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Durante as entrevistas com os técnicos das instituições selecionadas nesta pesquisa, abordamos três grandes campos de questões: difusão, Internet (redes sociais e sítios institucionais) e documentos fotográficos. Com o objetivo de debatermos sobre a difusão ao longo desta dissertação e não somente ao final do trabalho, iremos apresentar alguns dos resultados encontrados nos dois primeiros capítulos deste estudo. Na seção anterior, discutimos, entre outros pontos, sobre a definição de difusão a partir de trabalhos de autores da Arquivologia. Nesta seção, por sua vez, vamos apresentar as definições de difusão que o Arquivo Nacional, Arquivo Público do Estado de São Paulo e Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte empregam, a partir das perspectivas de seus técnicos.

Apesar de não termos conversado com um técnico do Arquivo Nacional que trabalha na área específica de difusão da instituição, nosso entrevistado faz parte do quadro de servidores do AN há alguns anos e, além disso, já fez parte da equipe da Coordenação-Geral de Acesso e Difusão Documental. Atualmente, ele é um dos responsáveis por gerenciar as redes sociais da instituição, atividade desempenhada pela Assessoria de Comunicação Social do Arquivo Nacional.

Ao ser questionado sobre o que é difusão, o entrevistado relatou que essa discussão já foi pauta da equipe técnica do Arquivo Nacional. De acordo com ele, muitas vezes, os técnicos recorriam aos dicionários arquivísticos para tentar chegar a uma definição, inclusive utilizando o “Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística” do Arquivo Nacional (2005) para embasar seus argumentos, o qual contribuiu para que algumas pessoas entendessem difusão como a mesma coisa que divulgação, já que a publicação do AN apresenta a definição desse termo.

Em sua resposta, o entrevistado deu ênfase na relação existente entre difusão e acervo documental. Para ele, difusão é mostrar à sociedade determinado item do acervo, falar para as pessoas que o Arquivo Nacional tem um conjunto documental vastísssimo e

que outras histórias podem ser contadas por meio dos documentos custodiados pela instituição e não somente as histórias dos grandes nomes. O técnico entrevistado entende difusão como: “[...] essa maneira de espraiar o acervo, fazendo com que ele possa ter outros usos [...].” (ENTREVISTADO – ARQUIVO NACIONAL, 2019). Em relação à definição do termo, de acordo com o entrevistado, ainda não foi elaborado um conceito fechado de difusão, entretanto, a principal ideia que perpassa a execução das atividades promovidas pela equipe da Assessoria de Comunicação Social do Arquivo Nacional é a de que as pessoas possam conhecer os documentos e fazerem uso deles, assim como compreenderem suas histórias de vidas.

No Arquivo Público do Estado de São Paulo, tivemos a oportunidade entrevistar tanto a equipe do Núcleo de Comunicação, que é responsável, entre outras atribuições, pelo gerenciamento das redes sociais do APESP, quanto um dos técnicos do Centro de Difusão e Apoio à Pesquisa (CDAP). Assim, ao responder sobre o que é difusão, o técnico do CDAP pautou sua resposta a partir do ciclo de vida dos documentos. De acordo com ele, o documento é produzido, passa pelo processo de tramitação, pode ser recolhido ou eliminado. Caso seja recolhido, o documento é organizado, classificado, acondicionado e passa a estar disponível para o acesso. Entretanto, para que ocorra o acesso, o cidadão precisa saber da existência do documento. Por isso, para o entrevistado, a difusão é uma função essencial no ciclo de vida do documento para que o cidadão possa acessar a informação, com o objetivo de requerer direitos e recontar histórias. Para ele, as finalidades de uso são muitas e não cabe ao Arquivo Público do Estado de São Paulo julgar qual é a finalidade, já que a função da instituição é promover o acesso. “E ao difundir eu estou dando a oportunidade de mais gente procurar e encontrar essa informação.” (ENTREVISTADO – ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2019).

Durante as entrevistas, adotamos a iniciativa de não apresentarmos a nossa definição de difusão, com o objetivo de não influenciarmos as respostas dos entrevistados. Entretanto, na entrevista com uma das técnicas do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, tivemos que apresentar nosso conceito de difusão, visto que a entrevistada fazia a separação das atividades promovidas pela instituição a partir dos conceitos de mediação e difusão. Assim, algumas atividades de difusão que são desenvolvidas pelo APCBH não seriam contempladas na entrevista, como, por exemplo, as visitas monitoradas, que têm um lugar de atuação destacado na instituição.

A técnica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte iniciou sua resposta sobre o que é difusão afirmando que essa função é uma atividade distinta de mediação. Para ela, a difusão está relacionada com a divulgação do acervo e das metodologias de trabalho do Arquivo, que é promovida principalmente por meio da página institucional no Facebook e

pelas publicações do APCBH, sobretudo os números da série “O Arquivo e a Cidade”. Ao citar as atividades que compõem a mediação, a entrevistada apontou a educação patrimonial, cursos e oficinas, visitas técnicas e monitoradas. A técnica relatou que consegue relacionar com mais naturalidade a educação patrimonial com o processo de mediação20. Essa linha de raciocínio é semelhante à proposta de Aldabalde (2015) de definição de mediação cultural nos Arquivos. Entretanto, ao longo de suas respostas, a técnica do APCBH apontou que difusão e mediação não estão separadas, afirmando que existe um diálogo estreito entre elas. Para ela, quando é feita uma atividade de mediação (como, por exemplo, uma visita técnica), igualmente acontece a difusão do acervo documental, serviços e produtos da instituição (ENTREVISTADA – ARQUIVO PÚBLICO DA CIDADE DE BELO HORIZONTE, 2019).

A partir das definições apresentadas, é possível sintetizar que a principal finalidade da difusão é tornar conhecido o acervo documental custodiado pelas instituições arquivísticas e, com isso, promover seu acesso. Destacamos que no APCBH também foi mencionado que a difusão é fundamental para que suas metodologias de trabalho sejam conhecidas por outras instituições de memória. Encontramos no APESP um importante lugar da difusão, visto que seu técnico enfatizou o papel essencial que essa função tem no ciclo de vida dos documentos, sobretudo dos documentos de guarda permanente, os quais se tornam acessíveis aos cidadãos a partir de atividades de difusão, como, por exemplo, por meio da publicação de instrumentos de pesquisa. Dessa forma, a relação da difusão com as outras funções arquivísticas na realização das atividades nos Arquivos se torna mais clara, conforme pontuamos no início deste capítulo. Além disso, a partir da perspectiva do técnico desse Arquivo, é possível compreender como difusão e acesso dialogam constantemente.

Os técnicos do Arquivo Nacional e do Arquivo Público do Estado de São Paulo destacaram a importância da difusão em relação à construção de novas narrativas históricas, sobretudo ao fato dos cidadãos poderem ver que suas histórias de vidas também estão contempladas nos documentos sob a guarda dos Arquivos. Em relação aos termos similares à difusão, os técnicos entrevistados do Arquivo Nacional e do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte mencionaram o uso de divulgação e mediação, os quais também foram encontrados em nosso referencial teórico.

20 Educação patrimonial é “[...] um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo.” (HORTA; GRUMBERG; MONTEIRO, 1999, p. 6, grifos das autoras).