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O ser humano sente a necessidade de compreender a si próprio, bem como, o mundo em que vive num determinado contexto social e histórico. Por sua vez, a ação humana implica numa busca intensa e incansável pelo conhecimento. O homem imbuído de curiosidade perante algo desconhecido procura interagir constantemente com a realidade, a fim de atender

as suas necessidades vitais e, por conseguinte, o conhecimento acerca do real vai sendo produzido como possibilidade de resposta as suas diversas inquietações.

Neste movimento complexo, “o conhecimento permite a compreensão e a explicação do contexto circundante [...]. Conhecer é ambientar-se. Esse processo de ambientação é contínuo” (DMITRUK, 2001, p. 22). Em outras palavras, a busca pelo conhecimento é um processo inacabável e permanente, haja vista que o ser humano se encontra inserido numa realidade complexa e dinâmica.

Para tanto, é fundamental estabelecer uma relação entre o agente na condição de sujeito investigador e a sua ação em direção a algo a ser descoberto. Este processo é construído a partir de uma relação dinâmica em que tanto o sujeito (agente da ação) e o objeto (que pode ser outro sujeito) constroem uma relação de reciprocidade. Segundo Dmitruk (2001, p. 23) “a definição de sujeito é dada por sua conexão com o objeto e deste, por sua vez, com o primeiro”.

No entanto, é surpreendente que o mesmo objeto pode ser apropriado e interpretado sob diversas formas, variando conforme o método de leitura utilizado para explicar a realidade. O ser humano é capaz de atribuir diversos significados à realidade que o cerca e, por conseguinte, o acesso à realidade pode ocorrer por diversos caminhos.

Diante do exposto, pode-se afirmar que para contribuir com a produção do conhecimento é necessário pesquisar. Logo, o ato de pesquisar do ser humano está intrinsecamente vinculado com a produção de conhecimento, pois este último visa compreender algum fragmento do real. Sendo assim, “[...] a pesquisa é um labor artesanal, que se não prescinde da criatividade, se realiza fundamentalmente por uma linguagem fundada em conceitos, proposições, métodos, técnicas, linguagem esta que se constrói com um ritmo próprio e particular” (MINAYO, 1994, p. 25).

A pesquisa como atividade humana intencional se caracteriza por ser um processo que termina sempre com um produto provisório. Nesta direção, Minayo (1994) entende que a pesquisa implica no recorte da realidade e, em seguida, o pesquisador precisa eleger um fragmento do real. Feito isto, a próxima etapa é definida a partir da construção de uma estratégia para entrar na própria realidade a ser pesquisada.

4.1.2 O caminho de construção da pesquisa

O interesse de desenvolver o presente estudo surgiu da experiência acadêmica da estagiária do serviço social que atuou junto ao setor de serviço social da 2ª Vara de família da

Comarca da Capital de Santa Catarina durante o período de agosto de 2008 até junho de 2009. Neste ínterim, parte do estágio ocorreu no setor de triagem do SMF no mês de outubro de 2008.

A aproximação com o tema da pesquisa, durante o estágio na área de serviço social, trouxe inquietações à estagiária, no sentido de buscar conhecer com mais acuidade a proposta do SMF. Vale ressaltar que este movimento de construção do processo de investigação sobre a mediação familiar foi catalisado em decorrência da sua participação direta na etapa da coleta de dados referente à pesquisa constituinte da tese de doutorado, realizada pela assistente social Eliedite Mattos Ávila, sobre “Os efeitos da mediação familiar nos casos de separação”.

Em decorrência da aproximação da estagiária com a referida pesquisa, é oportuno afirmar que este envolvimento foi um momento ímpar, haja vista que desencadeou a sua inquietação com as questões pertinentes à mediação familiar, ou melhor, tentou-se fazer a interlocução sistemática entre a mediação familiar e as suas situações que envolvem a presença de pais e mães separados.

