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3.1 A cidade Contemporânea

3.1.1 A contemporânea cidade de Pelotas

Pelotas é uma cidade de porte médio19 localizada no extremo sul do Estado do Rio Grande do Sul do Brasil. Considerado uma das capitais regionais do país, o município possui uma população de 327.778 habitantes e é a terceira cidade mais populosa do estado20, ocupando uma área de 1.609 km² e onde cerca de 92% da população total reside em zona urbana. Localiza-se às margens do Canal São Gonçalo que liga as Lagoas dos Patos e Mirim, e a 250 quilômetros de Porto Alegre, a capital do estado.

A cidade tem proximidade com a fronteira Brasil-Uruguai e teve forte influência da estética espanhola e portuguesa, marcada pelas edificações sem recuos e pelo traçado viário reticulado. As edificações históricas são reconhecidas pelo estilo eclético historicista, edificadas entre os anos de 1870 e 1931, coincidindo com o rico período econômico devido à produção de charque (SANTOS, 2007).

A imagem da figura 27 apresenta a cidade de Pelotas atual. Em primeiro plano a zona central da cidade, onde predominam o traçado quadriculado, os edifícios em altura e seus atrativos comerciais; ao fundo o Canal São Gonçalo. As grandes áreas verdes são praças que concentram a vegetação em meio à crescente urbanização.

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Pelo IBGE, as cidades médias têm entre 100 mil e 500 mil habitantes. Fonte disponível em: <http://www.centrocelsofurtado.org.br/interna.php?ID_M=496>. Acesso em maio de 2014.

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Dados gerais de Pelotas/RS. Fonte disponível em: <http://www.pelotas.rs.gov.br/cidade/dados- gerais.php> Acesso em maio de 2014.

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Figura 27 - Vista aérea da cidade de Pelotas, ao fundo o canal São Gonçalo. Fonte da internet. Disponível em: <http://feriaspelobrasil.com.br/pelotas-rs/> Acesso em maio de 2014.

O mapa (figura 28) indica as delimitações da cidade, principais estradas, rotas, a Lagoa dos Patos e o Arroio São Gonçalo.

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Figura 28 - Mapa de Pelotas/RS, Rio Grande do Sul, Brasil. Fonte: da internet. Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/place/Pelotas> Acesso em maio de 2015.

Rio Grande | Uruguai

Porto Alegre

Lagoa dos Patos Arroio São Gonçalo

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Atualmente, com 202 anos, a cidade mantém sua principal economia vinculada ao comércio e tem sofrido um inchaço populacional devido a dois fatores principais. Em primeiro lugar, a proximidade física com a cidade de Rio Grande (56 quilômetros) cuja implantação e desenvolvimento do pólo naval (desde 2006) tem atraído pessoas de todos os cantos do país em busca de empregos, que, por um lado, estimulam os investimentos e a economia do sul do estado, por outro lado, trazem mudanças significativas na sua rotina, causando alterações estruturais e sociais, então, pela escassez de imóveis em Rio Grande, muitos indivíduos optam por residir em Pelotas (FEIJÓ; MADONO, 2013).

Em segundo lugar, desde 2009 o Ministério da Educação brasileiro tem utilizado o Sistema de Seleção Unificada (SiSU) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em substituição ao vestibular, para os estudantes que desejam ingressar nos cursos de graduação em instituições públicas de ensino superior. Então, uma enorme migração de estudantes pelas cidades do país tem ocorrido e, visto que, Pelotas é um centro universitário que abriga cinco instituições de ensino superior, dentre elas a UFPEL (Universidade Federal de Pelotas) e o IFSUL (Instituto Federal Sul-Rio- Grandense), tem atraído milhares de estudantes, de todas as regiões do Brasil. Tais fatores propiciam à cidade uma potente mistura cultural, é um conviver entre as diferenças diariamente, diferentes costumes, sotaques, estilos e desejos convivendo no cenário urbano da contemporânea cidade de Pelotas.

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A experiência por suas ruas - no contexto marcado pela recente comemoração dos seus duzentos anos e que mantém uma imagem cartão-postal, evidenciando seus símbolos turísticos e de formação da cidade, chamando os turistas e vendendo suas terras a investidores de fora - demonstra que a realidade é um tanto quanto diferente da fotografia vista através de sites e materiais publicitários. A realidade da cidade apresenta, num geral, características muito semelhantes às das cidades contemporâneas, desenvolvidas no item anterior. Um fenômeno que se repete na maioria, senão totalidade das cidades latino-americanas, a exemplo a construção de diversos loteamentos fechados em zonas afastadas da área central e a precariedade do transporte público municipal, que incentivam a utilização do transporte individual acarretando diversos problemas de circulação no sistema viário.

A experiência urbana que tem se inscrito aqui é marcada por difícil mobilidade e pouca participação popular nas decisões de gestão pública, caracterizada ainda, e cada vez mais, pela insegurança e pela poluição. Os espaços urbanos se mostram desqualificados, o deslocamento de portadores de necessidades especiais, por exemplo, é dificultada pelos projetos mal executados das rampas de acesso aos passeios na zona central da cidade, pelas calçadas esburacadas, desniveladas e pela ausência de marcadores de piso tátil; aspectos facilitadores da acessibilidade e da mobilidade física não apenas dos especiais, mas da população em geral. Pode- se ainda citar questões como alagamentos, carência de ciclovias e de qualidade do sistema viário... mas este aprofundamento não é uma intenção neste momento.

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São múltiplos os corpos que constroem essa cidade, e são múltiplos também seus fomentos, suas intenções, suas singularidades e seus desejos, convivendo diariamente, circulando por suas ruas planas que chamam à caminhada. Porém, o chamado é ao mesmo tempo inibido pelo medo crescente aos assaltos que se espalham e que tornam a cidade cada vez mais violenta, murada e gradeada. Carência de espaços culturais, destinados à shows, teatros e espetáculos, carência de espaços abertos estruturados que agreguem a população, onde ocorre o lazer dos residentes em Pelotas? Não estariam mesmo no espaço público? Cabe então qualificar esses lugares, estimular sua vivência!

O que interessa então é explorar algumas micro-resistências que tem se criado aqui, interferindo, tensionando e questionando o sistema e seus modos de produção vigente. Ações que tem estimulado novas maneiras de pensar e produzir a cidade, em especial aquelas que participam na construção de ações no espaço público a fim de acolher e estimular a criação, o encontro, as diferenças e a vida em sociedade. E existem muitas ações de resistência nesse contexto de pluralidade cultural e social na qual a cidade de Pelotas tem se construído. Tratam-se de agentes que atuam, através de ações artísticas e culturais, desterritorializando espaços cotidianos, de passagem, criando novos cenários no ambiente urbano, efêmeros cenários, incentivando a vivência na rua, aproximando as diversidades, as idades e os interesses, através da cultura, da arte e do lazer.

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Figura 29 - Evento Piquenique Cultural em Pelotas. Fonte da internet. Disponível em: <https://www.facebook.com/PiqueniqueCultural> Acesso em maio de 2014.

Eventos culturais (figura 29) intervenções artísticas e escritas urbanas são algumas atitudes que se utilizam da rua para fomentar a arte e destituir as fronteiras estabelecidas. São possibilidades de apropriação do espaço urbano, inserindo ali ações artísticas, estimulando a criação de outras realidades, novos sentidos, alimentando o diálogo e a interação entre as diferenças, contribuindo à produção

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das subjetividades e a novos modos de existência mais sensíveis. Desta forma, os lugares de convivência vão sendo reativados e a cidade se renovando.