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O Depoimento Sem Dano, embora ainda não legalmente previsto, vem sendo largamente utilizado em processos judiciais em que crianças e adolescentes são vítimas ou testemunhas. Trata-se de uma prática através da qual o infante envolvido tem tomado o seu depoimento em sala especialmente projetada para tal fim, por intermédio de um profissional capacitado designado pela autoridade judiciária – comumente Psicólogo ou Assistente Social – e registrado por meio audiovisual.

Apesar de serem os casos de violência sexual aqueles que mais se utilizam do novo método, diversas são as espécies de demandas em que o depoimento é empregado. Pode-se citar, exemplificativamente: violência/maus-tratos domésticos, negligência, pedofilia, pornografia infantil, ações de guarda, regulamentação de visitas, suspensão e destituição do poder familiar, alienação parental, entre outras.

O projeto-piloto teve início no Foro Central da Cidade de Porto Alegre/RS, no ano de 2003, em uma pequena sala para inquirição de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual interligada à sala de audiências da 2ª Vara da Infância e Juventude. Longe do modelo ideal de sala especialmente projetada para tal fim, o projeto começou a passos lentos devido à precariedade de equipamentos de som e imagem existentes na época, as condições físicas dos

ou que a presença de um estranho provoca alterações. Disponível em <http://es.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1mara_de_Gesell>. Acesso em: 25 jun. 2013.

prédios do Poder Judiciário, além da dificuldade em serem os recursos da criação da sala custeados pela administração pública.100

A despeito disso, pela iniciativa do Juiz de Direito José Antônio Daltoé Cezar, titular da referida Vara na época, realizaram-se os primeiros depoimentos em ambiente mais receptivo e com intervenção de técnicos previamente preparados, os quais eram gravados em sua íntegra e anexados aos processos.

De acordo com Daltoé:

A tecnologia inicialmente utilizada era bastante singela – note-se que neste momento o projeto não era institucional, mas uma experiência individual da 2ª Vara da Infância e da Juventude de Porto Alegre – constituindo-se de uma câmera de segurança, computadores, microfones, placa de captura de imagem e som, bem como suas respectivas instalações. O custo inicial desse projeto alcançou o valor aproximado de quatro mil reais, tendo sido rateado, em valores desiguais, entre este autor, o Promotor de Justiça João Barcelos de Souza Júnior e recursos oriundos da Vara da Direção do Foro, mediante autorização do diretor de então, Dr. Rinez da Trindade.101

A nova prática passou a permitir que as partes, o Magistrado responsável pela ação, os Magistrados de outros juízos, os julgadores de segundo grau e os demais interessados na causa pudessem rever, a qualquer tempo, a inquirição realizada a fim de afastar eventuais dúvidas, bem como comportou o acesso desses às emoções que jamais poderiam ser passadas através de um depoimento transcrito.

Após a realização da primeira audiência percebeu-se a conveniência da nova forma de depoimento, a tranquilidade apresentada pela vítima e a necessidade de aperfeiçoamento da tecnologia utilizada. Sendo assim, foi encaminhado ofício à Direção do Foro solicitando que a sala utilizada fosse disponibilizada todas as manhãs para uso tanto por outros Magistrados de Porto Alegre quanto por outras Comarcas que assim quisessem. Igualmente, requereu-se a utilização da sala por meio de Carta Precatória.102

Desta forma, em menos de um ano o projeto alcançou caráter institucional, com a aquisição, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, de modernos equipamentos e em melhor qualidade de som e imagem, viabilizando, inclusive, recursos técnicos como controle da câmera pelo computador e “zoom”.103

Cumpre mencionar que o método especial de oitiva não possui caráter obrigatório, destarte, tendo em vista o sistema processual vigente – no qual se tem o juiz como presidente

100 CEZAR, José Antônio Daltoé. Depoimento sem dano: uma alternativa para inquirir crianças e adolescentes nos processos judiciais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. p. 61.

101

Ibidem, p. 62/63. 102 Ibidem, p. 63. 103 Ibidem, p. 64.

da instrução, investido dos poderes de ampla disponibilidade na condução do processo -, fica a critério de cada Magistrado utilizá-lo ou não.

