sua proposta, partindo de uma concepção Histórico-Cultural, Vygotsky nos traz três preceitos básico sobre o método nos estudos no campo da Psicologia. O primeiro concerne ao fato de que se deve analisar os processos e não o produto, já que, segundo este autor, a análise dos fenômenos humanos requer compreender seus processos de construção (VYGOTSKY, 2007).

O segundo preceito que Vygotsky propõe está na explicação do fenômeno, não reduzindo a uma mera descrição, por se voltar para uma análise genotípica. Assim, os processos não podem ser somente descritos, mas devem ser explicados, encontrando sua gênese e suas relações dinâmicos causais. Desta forma, o método analisa como os comportamentos ocorrem de forma mediada (YIGOTSKY, 2007).

Por fim, o terceiro preceito trazido por Vygotsky sobre o método concerne à origem dinâmica-causal dos comportamentos fossilizados, já que para o autor o homem se constrói a partir de um movimento permanente no resgate de sua história. E o comportamento fossilizado é a forma acabada de um processo que precisa ser reestabelecido (VYGOTSKY, 2007).

Desta forma, os procedimentos adotados nesta pesquisa buscaram contemplar tais preceitos abordados por Vygotsky, os quais foram construídos a partir da inserção e da vinculação com estes jovens, ou seja, foi o campo que apresentou a melhor forma de se chegar aos sujeitos.

2.3.1 Entrevista Narrativa

A escolha da entrevista narrativa se deu por esta se apresentar como uma forma viável para chegar aos objetivos e por ser mais fácil de aceitação dos jovens para participar do processo, uma vez que apresentavam resistência em participar de grupos, ainda mais com a temática da violência e dos homicídios juvenis.

35 identidade e dar um novo sentido a sua história, já que as habilidades de contar a história sobre nós mesmos nos forma como sujeito, trazendo a reflexão “[...] o talento narrativo é um traço característico do gênero humano tanto como a posição vertical do polegar oposto [...]” (BRUNER, 2013.p.122).

Faz-se importante entender os processos pelos quais se dão as significações que são criadas, já que o sujeito parte de algum contexto e, a partir disto, e da relação construída com o outro, o significado vem a público e compartilhado com a imersão na cultura (BRUNER, 1997). Neste método de estudo não há um roteiro estruturado, sendo uma entrevista aberta, onde o sujeito reconstrói sua história e o interlocutor busca compreender os fatos a partir da narração de quem fala. No caso desta pesquisa, solicitei que os jovens me contassem sobre suas vidas, depois de apresentar o que era a proposta da pesquisa, e no desenrolar da conversa, pontos importantes que abarcasse a questão dos homicídios juvenis eram abordados.

Aconteceu uma entrevista com cada jovem participante da pesquisa, sabemos que para o tipo de instrumento um encontro é pouco para darmos conta de uma história de vida, mas devido as peculiaridades do tema proposto, o contexto que os jovens estão inseridos e a disponibilidade deles, esse número de encontros foi o que se apresentou ser possível. Jonas e Denis permitiram gravação do áudio da entrevista. João e Pedro não quiseram a gravação do áudio, mesmo sendo explicado que nada seria divulgado, a forma de registro foi a escrita de forma literal do que era dito pelos jovens. Os locais das entrevistas aconteceram respectivamente: Jonas - CUCA Jangurussu, Pedro - sua residência, João - CUCA Barra e Denis na sede do NAPAZ.

Tais entrevistas nos deram a oportunidade de perceber como os jovens redimensionam a questão do homicídio juvenil e como eles ressignificavam tais experiências.

2.3.2 Grupos de Discussão

A primeira tentativa e de inserção nos campos de pesquisa se deu com a ideia de realizar Grupos de Discussão (CASTRO, 2008) com os jovens. O campo nos mostrou que essa não seria uma tarefa fácil. Porém, conseguimos desenvolver dois momentos em grupo, onde foram trabalhadas as temáticas das juventudes, da violência e dos homicídios.

O primeiro grupo foi realizado em maio de 2017 junto com o Grupo de Jovens da “roda do chá” e o tema principal eram as questões dos homicídios e foi facilitado em parceria com

36 estudantes do Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação (VIESES), da Universidade Federal do Ceará. Na ocasião, utilizamos como mote a música “Capítulo 4, Versículo 3” do grupo de rap Racionais MC, além de palavras chaves como: homicídios, violência, juventude e território.

O momento de discussão aconteceu, como de costume, antes do momento de lazer do futebol dos jovens. Participaram cinco jovens, que ficavam indo e voltando, sendo eles com nomes fictícios: Felipe (20 anos), José (17 anos), Renato (18 anos), Antônio (16 anos) e Samuel (14 anos). Nada foi gravado ou fotografado dos jovens, pois não houve autorização, sendo os relatos registrados em diário de campo.

O segundo grupo realizado aconteceu em março de 2018 com estudantes de um curso do programa Jovem Aprendiz de Assistente de Comércio, vinculados ao NAPAZ, no bairro Vicente Pizón. O grupo era composto por jovens com idade a partir de 18 anos, de ambos os sexos, sendo a sua maioria composta por mulheres.

Na ocasião, para facilitar a discussão lancei a mão do artifício de usar manchetes de jornais sobre as questões da violência urbana, homicídios de jovens, disputas territoriais, chacinas em Fortaleza e feminicídios. Além disso, um pequeno roteiro para nortear a discussão foi utilizado. Participaram do momento: Fabrícia (18 anos), Milena (20 anos), Fernanda (20 anos), Manoela (18 anos), Luiza (19 anos), Maria (24 anos), Isis (21 anos), Julia (20 anos), Denise (22 anos), Camila (22 anos), Dênis (19 anos) e Lucas (18 anos). Os jovens autorizaram gravar a roda de conversa e o debate. Posteriormente a esse encontro, Dênis aceitou em participar do momento de entrevista narrativa.

Os registros do grupo de discussão foram realizados por diário de campo, pois não houve a disponibilidade dos jovens em gravar os momentos. Apesar do rico material, optamos por utilizar de forma muito reduzida o material construído nesses encontros. O primeiro motivo se dá por questões de que nem todos os jovens concordaram em participar da pesquisa, com assinatura do termo e o segundo aconteceu pelo tempo que seria necessário para analisar e realizar uma triangulação com os outros instrumentos de pesquisa. Desta forma, nosso foco de análise foi o conteúdo das entrevistas narrativas.