• Nenhum resultado encontrado

A criança pensada em “metodologias” dentro do contexto escolar

1- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.3 A criança pensada em “metodologias” dentro do contexto escolar

Este tópico foi pensado para elencar as práticas pedagógicas desenvolvidas com Luísa em sala de aula. Trata-se de alguns recortes, pois não seria possível, neste trabalho, trazer todas as práticas observadas. Primeiro de tudo, as observações foram feitas sem julgamentos sob o trabalho da educadora, que sem dúvida foi um exemplo de dedicação e competência para mim. A intenção é, basicamente, analisar como essas práticas refletiram em Luísa.

O segundo semestre de 2016 foi o primeiro ano da professora na escola e ela ainda não tinha tido experiências com crianças com autismo clássico, por mais que seja um desafio, percebi ansiedade por sua parte em aprender e desempenhar da melhor maneira possível o seu papel profissional, o que é fundamental para o acolhimento desta criança.

A hora da entrada na escola é diferente para as turmas regulares e para as classes especiais. Cada turma regular faz a fila no local indicado, onde são recepcionadas pela coordenadora ou a diretora da escola, que repassam alguns avisos, e depois seus professores os buscam para direcioná-los até sua sala. Já a classe especial é recepcionada separadamente,

direto em sala por seus professores. Na sala de Luísa a rotina é feita junto aos outros alunos que frequentam a sala, pois em uma sala de aula funciona duas turmas de classe especial com duas professoras e cada turma com dois alunos. A príncipio, a rotina foi estabelecida assim: quando chegam na sala, todos sentam a mesinha que está repleta de livros de literatura, livros estes que são de várias texturas (capa dura, folha de jornal- os gibis, livros impermeáveis). Alguns dos livros são lidos para uma das educandas que os escolhe e pede para que alguém que esteja perto o leia, e essa educanda é a única que realmente demonstra interesse e gosta de estar ali. Esse momento dura em média por uma hora seguida.

Figura 3: sala de aula observada durante o estágio

Fonte: foto registrada pela pesquisadora

As atividades começavam às 14 horas e são realizadas na mesma mesa da recepção, normalmente senta a professora, Luísa, outra educanda e seu monitor. As atividades quase sempre são de folhas A4 com estruturação em recorte e cole, pintura, ou atividades desenvolvidas do método TEACCH, a educadora também passa algumas atividades adaptadas para o desenvolvimento da coordenação motora. Às 15 horas todos os educandos sentam à mesa de recpção e lancham juntos até a hora do recreio às 15:30.

O recreio é livre e tem duração de meia hora, as crianças correm no pátio, brincam de futebol, basquete, pique-pega, algumas crianças ficam no canto conversando e percebo que é um bom momento de liberdade para ser um pouco criança em meio a tantas rotinas, regras e planejamentos.

Após o recreio temos o relaxamento com música de ninar. Todos deitam num colchão e ficam por vinte minutos relaxando, depois a escovação dos dentes e, por fim, alguma atividade ou filme no DVD até a chegada dos pais. Depois de alguns dias de observação houve mudança na rotina depois do recreio, então, passaram a passear pela quadra da escola ou irem ao parquinho.

Por meio das observações percebi que a reação diária de Luísa nessa rotina reflete imediatamente em seu comportamento, assim que chega se direciona à mesa, toca em alguns livros e automaticamente dispersa o olhar para outros objetos da sala, já na sequência é segurada pela educadora que ou a coloca em seu colo com intuito de que veja os livros ou é contida por dois adultos para que tome assento. Consequentemente, Luísa chora e usa da força para escapar dessa situação. Percebi que todas às vezes que as contenções são feitas, além de não haver um motivo justo para isso, pois Luísa não estava em perigo, já ocorreu um momento onde dois adultos ficou mais de 40 minutos lutando para segurar uma criança, aparentemente, desesperada.

A parte das atividades, para Luísa, é um momento de tormento. São realizadas no colo da educanda e quando se cansa ou não gosta da atividade tenta amassar ou rasgar a folha, acaso a atividade seja do método TEACCH, Luísa não as realiza e leva as fichas à boca. O lanche de Luísa é sempre o mesmo mandado pela mãe e é dado pela educadora na boca em seu colo. No recreio Luísa corre, brinca com a sombra quando está sol e sempre fica em frente a grade desejando o lado de fora como já mencionado. Luísa no relaxamento é segurada pela educadora para que fique o tempo estipulado deitada, mas quase sempre o relaxamento passa a ser um momento exaustivo por ambas as partes e até que a mãe de Luísa chega para buscá- la não há um momento de interesse, interação e divertimento por parte de Luísa.

Na rotina, percebe-se que Luísa não se sente pertencente ao ambiente que lhe é oferecido e quando se pensa em metodologias, como práticas pedagógicas para o desenvolvimento do educando, automaticamete, as experiências que possam surgir se primeiro houvesse o reconhecimento singular de Luísa, são excluídas em detrimento do planejamento fechado. É visto que a todo momento que Luísa tenta fugir daquele local, seja por ficar no canto, por tentar escapar das contenções, por não querer realizar as atividades não há significados nessas metodologias para que Luísa tenha interesse em permanecer ali. Não digo que a educadora não se esforce, pelo contrário, percebo nela um desejo avassalador em tentar ajudar Luísa, “para a psicanálise, o sujeito do conhecimento é decorrente da constituição do sujeito psíquico, dessa fenda que o desejo do outro se abre, dessa falta a saber que dispara a pulsão epistemofilica” (SIBEMBERG, 1998, p. 69), então talvez falte essa pulsão para que seu olhar se abra aos desejos de Luísa.

Documentos relacionados