Considerando isso, nasceram os Projetos de Lei n.° 5.329/2005 e n.° 7.534/2006 – atualmente em votação no Senado Federal - com a proposta de alteração do Código Processual Penal Brasileiro, acrescentando-se a esse um capítulo acerca do processo e julgamento dos crimes contra a liberdade sexual com vítima ou testemunha criança ou adolescente.

O Projeto de Lei n.° 7.534/2006104, de autoria da deputada Maria do Rosário (PT/RS), pretende incorporar ao Estatuto da Criança e do Adolescente e ao Código de Processo Penal alterações relativas à oitiva de infantes vítimas ou testemunhas de violência sexual. A inquirição seria por meio do Depoimento Sem Dano e esse poderia ser estendido a outros crimes, além de desejar a possibilidade de produção antecipada de prova.

Nos ensinamentos de Eunice Teresinha Fávero, as mudanças se dariam da seguinte forma:

I – A inquirição será feita em recinto diverso da sala de audiências, especialmente projetado para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e adequados a idade e a etapa evolutiva do depoente;

II – Os profissionais presentes à sala de audiências participarão da inquirição através de equipamento de áudio e vídeo, ou de qualquer outro meio técnico disponível; III – A inquirição será intermediada por profissional devidamente designado pela autoridade judiciária, o qual transmitirá ao depoente as perguntas do Juiz e das partes;

IV - O depoimento será registrado por meio eletrônico ou magnético, cuja degravacão e mídia passarão a fazer parte integrante do processo.

Parágrafo único. A autoridade judiciária, de oficio ou a requerimento das partes, poderá adotar idêntico procedimento em relação a crimes diversos dos mencionados no caput,quando, em razão da natureza do delito, forma de cometimento, gravidade e consequências, verificar que a presença da criança ou adolescente na sala de audiências possa prejudicar o depoimento ou constituir fator de constrangimento em face de sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.105

Ambiciona o projeto a incorporação de DSD ao Código de Processo Penal e a alteração do capítulo do ECA que trata do “Acesso a Justiça”, almejando a oitiva única da criança e/ou adolescente, logo após a denúncia, e a remessa de cópia do depoimento e a mídia

104

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei n°. 7.534/2006. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=369056>. Acesso em: 16 dez. 2013.

105 FÁVERO, Eunice Teresinha. Depoimento Sem Dano, Proteção Integral e Serviço Social: Refletindo

sobre a (Im)Propriedade da Exposição da Criança e do Adolescente e Uso de Intérprete. In: POTTER,

Luciane. Depoimento Sem Dano. Uma Política Criminal de Redução de Danos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 190.

gravada às autoridades competentes responsáveis pelas demandas cíveis ou criminais, prevendo, ainda, a possibilidade de prova pericial.106

Ademais, foi aprovado na Câmara dos Deputados (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), no ano de 2007, um Substitutivo ao Projeto de Lei n°. 4.126/2004 (também atualmente no Senado Federal), com o intuito de acrescentar a Seção VIII ao Capítulo III – Dos Procedimentos – do Título VI – Do Acesso a Justiça – da Parte Especial do ECA, que dispõe sobre a “forma de inquirição de testemunhas e produção antecipada de provas quando se tratar de delitos tipificados no Título VI, Capítulo I, do Código Penal, com vítima ou testemunha criança ou adolescente”, e ainda, adicionar o artigo 469-A ao Código de Processo Penal.107

Aperfeiçoado ao longo dos dez anos que se passaram, hoje a dinâmica do Depoimento segue três etapas: o acolhimento inicial; o depoimento ou inquirição e o acolhimento final/encaminhamentos.108

No primeiro momento, dá-se a intimação do responsável pela criança ou pelo adolescente para que compareça à audiência com antecedência de cerca de trinta minutos, a fim de evitar o encontro com o acusado. Nessa etapa, ocorrerá o acolhimento pelo técnico responsável, que prestará os esclarecimentos necessários sobre a realização do depoimento e sobre os papeis ali exercidos.

Com duração média de quinze a trinta minutos, é realizado o acolhimento da criança/adolescente e das pessoas de sua confiança pelos técnicos responsáveis. Conforme Daltoé:

Insere-se ainda no acolhimento inicial a oportunidade de que o técnico conheça a linguagem que a criança utiliza para nomear os órgãos genitais masculino e feminino, evitando que tal resposta venha a ser obtida já durante o depoimento, e que seja colhida a sua manifestação a respeito da presença do réu na sala de audiências durante a sua inquirição.109

106

CÂMARA DOS DEPUTADOS, Projeto de Lei n°. 7.534/2006. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=369056>. Acesso em: 16 dez. 2013.

