• Nenhum resultado encontrado

A criação da Universidade do Distrito Federal (UDF)

1. Quanto a Pedro Ernesto, VIANNA (1990b:592) considera que: “O prefeito do Distrito

Federal era socialista e intransigente antifascista, o que lhe valia o ódio dos integralistas e simpatizantes da AIB, principalmente Góis Monteiro. Adepto da ANL e admirador de Prestes, Pedro Ernesto era considerado o primeiro dos ‘tenentes civis’, pois desde 1922 participava abertamente do movimento ‘tenentista’. Mas Pedro Ernesto era também grande amigo de Getúlio e estava entre os ‘tenentes’ que, embora contra o Governo, acreditavam que Vargas poderia ser recuperado para ‘os verdadeiros ideais’ da revolução de 30.”

2. No que se refere ao Estatuto das Universidades Brasileiras (1931), ver MACHADO (2002:31- 32) e SALEM (1982:117-118, 125).

3. Aliás, no tocante ao surgimento de uma acepção valorativa da universidade na cultura brasileira no início dos anos vinte, atribuindo-lhe a função de cultivar as ciências despreocupando-se de sua aplicação e as discussões posteriores a respeito na ABE (Associação Brasileira de Educação) a partir de 1924, ver PAIM (1981:31-56; 1982:36-50). O que realmente convém ressaltar aqui, em complemento à afirmação feita no corpo-de- texto, é que o conflito indicado já se arrastava desde a Revolução de 1930 quando a Igreja Católica passou a exercer pressão cerrada sobre Francisco Campos, na época à frente do Ministério da Educação e Saúde Pública, para que o Governo Provisório se mantivesse fiel ao estabelecimento de laços estreitos, em nível nacional, entre a Igreja e o Estado. A Igreja buscava suplantar o ostracismo político a que tinha sido relegada pela Constituição de 1891, de inspiração positivista (SALEM, 1982:98, 111, 130-131), nos marcos da debilidade endêmica da ordem política instaurada no país com a Revolução de 1930 que a tinha convertido em força social de peso para a legitimação do novo arranjo de poder. Em 1931, o ensino religioso passou a ser permitido nas escolas públicas, desagradando os educadores de bandeira escolanovista, estendendo as discordâncias entre as duas concepções educacionais durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Segundo PAIM (1981:64-65), em 1934 foram aprovadas emendas religiosas que inflamaram o ímpeto dos católicos para continuarem lutando a favor do ensino religioso e pelo ensino confessional e, nesse mesmo ano, os vínculos entre Igreja e Estado são fortalecidos com a nomeação de Gustavo Capanema para o cargo de Ministro da Educação e Saúde Pública (SCHWARTZMAN et

alli, 2000:71-79; SALEM:1982:112). Um entendimento mais acurado desse conjunto de

questões pode ser entrevisto no trabalho de SALEM (1982:108-112), quando esmiuça a atuação de Alceu Amoroso Lima à frente das idéias educacionais católicas entre 1928 a 1941.

4. Sobre o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e a polêmica travada na ocasião entre a postura filosófica de Anísio Teixeira em contraposição à postura sociológica de seu principal redator, Fernando Azevedo, ver PAGNI (2000:29). Pormenores acerca do conflito entre escolanovistas e pensadores católicos podem ser vislumbrados em SALEM (1982:112-119). 5. Aliás, em 1934, Anísio Teixeira publicou obra de grande repercussão, Educação Progressiva

– uma introdução à filosofia da educação e, em 1936, a obra Em marcha para a democracia, uma análise da sociedade norte-americana e, brevemente, da sociedade

européia, discutindo a tendência democrática das civilizações modernas. Com essas obras e com a sua atuação vanguardista na administração pública fluminense, Anísio passou a representar uma ameaça ao pensamento conservador, sobretudo, ao pensamento católico. Acusado de comunista e subversivo no Governo Constitucional de Vargas (1934-1937) e diante das resistências católica e direitista à sua gestão, em dezembro de 1935 pediu demissão ao prefeito Pedro Ernesto do cargo de Diretor da Instrução Pública do Distrito

Federal, refugiando-se no sertão da Bahia. Voltaria ao panorama educacional somente em 1946 à convite da UNESCO. Para uma análise pormenorizada sobre as idéias educacionais do educador, ver ADAS (2003:69-96). Para uma elucidação interessante acerca da interpretação e contestação dos postulados escolanovistas a partir da perspectiva e dos princípios católicos, consultar SALEM (1982:114-117).

