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O município de Dourados/MS destaca-se em relação a outros municípios por ter criado o seu Conselho Municipal de Educação - CME a mais de 19 anos, por meio da Lei nº. 2.156, de 20 de outubro de 1997, a qual cria o Conselho Municipal de Educação de Dourados (COMED), que se constitui em um órgão colegiado, vinculado à Secretaria Municipal de Educação desse município, com funções consultivas, deliberativas, normativas e de fiscalização, conforme disposições contidas na legislação federal, estadual e municipal, tendo como finalidades:

I – garantir uma política educacional que proporcione uma educação de qualidade no Sistema Municipal de Ensino; II – propor metas setoriais para a Educação, buscando a democratização do acesso e permanência do aluno na escola, especialmente na Educação Infantil e Ensino Fundamental e na eliminação do analfabetismo. III – adequar as diretrizes gerais curriculares estabelecidas pelos Conselhos Nacional e Estadual de Educação, às características locais (DOURADOS, 1997).

Busca em consonância com a administração municipal e a sociedade douradense pensar uma política educacional qualitativa para o município. Elucida Santos (2018) que “somente após a criação dos sistemas municipais de ensino pela Constituição de 1988, registrou-se um estímulo à criação dos Conselhos Municipais de Educação”, permitindo que eles passassem a ter funções próprias no que concerne ao sistema de ensino em que está inserido, tendo sua própria autonomia, e não mais suas funções delegadas pelos Conselhos Estaduais. Assim, passou a exercer, como em Dourados-MS, as seguintes atribuições e competências;

78 [...] I - fixar as diretrizes para a organização do Sistema Municipal de Ensino; II - assessorar a Administração Municipal, na formulação da Política Educacional e na elaboração do Plano Municipal de Educação; III - zelar pelo cumprimento das disposições constitucionais, legais e normativas, em matéria de educação; IV - avaliar e acompanhar os programas educacionais de apoio aos estudantes; V - propor medidas ao Poder Público Municipal, visando a efetiva assunção de suas responsabilidades, com relação à Educação Infantil e ao ensino fundamental. VI - acompanhar a aplicação dos recursos públicos destinados à educação, no âmbito municipal; VII - opinar sobre assuntos educacionais, quando solicitado; VIII - pronunciar-se a respeito da instalação, autorização e funcionamento, de estabelecimentos de ensino, no Município, no âmbito de sua abrangência e responsabilidade; IX - manter intercâmbio com os Conselhos Municipais de Educação de outros Municípios e com os Conselhos Nacional e Estadual de Educação; X - dispor sobre sua organização, funcionamento e suas diretrizes políticas

(CME/DOURADOS, 1997).

Nesse sentido o COMED se apresenta como um órgão colegiado do SME com autossuficiência no que diz respeito a tomada das decisões nas atribuições de deliberar, normatizar, consultar, fiscalizar, mobilizar e possibilitar a cidadania, a fim de garantir a participação da sociedade, na gestão da educação municipal (DOURADOS, 2017).

Para executar as suas ações o COMED terá tal forma de organização:

Art. 3º O Conselho Municipal de Educação será composto por sete (07) membros titulares e 07 (sete) suplentes, nomeados pelo Prefeito Municipal, sendo que cada membro e seu suplente será escolhido e indicado por seu respectivo segmento.

§ 1º - O mandato dos conselheiros será de quatro (04) anos ressalvado que, na constituição do Conselho, 03 (três) membros terão mandato de 02 (dois) anos e 04 (quatro) membros terão mandato de 04 (quatro) anos.

§ 2º - A escolha dos membros do conselho que terão mandato de 02 (dois) anos será por sorteio, com a participação de representantes de todos os segmentos envolvidos, tão logo sejam feitas as indicações, antes da nomeação;

§ 3º - A renovação do conselho será bienalmente por 03 (três) ou 4 (quatro) membros titulares, observada a regra contida no parágrafo anterior.

§ 4º - Ocorrendo vaga no conselho, um novo membro será escolhido e indicado pelo segmento a que pertença e nomeado pelo Prefeito Municipal, para complementação do mandato do antecessor.

§ 5º - O conselheiro, em seus impedimentos legais será substituído por seu suplente. § 6º - È facultada a recondução para mais de um mandato subsequente (DOURADOS, 1997).

Como em todos os demais Conselhos, a ideia principal é que, sendo o COMED um órgão representativo da sociedade, a escolha dos membros deve incluir representantes de todas as categorias, ou seja, alunos, pais, diretores, professores, entidades sociais educacionais

79 APM, Grêmio Estudantil, Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação em Dourados (Sinted), Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Dourados (SINSEMD), entre outros); instituições formadoras de professores instalados no município, bem como será considerado também a representatividade nas diversas etapas e modalidades de ensino e do Sistema Público e Particular de ensino, sendo:

I - 01 (um) representante da SEMED;

II - 03 (três) representantes dos Professores da Rede Pública Municipal, eleitos dentre seus pares e indicados pelo SIMTED, sendo 01 (um) da Educação Infantil e 02 (dois) do Ensino Fundamental (um de 1º a 4º e um de 5º a 8º série);

III - 01 (um) representante dos Pais de Alunos da Rede Pública Municipal, eleitos dentre seus pares e indicados pelo sindicato da categoria - APMs; IV - 01 (um) representante dos Servidores da Rede Pública Municipal de Ensino, eleito dentre seus pares e indicado pelo sindicato da categoria – SINSEMD; V - 01 (um) representante dos Estabelecimentos de Ensino Particular, escolhido e indicado pelo SINTRAE/sul. § 8º - A escolha e a indicação dos membros titulares e suplentes previstas no caput deste artigo, pelos respectivos segmentos a que pertençam será efetuada através de lista tríplice (DOURADOS, 1997).