107

POTTER, Luciane. Violência, Vitimização e Política de Redução de Danos. In: POTTER, Luciane.

Depoimento Sem Dano. Uma Política Criminal de Redução de Danos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p.

32.

108 CEZAR, José Antônio Daltoé. Projeto Depoimento Sem Dano Direito ao desenvolvimento sexual

saudável. Disponível em: <http://www.amb.com.br/docs/noticias/2008/projeto_DSD.pdf>. Acesso em: 25 jun.

2013. 109 Ibidem.

Ressalta-se a importância do comparecimento antecipado da vítima/testemunha ao foro tendo em vista o abalo psicológico e as distorções e inconsistências constatadas quando ocorre o encontro desta com o réu.

Feitos os esclarecimentos acerca dos papeis que cada uma das figuras participantes do depoimento irá exercer – Juiz, Promotor de Justiça, Advogado, Psicólogo ou Assistente Social e depoente – também se dá aqui a apresentação da sala de audiências, dados sobre a mesma assim como a identificação do tipo de informação que a criança tem a respeito de sua oitiva.

No acolhimento inicial é dada ao depoente a possibilidade de se manifestar quanto à presença ou não do suposto agressor na sala de audiência, atualiza-se alguns dados da história do infante ou de seu grupo familiar e é realizado um protocolo mínimo com o Juiz a respeito das condições do inquirido em prestar o depoimento.

Para melhor elucidar a essencialidade de tal etapa:

Ao iniciarmos uma entrevista, em situações que envolvam algum tipo de sofrimento, é necessário ter claro o quanto é importante a capacidade empática do entrevistador, demonstrada desde a forma de receber a criança ou o adolescente, através de uma conduta acolhedora, respeitosa e compreensiva, levando-se em consideração a suposta vivência de violência sofrida. Até o momento do início da audiência, o sistema de som e vídeo está desligado e a criança não permanece sozinha com o entrevistador e sim acompanhada pelo adulto responsável.110

A segunda etapa diz respeito à própria audiência de instrução e julgamento, realizada na forma processual vigente, seja penal ou civil, e respeitando o sistema presidencial, cabendo ao profissional intermediador atuar como facilitador do depoimento do infante. O sistema de gravação é ligado e o adulto responsável é convidado a se retirar, permanecendo na sala apenas a criança e o técnico.

Denominado depoimento ou inquirição, esse momento abrange a função de facilitador atribuída ao profissional técnico, que é equiparada à função de intérprete do juízo111, observando que os operados no direito, em sua maioria, não se encontram capacitados para a inquirição da criança abusada, não possuem conhecimentos sobre a dinâmica do abuso e não entendem a linguagem das vítimas em situação de desenvolvimento.

Atenta-se ao fato de que, estando interligada a sala especial à sala de audiências, as perguntas serão normalmente elaboradas pelo Juiz e transmitidas ao técnico por meios

110 TABAJASKI, Betina; PAIVA, Cláudia Victolla; VISNIEVSKI, Vanea Maria. Um Novo Olhar sobre o

Testemunho Infantil. In: POTTER, Luciane. Depoimento Sem Dano. Uma Política Criminal de Redução de Danos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. ps. 66/67.

111 Pessoa nomeada pelo Juiz para traduzir o depoimento de uma pessoa que não conhece a língua nacional ou é surda-muda.

eletrônicos. Dessa maneira, é o último quem as repassa ao infante, verificando a adequada maneira a não ferir sua peculiar condição.

Após o Magistrado formular seus questionamentos, passa-se a palavra para aquele que primeiro postulou a oitiva do depoente, acusação ou defesa, sendo, posteriormente, realizadas as perguntas pela outra parte.

Oportunizada a todas as partes a realização dos questionamentos, encerra-se a inquirição e encaminha-se o arquivo de som e imagem para degravação a ser concluída no prazo máximo de setenta e duas horas.

O termo degravado é juntado aos autos do processo, além de ser fixado na contracapa daqueles um disco contendo o som e as imagens do depoimento. Ademais, é mantida junto aos arquivos da Vara responsável cópia do referido disco, considerando eventual necessidade de cópia do documento e por razões de segurança.

