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A Cooperação Internacional como Meio Facilitador de Obtenção de Provas

4 DIFICULDADES NA COLHEITA DE ELEMENTOS INFORMATIVOS E NA

4.3 A Cooperação Internacional como Meio Facilitador de Obtenção de Provas

O mundo virtual transmite a falsa impressão de que o anonimato é, de fato, eficiente. O crime praticado no mundo real sempre deixa vestígios, assim como o crime cibernético. Em contrapartida, os vestígios deixados pelo crime virtual pode durar pouco tempo, o que demanda meios eficazes de investigação.

As possibilidades trazidas pela criação de novos dispositivos informáticos, como, por exemplo, os smartphones e tablets, são inúmeras. Nada obstante, o combate ao crime informático também precisou se adaptar à nova realidade, haja vista que tais evoluções da tecnologia possibilitam o acesso irrestrito dos criminosos ao ambiente cibernético.

Segundo DOMINGOS, para obter a identidade daquele que postou material ilícito na internet, deve-se requerer aos provedores de aplicações de internet os registros de acesso a

aplicações do usuário responsável pela postagem201. Nesse seguimento, DOMINGOS

conceitua:

Temos que registros de acesso a aplicações a internet, conteúdo de comunicações telemáticas, assim como registros de conexão são elementos de prova armazenados de forma digital pelo provedores de aplicações para os dois

199 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/1321701.pdf>. Acesso em: 4 jun. 2017. 200 WOLFF, Rafael. op. cit., p. 232.

201 DOMINGOS, Fernanda Teixeira Souza. A obtenção das provas digitais na investigação dos delitos de violência e exploração sexual infantil online. Conforme SILVA, Ângelo Roberto Ilha da (Org.). Crimes Cibernéticos .Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2017. p. 239/240.

primeiros e de conexões para os últimos, pois a partir deles é que se pode individualizar a autoria dos crimes cibernéticos, isto é, dos delitos cometidos por intermédio de sistemas informatizados ou rede mundial de computadores.202

Com o surgimento de um obstáculo para colheita de provas nos casos em que os provedores de aplicações não possuem sede no território nacional, mas apenas no estrangeiro, a Lei nº 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, passou a prever, em seu art. 11:

Art. 11. Em qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, de dados pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de aplicações de internet em que pelo menos um desses atos ocorra em território nacional, deverão ser obrigatoriamente respeitados a legislação brasileira e os direitos à privacidade, à proteção dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros.

§ 1o O disposto no caput aplica-se aos dados coletados em território nacional e ao conteúdo das comunicações, desde que pelo menos um dos terminais esteja localizado no Brasil.

§ 2o O disposto no caput aplica-se mesmo que as atividades sejam realizadas por pessoa jurídica sediada no exterior, desde que oferte serviço ao público brasileiro ou pelo menos uma integrante do mesmo grupo econômico possua estabelecimento no Brasil.203

Portanto, segundo DOMINGOS, não são relevantes as alegações de que os registros de acesso a aplicação de Internet ou o conteúdo de comunicações telemáticas estariam armazenados sob outra jurisdição, uma vez que a lei brasileira deverá ser aplicada nos casos de

coleta, armazenamento, guarda e tratamento dos registros.204

Em contrapartida, uma grande dificuldade é encontrada quando provedores estrangeiros que não possuem representação no país são responsáveis pelo armazenamento, coleta, guarda e tratamento dos registros, pois muitas empresas estrangeiras resistem ao oferecer informações às autoridades nacionais. Por isso, deve-se buscar mecanismos de cooperação internacional a fim de que as provas digitais sejam alcançadas.

Importante é a ratificação pelo Brasil da Convenção sobre Cibercrimes, na medida em que ela dispõe de mecanismos de regulação dos procedimentos para a assistência mútua entre

os países signatários, o que facilita a comunicação no combate ao crimes cibernéticos.205

A INTERPOL (International Criminal Police Organization) trata-se um organismo responsável pela cooperação internacional policial, pois é um mecanismo que administra informações para que cada Estado seja auxiliado nas suas investigações policiais. A INTERPOL facilita a troca de informações quando se verifica, em investigações policiais,

202 DOMINGOS, Fernanda Teixeira Souza, op. cit., p. 240.

203 BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 abril de 2014. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

2014/2014/lei/l12965.htm> Acesso em: 5 jun. 2017.

204 DOMINGOS, Fernanda Teixeira Souza. op. cit., p. 241. 205 Idem, p. 246.

dados informáticos advindos de outro país, o que prejudicaria o conhecimento da identidade do agente delituoso. Valoroso é o entendimento de DOMINGOS:

Nos delitos cibernéticos de disseminação de pornografia infantil via web, é comum que no bojo dessas investigações em determinado país sejam identificados IPs e dados de conexão utilizados na prática criminosa de usuários de Internet pertencentes a outro país. Situação em que a polícia desse país e envia as informações para o país onde os IPs identificados são alocados para que as investigações sejam desenvolvidas com relação às imagens e vídeos disseminados a partir desse local, tanto por ser de atribuição do país investigar e processar os delitos cometidos a partir de seu próprio território, quanto por ser mais provável que o criminoso seja identificado no local de onde disseminou as imagens e vídeos.

Nesses casos, em que há a troca pelas autoridades competentes de diferentes estados de informações relevantes às investigações que ocorre em geral por intermédio da INTERPOL, há a presunção de regularidade na obtenção e transmissão de tais informações conforme a legislação do país de origem. No entanto, afigura-se prudente que os investigadores submetam a prova ao Judiciário para validação e autorização de uso.206

DOMINGOS expressa, ainda, a importância da carta rogatória e do auxílio direto ou pedido de assistência mútua jurídica. A carta rogatória representa requerimentos direcionados a uma jurisdição estrangeira para que esta cumpra algum ato instrutório a fim de colaborar com investigação ou processo do país rogante. O auxílio direto, por seu turno, também conhecido como pedidos de assistência mútua jurídica, tem por objetivo a colheita de provas no combate à criminalidade transnacional, no qual consiste em requerimento de um Estado a outro, ultrapassando as medidas de cooperação internacional, a fim de que o Estado solicitado, em conformidade com a lei, auxilie nas investigações, atendendo às solicitações. Um exemplo de

requerimento seria a quebra de um sigilo telemático. 207

A investigação virtual no Brasil encontrou diversos impedimentos construídos pela tecnologia, seja pela criptografia, seja pela ausência de efetivos acordos internacionais no combate à criminalidade cibernética ou, até mesmo, pela eficiência dos criminosos em fazer desaparecer as informações rapidamente da rede. Sabe-se, contudo, que encontrada a prova virtual, esta deve seguir todos os requisitos das provas comuns, acarretando, portanto, na necessidade de uma análise técnica-pericial.

4.4 A Observância aos Princípios do Nemo Tenetur se Detegere e da Proporcionalidade.