A pluralidade de componentes é relevante, pois está relacionada com a possibilidade de diversificação da origem e representação de seus membros – sociedade civil local, professores e pais ou poder executivo local. Nesse sentido, o aprofundamento da democracia participativa engloba a inserção do povo em práticas de gestão pública e a busca da inclusão social pelo atendimento de seus anseios. Segundo as reflexões de Gohn (2004), a democracia participativa

[...] demanda um tipo de participação dos indivíduos e grupos sociais em termos qualificativos e não apenas quantitativos. Para isso ela tem que alcançar segmentos diferenciados, que sejam representativos tanto das carências socioeconômicas e das demandas sociais como das áreas que precisam ser conservadas para que não se deteriorem, assim como atingir grupos e agentes socioculturais que possuem identidades a serem preservadas ou aperfeiçoadas (GOHN, 2004, p. 57).

Somente assim, efetivar-se-á um processo de integração da sociedade nas atividades administrativas do setor público, pois a participação seria uma forma de romper com o distanciamento entre a sociedade e Estado, enquanto órgão representativo, aproximando esse governo dos conflitos sociais e políticos e delegando responsabilidade também aos entes da sociedade. O que iria na contramão do modelo burocrático que defende a

80 autonomia da administração em relação à sociedade, delegando apenas aos administradores a gestão técnica e profissional dos serviços públicos.

Nas palavras de Luck (2015), o processo de participação deve ocorrer também por meio da participação de grêmios estudantis, reuniões e assembleias dos órgãos colegiados, de modo que neles todos os membros desses órgãos deverão ser escolhidos pela comunidade escolar para representar-lhes junto à direção escolar.

Por isso é de extrema importância a atuação da família e da comunidade como um todo, buscando alinhar os objetivos, os sonhos, as necessidades e os fazeres para que estes se realizem, considerando o aluno como o centro desse processo. Portanto, o sucesso de uma gestão democrática se faz com a qualidade dos serviços prestados pela gestão e de um ensino de qualidade, que considere vários fatores como o estilo de liderança horizontal, as habilidades dos gestores para lidar com as pessoas, segurança da sua autoridade, ter empatia, dedicação, aceitação aos desafios, espírito de equipe, comunicação clara e atraente, mantendo um exercício contínuo do diálogo aberto e da capacidade de ouvir. É através de um gestor democrático que a escola consegue consolidar seus objetivos e realizar suas metas. Está claro que a gestão democrática somente traz benefícios em grande escala para a escola, pois todos são beneficiados com os resultados alcançados através da participação de todos (FREITAS; et al. 2017, p. 208).

Dourado (2003) elucida que o processo de luta pela democratização da gestão da educação passa pela superação dos processos centralizados de decisão, e o melhor mecanismo para democratizar a escola são as soluções de descentralização da educação, por meio da ampliação dos espaços de participação, por exemplo, como possibilitar a participação da comunidade escolar, nos “Conselhos Escolares, Associação de Pais e Mestres, Grêmio Estudantil, Conselhos de Classes etc”, bem como no CME (OLIVEIRA; MORAES; DOURADO, 2008, p. 10).

Silva e Santos (2018) tocam em um importante ponto quando dizem que devemos aprender a participar e não simplesmente executar as ações que são propostas pela gestão educacional, além disso as autoras dizem que não é só participar, mas participar de moco a configurar efetivamente uma gestão democrática, que acima de tudo, proporcione a participação no processo de “[...] elaboração das ações, bem como opinar sobre a necessidade ou não de tais ações ou de tais investimentos” (SILVA; SANTOS, 2018, p.47).

Toda essa dinâmica deve ocorrer como um processo de aprendizado político essencial para a edificação da gestão democrática e, assim, para a instituição de uma nova cultura na escola. Nesse sentido, a democratização da gestão escolar tem como intento a superação dos processos centralizados de decisão e a vivência da gestão colegiada, na qual as decisões

81 partam das discussões coletivas, de modo a envolver todos os segmentos da escola num processo pedagógico que, a partir de tal, vai implicar na efetiva autonomia da unidade escolar. Cabe destacar que o COMED vem desempenhando importantes ações no que tange a definição de políticas locais de Educação Básica, as quais serão apontadas no próximo item deste capítulo. É importante ressaltar ainda, segundo documento de criação do COMED (Dourados, 1997), que os membros desse Conselho recebem o ressarcimento das despesas que ocorrerem em razão de seu deslocamento para atender as demandas do trabalho nele, além disso o exercício dessa função tem prioridade sobre o de qualquer outro cargo público do qual eles sejam titular.

3.2 A Atuação do CME no âmbito de implementação da obrigatoriedade da Educação

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