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2. A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

2.1. O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos

2.1.3. A Convenção Americana de Direitos Humanos

A Convenção Interamericana de Direitos Humanos – ou Pacto de San Jose da Costa Rica – foi assinada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em 22 de novembro de 1969, e estabelece normas sobre direitos econômicos, sociais e educacionais (culturais), e quais órgãos serão encarregados de tal matéria, bem como a estrutura, competência e processo destes órgãos (CONVENÇÃO Americana, acesso em 2004).

Apesar de ter como modelo a Convenção Européia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais e o Pacto de Direitos Civis e Políticos das Nações

que suas disposições estabelecem garantias mais avançadas e abrangentes do que aquelas (BUERGHENTAL, Norris e Shelton, 1990, p. 42)11.

Em sua primeira parte, a Convenção Americana trata da obrigação dos Estados de respeitar os direitos e liberdades por ela reconhecidos, e do dever dos Estados que a ela aderirem de adotar disposições em suas respectivas legislações internas de modo a garantir os direitos e liberdades constantes na mesma.

Assim, o Pacto institui, para os Estados, os chamados “deveres negativos”, que proíbem o Estado de praticar qualquer ato que viole direitos assegurados, e, ao mesmo tempo, os “direitos positivos”, que obrigam o Estado atuar de modo que sejam conferidas as condições necessárias para o exercício de outros direitos (STEINER, 2000, p. 50; BUERGHENTAL, Norris e Shelton, 1990, p. 42).

Quanto aos direitos civis e políticos, o Pacto versa sobre o direito à vida, ao reconhecimento da personalidade jurídica, à integridade pessoal, à liberdade pessoal, proibição da escravidão e da servidão, garantias judiciais, princípio da legalidade e da retroatividade, direito à indenização, proteção da honra e da dignidade, liberdade de consciência e de religião, de pensamento e de expressão, direito de retificação ou resposta, de reunião, liberdade de associação, direito de circulação e de residência, proteção da família, direitos da criança, direito ao nome, à nacionalidade, à propriedade privada, direitos políticos, igualdade perante a lei, proteção judicial (GASPAROTO, op. cit., p. 52).

Em relação aos direitos econômicos, sociais e culturais, o art. 26 os menciona, dizendo que os Estados comprometem-se a adotar providências, tanto internamente quanto mediante cooperação internacional, para conseguir que sua efetividade ocorra de forma progressiva, mas não define tais direitos: apenas diz que são aqueles que decorrem das normas

econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes na Carta da Organização dos Estados Americanos.

O art. 25.1 listava que seriam esses direitos: a diversificação da produção e melhores sistemas para industrialização acelerada e diversificada; maior produtividade agrícola; expansão do uso da terra; salários justos, oportunidades de emprego e condições de trabalho aceitáveis para todos; nutrição adequada, particularmente por meio da aceleração dos esforços nacionais para incrementar a produção e disponibilidade de alimentos; erradicação rápida do analfabetismo e ampliação, para todos, das oportunidades no campo da educação, entre outros.

O art. 26.1 estabelecia o dever dos Estados de informar periodicamente, à Comissão, as medidas que estivessem adotando para garantir os direitos acima definidos, e propugnava a celebração de uma Convenção Especial ou um Protocolo Adicional à Convenção Americana (HANASHIRO, 2001, p. 33).

Em razão da impossibilidade política de inclusão de todos os direitos sociais, econômicos e culturais em apenas um artigo, e também porque os termos referentes aos mecanismos para a proteção desses direitos estavam muitos vagos, ficou decidido que tal discussão seria realizada em outro momento. O tema foi solucionado quando firmado o Protocolo Adicional da Convenção Americana de Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ou Protocolo de San Salvador. Também na Conferência foi ampla a resistência dos Estados quanto à formulação dos relatórios sobre a matéria.

Quanto aos deveres das pessoas, a Convenção Americana de Direitos Humanos estabelece que toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a humanidade, e que os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos das outras pessoas, e também pela

segurança de todos e pelas exigências que visem o bem comum, numa sociedade democrática (CONVENÇÃO, art. 32).

É o primeiro documento internacional de direitos humanos que proíbe, de forma expressa, a suspensão das “garantias indispensáveis” para proteger direitos, e também é pioneiro ao corporificar em um único instrumento normas substantivas relativas a esses direitos, e normas dotadas de sanção (HANASHIRO, 2001, p. 32).

No que se refere à suspensão de garantias, a Convenção estabelece que poderão ser adotadas disposições que suspendam as obrigações contraídas no documento, sendo que estas disposições não devem ser incompatíveis com as demais obrigações impostas pelo Direito Internacional, e não podem se tornar pretexto para discriminação fundada por motivo de raça, sexo, cor, religião, idioma ou origem social. Ademais, o Estado-Parte só poderá adotar tais disposições nos casos de guerra, perigo público, ou outra emergência que ameace a independência ou a segurança deste Estado (CONVENÇÃO, art. 27, 1).

Cumpre lembrar que há direitos que não podem ser suspensos, sendo estes aqueles relacionados no art. 27 da CADH: direito ao reconhecimento da personalidade jurídica (art. 3), direito à vida (art. 4), direito à integridade pessoal (art. 5), proibição da escravidão e servidão (art.6), princípio da legalidade e da não-retroatividade (art. 9), liberdade de consciência e de religião (art. 12), proteção da família (art. 17), direito ao nome (art. 18), direitos da criança (art. 19), direito à nacionalidade (art. 20), e os direitos políticos (art. 23); assim como as garantias indispensáveis à proteção desses direitos também não podem ser suspensas.

Em sua segunda parte, a Convenção seguiu o modelo europeu, quanto à fiscalização e julgamento. Estabeleceu, como órgãos competentes para apreciar os assuntos relativos ao

Interamericana de Direitos Humanos, encarregada de investigar fatos de violação de suas normas, e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que tem jurisdição obrigatória apenas aos Estados membros do Pacto que a aceitem de forma expressa (COMPARATO, 2003, p. 367).

Porém, quanto às denúncias apresentadas à Comissão, a Convenção não seguiu o modelo da Convenção Européia, pois, na Convenção Americana, o direito de petição individual é de aceitação automática quando ratificado este documento pelo Estado Parte. (CANÇADO TRINDADE, 1988, p. 52).

A Convenção Interamericana é considerada documento fundamental do sistema interamericano de direitos humanos, e respaldou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que vinha operando desde 1960, e a ele aderiram atualmente 25 (vinte e cinco) Estados (CONVENÇÃO Americana sobre Direitos Humanos: signatários e estado atual das ratificações, acesso em 2013).