Segundo Minayo (1994, p. 17-18) “as questões da investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas. São frutos de determinada inserção no real, nele encontrando suas razões e seus objetivos”. Tendo em vista a exitosa experiência da acadêmica em processo de aprendizagem na área do serviço social, é significativo afirmar que a experiência partilhada na sua vida a levou à construção de um tema capaz de engendrar a sua pesquisa. Nesta direção, a acadêmica percebeu elementos que a instigaram buscar responder se o funcionamento do SMF do Fórum da Capital de Santa Catarina, como mecanismo de acesso à justiça, contribui, de fato, com a garantia do exercício do poder familiar pelos pais e mães separados?

Ocorre que no espaço institucional há inexistência de acompanhamento das famílias atendidas pelo referido setor, para tanto, entende-se que após a utilização do serviço, finalizada com a homologação do acordo judicial em audiência pelas partes, é essencial que haja uma coleta de dados sobre a situação de famílias com filhos menores de idade na sua composição. O efeito da ruptura conjugal e manutenção do vínculo parental implicam o surgimento de mudanças na organização de cuidados dos pais e mães separados no que se refere à pessoa dos filhos.

Considerando que a proposta desse trabalho iniciou a partir de reflexões suscitadas durante a prática do estágio supervisionado da acadêmica, este estudo tem como objeto as famílias monoparentais atendidas pelo SMF do Fórum da Capital de Santa Catarina. De uma forma geral, o objetivo é compreender o exercício do poder familiar, após a ruptura do

vínculo conjugal de famílias monoparentais que foram atendidas pelo SMF. Nesta linha, desmembram-se os objetivos específicos, isto é, a pesquisa busca identificar a organização familiar de proteção aos filhos; compreender como se dá a participação dos pais e mães separados na vida dos filhos; identificar o(s) tipo(s) de comunicação entre pais e mães separados sobre as necessidades dos filhos; e, compreender como se configura a resolutividade do SMF na dinâmica de famílias monoparentais.

Tendo em vista o modo como a estagiária chegou à problematização, faz-se necessário relacionar a realidade empírica com os elementos vinculados ao serviço social. Sendo assim, entende-se que a ingerência do Estado na família é fundamentada pelo vínculo político entre os membros da família e o Poder Judiciário. O Judiciário é apresentado como um mecanismo externo de proteção social. Para tanto, inspirado na “Doutrina da Proteção Integral”, o ECA, no título VI, artigo 141, dispõe: “é garantido o acesso a toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos”.

Aqui, o legislador deste ordenamento jurídico infraconstitucional objetivou transcender o acesso à Justiça não apenas a Vara especializada da Infância e Juventude, mas também a todos os órgãos jurisdicionais como um exercício de cidadania. Conforme a C.F./88, o acesso à justiça é um dos valores imprescindíveis para a efetivação dos direitos humanos, especialmente o direito da criança e do adolescente considerados como um dos membros mais frágeis do grupo familiar, portanto, são aqueles que requerem a proteção integral (VERONESE, 2006).

É relevante o fato de que geralmente as famílias que procuram o SMF têm uma necessidade sociojurídica, especialmente devido a sua situação de conflito diante da ruptura do vínculo conjugal. Nesta linha, as situações revelam a ruptura de todo um contexto de vida cujos pais, mães e filhos estavam inseridos.

Para tal, é importante a existência de um estudo que transcenda o espaço da mera efetivação do acordo judicial pelas partes em audiência, a fim de adentrar o âmago das relações familiares, após a homologação do acordo em audiência pelo magistrado.

Sendo assim, considerando o entendimento de quando a família não consegue responder as suas necessidades decorrentes das intempéries da vida, como a ruptura do vínculo conjugal, é fundamental a ingerência do Estado, como mecanismo externo de proteção aos membros familiares.

Mediante o exposto, os dados da pesquisa são informações relevantes para o setor de serviço social, responsável pela coordenação do SMF, visto que a partir do estudo desenvolvido vislumbra-se a tentativa de contribuir com o trabalho dos profissionais do serviço social que têm relação direta com o método da mediação familiar aplicado à resolução de conflitos.

A relevância deste trabalho também se sustenta por oportunizar a contribuição com a produção do conhecimento acerca das relações parentais na dinâmica familiar. A apresentação dos resultados do estudo é uma oportunidade de se aventar, caso seja necessário, posteriormente, uma discussão pormenorizada na área de serviço social sobre a aplicação da mediação familiar em questões de direito de família.