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A correspondência de Woolf e Strachey: o corpus

O objetivo da presente pesquisa foi traduzir a correspondência ativa e passiva entre Woolf e Strachey reunida e publicada postumamente no livro Virginia Woolf & Lytton Strachey (1956), a partir da coleção de cartas que fazem parte do acervo Frances Hooper Papers on Virginia Woolf (FHP), que está sob a guarda da faculdade privada Smith College, nos Estados Unidos. É essa publicação que se constitui como corpus desta pesquisa. Dos volumes de cartas publicados posteriormente: The Letters of Virginia Woolf. Volume I: 1888 – 1912 (1978), The Letters of Virginia Woolf. Volume II: 1912 – 1922 (1979), The Letters of Virginia Woolf. Volume III: 1923 – 1928 (1980) e The Letters of Virginia Woolf. Volume IV: 1929 – 1931 (1981), somente o volume I foi utilizado quando precisei esclarecer omissões observadas nas cartas da edição de 1956.

As missivas foram doadas ao Smith College por uma ex-aluna e fazem parte da coleção de cento e quarenta cartas trocadas entre Woolf e Strachey durante os anos de 1906 e 1931; entretanto, somente constam na publicação de 1956, cento e cinco cartas. Cerca de trinta cartas ficaram fora do volume por serem apenas, nas palavras dos editores Leonard Woolf e James Strachey "notas, cartões postais e telegramas contendo um pouco mais do que convites para o chá ou avisos da chegada de trens" (Strachey; Woolf: 1956, p. 7). Os editores do livro também reiteram, no prefácio, que Strachey era "extremamente metódico" e "parece ter guardado cada pedaço de papel enviado por Virginia" (p. 7), enquanto, por outro lado, Virginia Woolf não era tão cuidadosa e, "por várias razões (...) alguns itens triviais não foram preservados, e alguns mais importantes estão provavelmente perdidos" (p.7). Mesmo assim, o material disponível constitui-se como ampla fonte de pesquisa tendo sido capaz de atender aos objetivos aos quais me propuz para o desenvolvimento da pesquisa.

Strachey, logo após o falecimento do irmão mais novo de Woolf, Thoby Stephen. O convite foi enviado para diversos amigos de Thoby Stephen, da Universidade de Cambridge. A carta é breve e demonstra uma formalidade inicial por parte da jovem Virginia Woolf ao dirigir-se a Strachey, formalidade essa que será abandonada nas missivas que se seguirão ao longo do tempo em que se corresponderam.

A curadora de coleções especiais do FHB Karen V. Kukil descreve no artigo “Teaching the Material Archive at Smith College”, de 2005, que algumas particularidades podem ser observadas nos manuscritos. Por exemplo, Strachey sempre escrevia suas cartas em papéis refinados, caros, com gravações e usava tinta preta. Sua letra era legível, espaçada, reta e não se percebem erros ou correções. Possivelmente, o escritor tinha o hábito de fazer rascunhos antes de enviar a versão definitiva de suas missivas.

Ao contrário de seu companheiro de cartas, a caligrafia de Woolf era de traços finos, bem marcados e pontudos. Ela escrevia em uma variedade de papéis coloridos, de tamanhos variados, o que parecia ser o que “tinha facilmente à mão”, usava tintas coloridas (azul, preta, violeta etc) e, por vezes, fazia correções nos textos com cores distintas ou mesmo a lápis, o que sugere uma segunda leitura atenta antes do envio das cartas, onde o rascunho e o texto final eram um só objeto. A letra era pequena, bastante inclinada e, embora espaçada, era de difícil leitura. Woolf era descuidada com o material e aparentemente escrevia sem planejamento e em sua eloquência, não largava nem mesmo os cigarros com os quais manchou e queimou diversas bordas das missivas. Após o casamento com Leonard Woolf, em 1912, suas cartas ganham um aspecto mais nobre, sendo escritas em papéis refinados e de baixa transparência.

As epístolas de Woolf e Strachey oscilam em textos que vão desde uma troca de intimidades em tom confessional até a necessidade da autoafirmação enquanto escritores. Logo, a presente pesquisa ao apresentar uma tradução das referidas missivas para o português brasileiro visa contribuir para os Estudos da Tradução, para os estudos epistolográficos, assim como para uma compreensão da obra epistolográfica dos dois escritores, enfatizando como se deu a a formação de Woolf e Strachey, a partir do que é observável no contexto das suas missivas. No decorrer dessa pesquisa, com exceção de cartas isoladas de Woolf, encontrei somente um registro de tradução do livro de 1956, uma edição traduzida para o francês publicada em 2009 pela editora Le Promeneur.

No próximo capítulo apresento a tradução comentada de trinta e quatro cartas trocadas entre Woolf e Strachey, acrescidas de notas explicativas. A tradução de trinta e quatro cartas se explica, uma vez que tomei como recorte para o desenvolvimento da pesquisa apenas

as cartas que foram trocadas pelos dois autores, do período que mantiveram o primeiro contato até quando Virginia Woolf casa-se com Leonard Woolf, cobrindo um período que vai especificamente de 22 de novembro de 1906 até 26 de agosto de 1912. Trata-se, assim, apenas da correspondência de Virginia Woolf do seu período de solteira, uma vez que seu casamento ocorreu em 12 de agosto de 1912. Nesse sentido, o corpus da presente pesquisa constitui-se de trinta e três cartas nas quais a autora assina “Virginia Stephen” e uma última na qual ela já assina “Virginia Woolf”.

Diante do exposto, apresento no próximo capítulo a tradução a qual me propus como objetivo da presente pesquisa quando, nos moldes que acabo de descrever, traduzo trinta e quatro cartas trocadas entre Virginia Woolf e Lytton Strachey durante os anos de 1906 e 1912.

3 DEAR VIRGINIA, DEAR LYTTON: TEXTOS-FONTE E TRADUÇÃO

“A melancolia diminui à medida que vou escrevendo.” (Virginia Woolf)

Neste capítulo apresento a tradução da seleção das cartas de Woolf e Strachey, da língua inglesa para o português brasileiro com as devidas notas explicativas. No intuito de facilitar o cotejo entre os dois textos, as cartas são apresentadas em colunas, com linhas em branco inseridas, visando manter o alinhamento entre texto de partida e a tradução. A grafia das palavras tanto em inglês quanto em francês foi mantida de acordo com a publicação WSL, bem como as palavras iniciadas por letras maiúsculas, itálico, entre parênteses ou colchetes. Todas as expressões em língua diversa do inglês foram mantidas, destacadas em negrito, seguidas por notas tradutórias. Os títulos dos livros em língua estrangeira que foram citados, seguem na tradução de acordo com texto de partida, assim como os nomes das localidades (bares, pousadas, restaurantes, cidades etc) que aparecem no decorrer dos textos.

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