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2.8 FAMÍLIA: SERVIÇO A VIDA

2.8.2 A Dimensão Eclesial da Família

Os cônjuges e pais cristãos têm uma grande responsabilidade no sentido de ser os primeiros evangelizadores de seus filhos, e este “ministério” deve ser da parte dos pais a resposta ao apelo missionário de Jesus Cristo: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura” (Mc 16,15). Este mandato do Senhor Jesus “constitui os cônjuges e pais cristãos testemunhas de Cristo até os confins do mundo (At 1,8), verdadeiros e próprios ‘missionários’ do amor e da vida”.189

Além da dimensão social, a família cristã190 tem uma missão eclesial específica e é também chamada “a tomar parte viva e responsável na missão da Igreja de modo próprio e original, colocando-se ao serviço da Igreja e da sociedade no seu ser e agir, enquanto comunidade íntima de vida e amor”.191 Todo o mundo de valores “ad intra” da vida matrimonial e familiar impele e conduz a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa. 188 FC, 47. 189 Id., 54. 190

“Cada família comunicará generosamente com as outras as próprias riquezas espirituais. Por isso, a família cristã, nascida de um matrimônio que é imagem e participação da aliança de amor, entre Cristo e a Igreja, manifestará a todos a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja, quer por meio do amor dos esposos, quer pela sua generosa fecundidade, unidade e fidelidade, quer pela amável cooperação de todos os seus membros” (GS, 48).

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Se a família é comunidade cujos vínculos são renovados por Cristo mediante a fé e os sacramentos, a sua participação na missão da Igreja deve dar-se, segundo uma modalidade comunitária: conjuntamente, portanto, os cônjuges, enquanto casal, os pais e os filhos, enquanto família, devem viver o seu serviço à Igreja e ao mundo.192

A família cristã que acolhe o Evangelho e amadurece na fé torna-se comunidade evangelizadora.193 A atividade evangelizadora e missionária na família deve em primeiro lugar voltar-se para si mesma194 e também a todos que estão a sua volta, os parentes próximos, os vizinhos, à comunidade a qual pertence.

Pelo espírito missionário, a Igreja doméstica é chamada a ser um sinal luminoso da presença de Cristo e do seu amor mesmo para os “afastados”, para as famílias que não crêem e para aquelas que já não vivem em coerência com a fé recebida: é chamada “com o seu exemplo e com o seu testemunho” a iluminar “aqueles que procuram a verdade”.195

A ChL , revela que “a primeira e originária expressão da dimensão social da pessoa é o casal e a família”,196 o homem não foi criado para viver só, traz dentro de si uma dimensão social, comunitária, é chamado “à comunhão com os outros e à doação aos outros”.197 Portanto, “o casal e a família constituem o primeiro espaço para o empenho social dos fiéis leigos”,198 é necessário, “assegurar à família a sua função de ser o lugar primário da ‘humanização’ da pessoa e da sociedade”.199

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FC, 50.

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“A família como a Igreja, deve ser um lugar onde se transmite o Evangelho e donde o Evangelho se irradia. Portanto, no interior de uma família consciente desta missão, todos os componentes evangelizam e são evangelizados. Os pais não só comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem também receber deles o mesmo Evangelho profundamente vivido. Uma tal família torna-se, então, evangelizadora de muitas outras famílias e do ambiente no qual está inserida” (PAULO VI. Exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, 71. São Paulo: Paulinas, 1976).

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“Uma certa forma de atividade missionária pode desenvolver-se já, na própria família. Isto acontece quando algum dos seus membros não tem fé ou não a pratica com coerência. Em tal caso, os familiares devem oferecer-lhe um testemunho de vida de fé que o estimule e encoraje no caminho para a plena adesão a Cristo Salvador” (CONCILIO VATICANO II. Ad Gentes: decreto sobre a atividade missionária da Igreja, 39. São Paulo: Paulus, 1997). 195 FC, 54. 196 ChL, 40. 197 Id., 40. 198 Id., 40. 199 Id., 40.

A FC afirma que à família é “confiada à missão de guardar, revelar e comunicar o amor”,200 e, põem em evidência quatro deveres gerais da família, primeiro: a formação de uma comunidade de pessoas; segundo: o serviço à vida; “a tarefa fundamental da família é o serviço à vida, é realizar, através da história, a bênção originária do Criador (Gn 1,28) transmitindo a imagem divina pela geração do homem a homem” terceiro;201 a participação no desenvolvimento da sociedade; e quarto: a participação na vida e na missão da Igreja.

Estas tarefas no sentido da FC brotam do próprio ser da família e, “representam seu desenvolvimento dinâmico e existencial”202 bem como, cada família nestas tarefas vai descobrir e encontrar a si mesma num apelo que não se esvai, e que vai definir sua “dignidade e responsabilidade”: “Família, torna-te aquilo que és!”,203 ou seja, uma comunidade de vida e de amor. Os esposos, homem e mulher, os pais, os filhos, os parentes, formam uma comunidade de pessoas e, por isso, têm como primeira tarefa viver com fidelidade a realidade da comunhão, “a família fundada e vivificada pelo amor,204 deve viver um empenho constante de formar e fazer crescer uma autêntica comunidade de pessoas”.

Portanto, o amor entre o homem e a mulher, no matrimônio, e de forma ampla, o amor entre os membros da família “conduz a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma da comunidade conjugal e familiar”.205

José Kentenich apresenta como grande desafio para as comunidades familiares quatro tarefas rumo ao futuro: “por princípio temos de evitar tudo que, de qualquer forma, venha prejudicar a família, quer em nossa tarefa ou trabalho pessoal, quer em nossa atitude como membro de uma comunidade.”206 Kentenich refere-se, à família como “Igreja no pequeno”, “Igreja em miniatura”, e neste sentido afirma:

Nada podemos fazer que possa desacelerar o processo de dissolução, porém, havemos de fazer tudo, mesmo tudo, que possa salvar a família. Isto, significa, nos pormenores: primeiro: lutar cuidadosamente pela moral da família; segundo: lutar para obter uma ascese intensificada de família; terceiro: esforçar-se por usos familiares sadios; e quarto: empenho pelo pronunciado “ethos” familiar. Todo o resto é valioso (do primeiro ao terceiro ponto), mas, o “ethos” familiar é o mais importante. Com isso a família se nos apresenta como uma Igreja em miniatura.207

200 FC, 17. 201 Id., 28. 202 Id., 17. 203 Id., 17. 204 Id., 18. 205 Id., 18. 206 LFPMEC, p. 192-193. 207 Id., p. 192-193.

A FC acentua ainda o caráter comunitário da família cristã, e a apresenta como comunidade crente e evangelizadora, comunidade em diálogo com Deus e comunidade ao serviço do homem.

Como as famílias da pós-modernidade vão cumprir suas missões e deveres a elas confiadas e que foram apontadas pela FC, bem como responder aos desafios apresentados por José Kentenich?

Kentenich, fala também de “uma específica espiritualidade laical, de uma específica espiritualidade laical e matrimonial”208 diante de todo este quadro de luzes e sombras até agora apresentado, e que ilustram uma situação preocupante mas, ao mesmo tempo de desafio e de esperança frente ao matrimônio e à família, cabe aos leigos casados, às famílias, a responsabilidade de procurar respostas e dar vida a estes grandes desafios da hora presente.