6. Conforme MACHADO (2000), além da criação da UDF em 1935, outros órgãos importantes foram forjados nos moldes centralizadores do governo federal nos anos trinta. No ano de 1930, o Ministério de Educação e Saúde (hoje transformado em Ministério da Educação e Ministério da Saúde), o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (hoje transformado em Ministério da Previdência e Assistência Social e Ministério do Trabalho); em 1937, o Instituto Nacional de Pedagogia (hoje Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais incorporado ao atual Ministério da Educação), o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (hoje Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, incorporada ao Ministério da Cultura) e o Conselho Nacional de Geografia; e, finalmente, em 1938, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (que incorpora o Conselho Nacional de Geografia) em 1938.

7. No que tange a perspectiva nacionalista, o lastro de ideais nela apoiados entre as décadas de 1920 e 1930 pode ser encontrado nas abordagens de IANNI (1979) e OLIVEIRA (1999). 8. Convém aproveitar a oportunidade para sugerir um texto sobre Alceu Amoroso Lima que,

sem dúvida, poderia se constituir como ponto de partida para futuras análises de historiadores do pensamento geográfico, quiçá interessados em se dedicar ao estudo sobre o discurso geográfico inerente às idéias do pensador católico. MENEZES (1998) ressalta que a discussão e a investigação sobre o que definiria o caráter nacional do povo brasileiro constituíram um velho debate na construção histórica de nossa cultura como país independente. Tendo acompanhado incessantemente inúmeras vertentes do pensamento brasileiro – historiografia, ficção, poética, crítica, sociologia, psicologia, antropologia, filosofia, etc. – constituindo-se sua nota dominante, essa polêmica sempre esteve presente em todas as suas etapas de formação. Pensando nisso, Afrânio Coutinho forjou uma expressão altamente significativa: a tradição afortunada. Segundo MENEZES (1998:8),

“essa tradição se vem constituindo pelo menos desde José Bonifácio, provavelmente o primeiro a formular o problema do caráter brasileiro, até os que se lhe seguiram, tais como José de Alencar, Sílvio Romero, Machado de Assis, Capistrano de Abreu, João Ribeiro, Euclydes da Cunha, Manoel Bomfim, Alberto Torres, Afonso Celso, Oliveira Viana, Paulo Prado, Gilberto Freyre, Afonso Arinos de Melo Franco, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda, Alceu Amoroso Lima, Viana Moog, José Honório Rodrigues e muitos outros. Assim, o nosso autor não faz mais do que enriquecer essa longa estirpe de intérpretes do Brasil. Para não mencionar outra extensa linhagem de estrangeiros que se debruçaram, argutamente por vezes, sobre esse enigma.” Partindo desse enquadramento, MENEZES

(1998:14-15) baliza o esforço de Alceu Amoroso Lima, encetado em várias obras do autor e principalmente no artigo “Psicologia do Povo Brasileiro” (in Revista do Instituto Geográfico

e Histórico da Bahia, Salvador, n. 60, 1934, pp. 119-139), para caracterizar a nossa

diferenciação psicológica utilizando-se do emprego de um quadro tripartido das supostas três grandes famílias tipológicas do homem brasileiro, reduzindo-as aos dois eixos principais – Litoral e Sertão, e Norte e Sul – que estruturam o espaço analítico com que a nossa tradição

APÊNDICE II

Visões e políticas imigratórias para o Sul do Brasil