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A Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF)

3 O financiamento da Seguridade Social durante o governo de

3.1 As Principais Contribuições voltadas para o Financiamento da

3.1.4 A Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF)

A criação da contribuição sobre movimentação financeira ocorreu no contexto da expansão da carga tributária praticada pelo Governo Federal.

A Contribuição que hoje existe como tal foi criada na forma de um imposto, o Imposto Provisório sobre a Movimentação ou a Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira - IPMF, em julho de 1993, pela Lei Complementar nº. 77. A alíquota estabelecida era de 0,25%. (BRASIL, 1993a).

O Governo Federal, com a instituição do IPMF, arrecadou, em 1993, R$ 252 milhões e, em 1994, R$ 4,97 bilhões (IBPT). Em 1995 a arrecadação sofreu uma queda brusca, sendo de R$ 162 milhões, devido a uma Ação Direta de Inconstitucionalidade sobre o imposto, que foi criado sem obedecer a alguns preceitos tributários da Constituição, principalmente o da temporalidade.

A Emenda Constitucional nº. 12, de 1996, abriu a possibilidade de criação da contribuição ao acrescentar o Art. 74 aos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que autoriza a União a “[...] instituir contribuição provisória sobre movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira” (BRASIL, 1996b). Em seu parágrafo terceiro, destina o produto da arrecadação da CPMF “integralmente ao Fundo Nacional de Saúde, para financiamento das ações e serviços de saúde” (BRASIL, 1996b). A CPMF foi instituída pela Lei nº. 9.311, de outubro de 1996, e modificada pela Lei nº. 9.539, de dezembro de 1997.

Em 1999, por meio da EC nº. 21, foi prorrogada pelo prazo de 36 meses, até 2001, com alíquota de contribuição de 0,30%. O § 2º do art. 75 da ADCT dispõe que “o resultado do

acréscimo da arrecadação, decorrente da alteração da alíquota, nos exercícios financeiros de 1999, 2000 e 2001, será destinado ao custeio da previdência social” (BRASIL, 1999a). Corresponde ao resultado dos 10 pontos percentuais adicionais arrecadados.

Com a criação do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, em 2001, ficou estabelecido, pela própria Lei do fundo, que 8 pontos percentuais adicionais à arrecadação da CPMF serão destinados ao mesmo. Com isso, a alíquota passou a ser de 0,38%.

Em 2002, quando a CPMF já não tinha mais validade por sua cobrança estar prevista somente até dezembro de 2001, foi “prorrogada” até 31 de dezembro de 2004, sendo aumentada também a vigência da Lei 9.311, que regulamenta a cobrança dessa contribuição.

A diferença é que, pela EC nº. 37 de 2002 (BRASIL, 2002), a CPMF não mais incidirá sobre movimentações financeiras que visem à valorização do capital financeiro92 e sobre a compra e venda de ações, nem mesmo para estrangeiros. Essa mudança configura mais um passo em direção ao aumento da liberdade do movimento do capital especulativo parasitário. Ao mesmo tempo, representa um novo “incentivo fiscal” que, ao mesmo tempo em que facilita as condições para a valorização do capital, reduz as fontes de financiamento para a Seguridade Social. Lembrando o que vem sendo reafirmado ao longo desse trabalho e por muitos outros autores, é mais um exemplo do Estado “mínimo para o trabalho e máximo para o capital”.

Contudo a CPMF também sofre os efeitos da desvinculação93 e seu impacto positivo sobre o financiamento da Seguridade Social também é minorado por essa prática.

Uma outra contribuição que poderia ser uma importante fonte de recursos para a Seguridade é a que incide sobre a Receita Líquida de Concursos de Prognósticos, uma das mais antigas, criada em 1967. Os contribuintes são os apostadores em concursos e apostas nos três níveis de governo e de sociedades comerciais. A alíquota é de 5% sobre a

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Por meio da criação da “Conta Investimento”, cujas transações são isentas da CPMF, o investidor pode resgatar uma aplicação qualquer, remeter a essa conta e reaplicar o recurso sem pagar a Contribuição.

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Em que pese disposição em contrário do Tribunal de Contas da União, que, por meio da Decisão nº 620/98, ratificou seu entendimento de que “não se aplicam as disposições do art. 72, inciso IV (do ADCT) referentes à dedução de 20%, destinadas ao Fundo de Estabilização Fiscal” (apud FRAGA, 2000, p. 30) e, portanto, o total da arrecadação deveria ser alocado nos Fundos Nacional de Saúde e de Combate e Erradicação da Pobreza, além da cobertura dos benefícios pagos pela previdência.

arrecadação líquida dos prêmios, dos impostos e das despesas administrativas. Com a Constituição essas receitas passaram a constituir uma das fontes do OSS, exceto a parcela destinada ao custeio do Programa de Crédito Educativo (BOSCHETI, 2003a, p. 221).

Por fim, a contribuição do PIS/PASEP é devida por todas as pessoas jurídicas de direito privado e pelos governos e suas autarquias e empresas públicas. Pago sobre a folha ou o faturamento mensal, dependendo do caso, destina-se ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), financiando o seguro-desemprego, o abono do PIS e o programa de desenvolvimento a cargo do BNDES. Essa contribuição também é desvinculada.

Quando foram ampliadas as contribuições existentes em 1988 e criadas outras, não se tinha em mente financiar benefícios sociais ampliados no campo da Seguridade. Tanto que as Contribuições Sociais não têm sido alocadas de acordo com os preceitos constitucionais94. As receitas aumentaram, mas são utilizadas principalmente para o ajuste fiscal.

O tópico 3.3 mostrará a arrecadação de cada uma dessas contribuições entre os anos de 1995 a 2002, além de sua destinação a cada uma das políticas componentes da Seguridade Social. Para se entender os resultados que lá serão apresentados, o próximo tópico trata da desvinculação das receitas praticada pela União desde 1994.

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Dain (1999), ao fazer um estudo das Reformas Tributárias encaminhadas durante o governo FHC, percebe um agravamento do descompromisso com as áreas priorizadas pela Seguridade Social em 1988, pois não está presente nas discussões a consideração da necessidade de financiamento do gasto social.

3.2 Fundo Social de Emergência (FSE), Fundo de Estabilização Fiscal