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2. Revisão bibliográfica

2.5 Setor Agropecuário

2.5.3 O Complexo Agroindustrial da cana-de-açúcar

2.5.3.4 A cultura de cana-de-açúcar e suas características

A cana-de-açúcar era conhecida, até recentemente, como membro da família das gramíneas, pela antiga classificação taxonômica de Engler (1887). Novos estudos taxonômicos de Cronquist (1981) determinaram que é um representante da família Poaceae (DINARDO-MIRANDA et al., 2008). ainda segundo Dinardo-Miranda et al. (2008), a cana-de-açúcar atualmente cultivada no Brasil e no mundo é, na verdade, um híbrido das seguintes espécies: Saccharum officinarum, S. barberi, S. robustum, S. spontaneum, S. sinensis e S. edule.

A cana-de-açúcar pode ser dividida em parte aérea e parte radicular. A parte aérea é separada em colmos, folhas e inflorescência; já a parte radicular é formada pelas raízes propriamente ditas. Os estágios fenológicos da cana-de-açúcar são os seguintes:

- Brotamento e emergência; - Perfilhamento;

- Crescimento dos colmos; - Maturação dos colmos.

A cultura se adapta muito bem às regiões de clima tropical, quente e úmido, cuja temperatura predominante seja entre 19º e 32ºC e onde as chuvas sejam bem distribuídas, com precipitação acumulada acima de 1000 milímetros por ano. A cultura conta com duas fases principais de desenvolvimento: crescimento vegetativo, quando o clima quente e úmido favorece a planta e a maturação, e quando temperaturas mais amenas e a baixa disponibilidade de água favorecem o acúmulo de sacarose. Dependendo do produto que será feito a partir da cana-de- açúcar, é necessário escolher o local com as melhores condições climáticas (DINARDO-MIRANDA et al., 2008).

As condições climáticas predominantes no estado de São Paulo são consideradas excelentes para a produção, permitindo o crescimento vigoroso da planta durante a primavera e o verão, seguido de condições ideais de maturação e colheita durante o outono e inverno (DINARDO-MIRANDA et al., 2008).

Dada sua notável importância econômica, a cana-de-açúcar é cultivada em diversas regiões do país — consequentemente, em solos com propriedades físico-químicas distintas, muitas vezes distantes dos padrões ideais. A cana-de- açúcar não necessita de condições ideais de solo para se desenvolver e até cresce

em solos de baixa fertilidade ou com condições físicas desfavoráveis, porém, para atingir altas produtividades, a qualidade do solo deve ser mais adequada às exigências da cultura. Os solos mais adequados para o desenvolvimento são bem arejados e profundos, com boa retenção de umidade e alta fertilidade. No estado de São Paulo, 47% da cana plantada é sobre o latossolo vermelho, seguido dos latossolos vermelho-amarelo e vermelho escuro (DINARDO-MIRANDA et al., 2008).

São várias as características de solo importantes para a cultura de cana. Com relação ao relevo, a declividade deve ser suave, de 2 a 5%, sendo que o valor de 5% é para solos mais argilosos. Tanto áreas mais planas como as com declividades maiores que 5% apresentam problemas: a primeira devido à necessidade de drenagem, e a segunda devido aos maiores custos decorrentes do preparo do solo. Outra questão ligada à declividade é a da possibilidade de utilização da mecanização. Áreas com declividades muito elevadas ainda não comportam esse tipo de colheita, sendo necessária a realização da colheita convencional (manual) (DINARDO-MIRANDA et al., 2008).

Além disso, os solos com profundidade maior que um metro são ideais, pois favorecem o crescimento das raízes da cana. O crescimento das raízes está muito ligado às características físicas do solo, como a capacidade de retenção de água. Esta capacidade de armazenamento de água precisa estar próxima a 150 mm. Sendo assim, solos com deficiência hídrica oferecem grandes riscos para a produção. Além disso, uma boa capacidade de infiltração de água é muito importante para que a planta possa absorver água de modo ideal e para que o excesso seja drenado (DINARDO-MIRANDA et al., 2008).

As características químicas do solo também são muito importantes. Com relação ao pH, a cana-de-açúcar é bastante tolerante tanto a acidez quanto a alcalinidade, desenvolvendo-se em solos com pH entre 4 e 8,5, sendo o ideal em torno de 6,5. A cana-de-açúcar possui um sistema de raízes diferenciado, quando comparado com outras culturas. Por ser semiperene e de ciclo longo, suas raízes desenvolvem-se mais profundamente e por isso estabelecem relação com as características químicas (pH, saturação de bases, porcentagem de alumínio e teores de cálcio) nas camadas mais profundas. Com isso, para se obter produtividade satisfatória é necessário recuperar a fertilidade dos solos tanto nas camadas superficiais como nas mais profundas (DINARDO-MIRANDA et al., 2008).

Sendo um produto agrícola, está sujeita a variações de quantidade e qualidade que não podem ser controladas. Fatores como condições climáticas, fitossanitárias, a sazonalidade da produção e a variação da renda dos produtores podem influenciar na matéria-prima final. Moraes (2002) afirma que a oferta de cana- de-açúcar pode sofrer variações não planejadas, o que pode causar alterações no preço dos produtos finais ou até mesmo problemas no abastecimento dos mesmos, principalmente do etanol combustível.

Outra característica importante é que a cana-de-açúcar é uma cultura de ciclo longo, ou seja, são necessários no mínimo cinco cortes do canavial para que ele se torne economicamente viável. Assim, faz-se necessária uma intensa coordenação de toda a cadeia produtiva, tanto das unidades industriais como também dos fornecedores, que na sua maioria são por pequenos produtores (DINARDO-MIRANDA et al., 2008).

Nesse sentido é que são realizadas pesquisas para o desenvolvimento de novas cultivares de cana-de-açúcar geneticamente melhoradas, em diversas instituições públicas, universidades e empresas privadas, visando à criação de variedades adaptadas às diferentes condições de clima e solo, bem como à produção de variedades para áreas afetadas por pragas e doenças (DINARDO- MIRANDA et al., 2008).

A produtividade média dos canaviais tem aumentado ano a ano e parte considerável desse aumento é atribuído ao uso de variedades geneticamente melhoradas. Existe um grande número de variedades de cana-de-açúcar, o que é muito bom para o produtor, pois aumenta o espectro de possibilidades para cada realidade — e, assim, escolhe-se a melhor variedade para sua produção e área, exigindo-se também maior grau de conhecimento do próprio produtor, a fim de saber qual é a variedade mais adequada para sua produção (DINARDO-MIRANDA et al., 2008).

Atualmente, existem no Brasil quatro programas de melhoramento de cana-de-açúcar, sendo dois privados e dois públicos: Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA); CANAVIALIS (Allelyx); COOPERSUCAR, pelo Centro de Tecnologia Canavieira Coopersucar (SP-CTC); e o do IAC - Instituto Agronômico de Campinas (EMBRAPA, 2012).