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2 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EaD) E AS PRIMEIRAS INICIATIVAS DE INSTITUIÇÃO DE UMA UNIVERSIDADE ABERTA NO BRASIL

2.1 A década de 1970, a EaD e o contexto econômico do período

Embora a EaD tenha sido regulamentada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9.394 de 1996, as experiências iniciais com cursos a distância, tiveram início na primeira metade do século XX e, as primeiras tentativas de implantação de uma universidade aberta no Brasil, datam da década de 1970. Desse modo, apresentaremos aqui um resgaste histórico de algumas destas tentativas visando estabelecer a correlação entre a EaD e a universidade aberta. Nosso intuito é entender que a EaD foi sendo construída historicamente e, portanto, deve ser entendida enquanto um fenômeno resultante de múltiplas determinações.

A Educação a Distância existe há tempos e se configura como sendo uma forma de educar aonde as noções de espaço e tempo são totalmente modificadas, não sendo necessário a presença física de alunos e professores para que esta se concretize e, respeitando os tempos de seus alunos no que se refere ao tempo de estudo e, até mesmo ao tempo de aprendizagem de cada um. Um conceito bastante conhecido na literatura e que consegue abarcar os múltiplos aspectos inerentes à EaD, é o que segue:

Educação a distância é o aprendizado planejado que ocorre normalmente em um lugar diferente do local de ensino, exigindo técnicas especiais de criação do curso e de instrução, comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas especiais. (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 2).

Alguns estudiosos, adotam como forma de identificação da evolução da EaD, a classificação por gerações. Moore e Kearsley (2007) classificam como sendo cinco, as gerações de educação a distância e, tal classificação corresponde à forma de correspondência utilizada e ao avanço tecnológico que permitiram diferentes organizações nas formas de educar à distância (Figura 1).

Figura 1: Cinco gerações de Educação a Distância

Fonte: Moore e Kearsley (2007)

É imprescindível, no entanto, dizer que existem diferenças de cunho temporal entre a EaD que se concretizou no Brasil e a EaD realizada em outros países. Enquanto na Inglaterra, a universidade aberta foi implantada no final da década de 1960 e início da década de 1970, aqui no Brasil, existiram apenas algumas tentativas no referido período, porém, sem êxito para que se concretizassem. Não é objetivo nesta pesquisa analisar cada uma das cinco gerações de Educação a Distância detalhadamente, mas, a princípio, estabelecer uma comparação entre o que ocorria nos países capitalistas centrais e no Brasil, no tocante ao desmembramento das ações em prol da EaD. Nossa ênfase é na universidade aberta que corresponde à 3ª geração de EaD, segundo Moore e Kearsley. Assim, cabe mencionar sobre a universidade aberta britânica – Open University:

O que surgiu foi a primeira universidade nacional de educação a distância, que se valeria de economias de escala, tendo mais alunos do que qualquer outra universidade, com um nível de financiamento elevado e empregando a gama mais completa de tecnologias de comunicação para ensinar um currículo universitário completo a qualquer adulto que desejasse receber tal educação. (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 36).

Segundo informações extraídas do arquivo do Jornal do Brasil, datado de 25 de fevereiro de 1973, um dos propósitos da criação da Open University seria, além da adaptação a uma tecnologia em expansão, a possibilidade de viabilizar o acesso a esta universidade, não apenas de uma ‘elite científica’, como também, de beneficiar uma população inteira. No entanto, esta mesma matéria apresenta alguns dados de funcionamento da universidade aberta após um ano de sua implantação:

(1971): 40% dos candidatos pertenciam ao pessoal docente; 11% vinham de profissões liberais; 9% eram gerentes e administradores; enquanto só 2,6%

eram compostos por operários e trabalhadores e 3,1% por comerciários e empregados em serviços diversos. (A UNIVERSIDADE...,1973, p. 3).

É válido estabelecer uma relação entre a ideia de beneficiar uma população inteira com o fato de os interesses econômicos estarem voltados para uma democratização que visa a agradar um projeto do avanço do capital. Explicando melhor. A criação de uma universidade aberta no momento em que ocorreu, no país em que ocorreu, coincide com uma resposta no campo educacional a uma crise estrutural do capital. As condições de avanço tecnológico do país permitiram a consolidação de uma universidade nestes moldes – avanço tecnológico, meios de comunicação acessíveis, naquele momento. A ideia a ser transmitida era de que a universidade aberta seria democrática, viabilizando a instrução de operários, por exemplo7. E, pode-se afirmar que não seria possível, aqui no Brasil, naquele dado momento a implantação de uma universidade aberta. Isso se explica pelo fato de o Brasil ser um país periférico mundialmente falando, enquanto a Inglaterra era um país central. Entende-se um país como sendo periférico, aquele que, além de ser historicamente exportador de matérias primas, teve uma industrialização tardia. Assim, o Brasil, país de dimensões territoriais imensas não tinha um sistema de correios desenvolvido para, por exemplo, o envio de materiais impressos para os alunos e, o acesso dos brasileiros a outros meios de comunicação tais como a televisão e o rádio, era restrito. Isso comprometeria a metodologia de educação a distância que, naquele momento era baseada nesses meios de comunicação. Outro aspecto que deve ser levado em consideração é o fato de que não existiam professores formados em quantidade suficiente para atender as demandas de uma universidade aberta.

Disso decorre que, enquanto a Open University foi criada na Inglaterra no final da década de 60 e início da década de 70, do século XX, aqui no Brasil, sua implementação foi se concretizar apenas no século XXI, no ano de 2006.