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I. FRONTEIRA, COOPERAÇÃO TRANSFRONTEIRIÇA E DESENVOLVIMENTO

4. E XPERIÊNCIAS DE C OOPERAÇÃO T RANSFRONTEIRIÇA NA E UROPA

4.1. A Cooperação Transfronteiriça entre Itália e Eslovénia

A linha de fronteira entre a Eslovénia e a Itália apresenta cerca de 280 km, dos quais 232 km pertencem à fronteira terrestre e 48 km à fronteira marítima. Esta linha de fronteira situa-se desde a área dos Alpes até ao norte do mar Adriático. As caraterísticas físicas deste limite fronteiriço são muito distintas, podendo observar-se diversas formas de relevo, algumas de maior altitude e com grandes discrepâncias, sobretudo a partir do norte da província de Gorizia até à linha de fronteira da Áustria. Existem ainda outras formas de relevo a destacarem-se como a formação de várias colinas entre os Alpes e o norte do mar Adriático, na qual se integra a linha de fronteira pertencente às províncias de Trieste e Gorizia (Caramelo, 2005).

Em relação à sua posição geoestratégica, a fronteira entre a Itália e a Eslovénia assume uma grande importância no que respeita à sua articulação, pois liga diferentes espaços europeus tal como já referimos antes. Esta fronteira é ainda considerada um ponto de encontro de culturas, tais como a eslava, a latina e a germânica. Na escala regional, esta fronteira, sobretudo a marítima, possui uma grande área de influência, devido ao porto de Trieste estar servido com boas acessibilidades, tanto rodoviária como marítima com ligação a países situados na área geográfica envolvente, tais como Eslováquia, Croácia, Hungria, Áustria, Alemanha, República Checa e Suíça. Importa ainda referir que a cidade de Trieste, apesar de ter perdido algum do prestígio de

outrora, é ainda hoje o centro urbano principal desta região transfronteiriça (Caramelo, 2005).

Fonte: ArcGis. Autoria Própria.

Figura 4. A Região Transfronteiriça de Itália e Eslovénia

4.1.2. A região transfronteiriça de Itália e Eslovénia

A região transfronteiriça entre estes dois países apresenta características muito peculiares que se distinguem de todas as outras regiões de fronteira existentes na Europa, e que em conjunto contribuíram para a sua identidade histórica e cultural (Bufom, 2002) e sobretudo pelo facto de a Eslovénia ter passado por algumas alterações ao nível geopolítico, administrativo e económico devido à recente adesão à União Europeia.

4.1.3. As experiências e processos de Cooperação Transfronteiriça

Os processos de cooperação transfronteiriça entre a Itália e a Eslovénia deveram-se sobretudo ao facto de estes dois países, terem reunido esforços para aumentar a permeabilidade da sua fronteira. Este processo iniciou-se entre o pós II

Guerra Mundial e 1954, e intensificou-se depois com a criação de vários pontos de acesso ou travessia (Caramelo, 2005). Nesta região transfronteiriça pode-se assistir a diferentes intensidades de cooperação, sendo estas mais significativas a sul do que a norte. Isto deve-se ao facto de no sul existirem centros urbanos muito próximos e consolidados que possuem uma grande capacidade de influência no território envolvente, e no norte deve-se às barreiras físicas existentes (relevo alto e mais acidentado) e por estar mais afastado das principais ligações transfronteiriças. Segundo Vespasiano (2001) a cooperação transfronteiriça entre estes dois países tem sido facilitada, através da assinatura de vários protocolos que se têm traduzido nos seguintes resultados:

a) Cooperação em áreas como o turismo e a agricultura tendo em vista o desenvolvimento económico conjunto;

b) Cooperação ao nível da mobilidade, logística e dos transportes tornando mais fácil a troca de mercadorias e a atividade dos portos marítimos;

c) Cooperação na área do ambiente ligada a questões de poluição, gestão e conservação de recursos aquíferos e costeiros;

d) Cooperação ao nível da qualificação profissional, social e escolar; e) Cooperação em funções alfandegárias e de fiscalização;

f) Cooperação nas áreas da ciência, inovação e tecnologia;

g) Apoio aos pequenos grupos sociais fronteiriços tendo em conta as suas caraterísticas identitárias e a sua posição no contexto político e social;

Em matéria de urbanismo esta região transfronteiriça apresenta como principais características, uma coerência no que respeita à organização dos seus aglomerados urbanos, com distâncias muito reduzidas e com uma localização bastante próxima à faixa de fronteira. Esta realidade urbana existente deveu-se sobretudo ao papel desempenhado por ambos os países depois da última alteração do traçado da fronteira, no sentido de impedirem a separação entre estes aglomerados urbanos fronteiriços. No entanto esta alteração prejudicou uma parte da população eslovena ao dificultar o acesso às cidades de Trieste e Gorizia, e outras relações estabelecidas. A cidade de Gorizia também ficou prejudicada com esta última alteração da faixa de fronteira, ao ser separada em dois aglomerados urbanos. Este resultado levou a que na

Eslovénia se criasse uma outra cidade, designada de Nova Gorica, com origem e ligação à anterior Gorizia. Este centro urbano constituído por duas cidades foi durante a década de 90, alvo de várias intervenções ao nível do ordenamento do território devido às suas especificidades marcadamente transfronteiriças. Das várias intervenções concretizadas, destacam-se ações de marketing e planeamento, tendo em vista o desenvolvimento económico e social e a melhoria da estrutura urbana, tornando-a mais articulada. Outra ação que importa mencionar foi a construção de um centro transfronteiriço de grande dimensão, onde estão concentrados vários serviços associados à atividade económica, logística e alfandegária (Caramelo, 2005). Em relação à cooperação transfronteiriça, implementou-se também entre estas duas cidades um projeto de desenvolvimento conjunto em 1997 financiado através de iniciativa comunitária. Os resultados positivos alcançados com este processo de cooperação permitiram que em 1998 se celebrasse um pacto novo, tendo uma maior área de influência, ao integrar um grande conjunto de agentes territoriais e concretizar várias ações, projetos e iniciativas que por sua vez tiveram grande impacto em diversos domínios (Caramelo, 2005).

De uma forma geral, a cooperação transfronteiriça mantida entre estes dois países, não foi sempre bem concretizada, sobretudo nas últimas duas décadas, devido à independência e adesão à União Europeia (UE) por parte da Eslovénia e à falta de apoio jurídico. Outro aspeto a referir, é que a cooperação transfronteiriça apesar de se ter desenvolvido em diversos domínios tem-se sobretudo adaptado às restrições existentes. A cooperação transfronteiriça realizada até à atualidade deve-se ao facto de as várias entidades regionais estarem interessadas no estabelecimento de relações de caráter transnacional, transregional e transfronteiriço, através da criação de possíveis comunidades de trabalho, tal como a Alpe-Adria ou a constituição de euroregiões como a Euro Adria. No entanto, em alguns casos atualmente estas relações são ainda dificultadas pela ausência de competências adequadas a processos de cooperação transfronteiriça (Caramelo, 2005).

4.2. A Cooperação Transfronteiriça entre Espanha e França

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