As peculiaridades práticas envolvidas compreendem a sistematização de situações repetidamente observadas durante os anos iniciais do projeto. Com o intuito de permitir a preparação ampla e prévia de todo técnico envolvido, pretende a realização de um trabalho mais eficiente em relação ao bem estar do depoente e à qualidade do relato realizado.

Inclusive, importante apresentar os tipos de perguntas utilizadas durante o depoimento sem dano, são elas: abertas112, fechadas113, de escolha114 e hipotéticas115. As diferentes formas são baseadas nos ensinamentos de Tilman Furniss116, que conclui “ser inviável que apenas um tipo de inquirição seja realizado durante o depoimento, sendo necessária uma constante mudança entre os diferentes modos de questionamento” 117. O teórico entende que as

112 São aquelas que permitem que o relato seja apresentado segundo a visão que a vítima possui sobre o fato investigado, afastando qualquer possibilidade de haver indução a uma resposta pré-elaborada. Ex.: “O que aconteceu quando você ficou com seu tio no dia em que seus pais viajaram?”. CEZAR, José Antônio Daltoé.

Depoimento sem dano: uma alternativa para inquirir crianças e adolescentes nos processos judiciais. Porto

Alegre: Livraria do Advogado, 2007. ps. 75/76. 113

São aquelas que sugerem a prática de uma ação proibida e condenada, que só podem ser respondidas pela confirmação ou negação. Ex.: “Seu tio a beijou na boca quando ficou sozinho com você?”. Ibidem.

114 São aquelas que sugerem ao menos uma possibilidade de que a ação proibida tenha ocorrido. Ex.: “Ele a beijou na boca ou no pescoço?”. Ibidem.

115 São aquelas que permitem que o técnico abra espaços para novas perguntas, no sentido de permitir que a criança consiga, ainda que de modo incipiente, relatar seu entendimento sobre o que está sendo investigado. Ex.: “Se um tio grande tivesse beijado a sua sobrinha na boca, deveria ela contar isso para o seu papai?”. Ibidem. 116 Tilman H. Fürniss é psiquiatra e sociólogo alemão especialista no tratamento de crianças e adolescentes e membro do Grupo Governamental Alemão de Trabalho contra o Abuso Infantil e Negligência. Tilman é co-autor do primeiro projeto europeu para o tratamento do abuso sexual de crianças e adolescentes. Informação retirada de <http://www.udf.org.br/noticias/entrevista-tilman-h-furniss-especialista-em-tratamento-de-casos-de-abuso- sexual-infantil/> Acesso em: 18 out. 2013.

117

FURNISS, Tilman. Abuso Sexual da Criança, Uma Abordagem Interdisciplinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. p. 197. Apud: CEZAR, José Antônio Daltoé. Depoimento sem dano: uma alternativa para inquirir crianças e adolescentes nos processos judiciais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

perguntas abertas são aquelas que devem ser preferencialmente utilizadas, tendo em vista a ausência de indução à resposta pré-elaborada a ela inerente.

Atenta-se, nesta etapa, à necessária capacidade de tolerância por parte do entrevistador e dos agentes jurídicos que participam da oitiva em relação as pausas que podem ocorrer. Isso porque, além da peculiar condição do depoente, diversas são as variáveis que podem alterar sua recordação: “tempo decorrido entre o fato e a audiência, o que já ouviu de outras pessoas, a forma como já foi interrogada e o número de vezes que falou sobre este assunto em outros locais” 118

.

O profissional deve colaborar ainda, neste momento, para a máxima recuperação da memória do infante, através de uma reconstrução mental dos eventos ocorridos – abrangendo ambiente físico, a situação pessoal no momento, as emoções experimentadas, etc. -, oportunizando ao entrevistado a descrição livre, ou seja, com suas próprias palavras, sobre o evento.

A terceira e última etapa do Depoimento Sem Dano é a chamada de acolhimento final. Com duração média de trinta minutos, nessa fase o profissional facilitador realiza as devoluções do depoimento à criança/adolescente e à sua família e colhe as assinaturas no termo de audiências.

Ocorre logo após o final da audiência, quando, caso avaliada a necessidade, são realizadas intervenções pelo técnico, como, por exemplo, encaminhamento para atendimento junto à rede de proteção. Preconiza Daltoé:

Diferentemente do que ocorre quando uma audiência é realizada pelo sistema estritamente previsto nas normas processuais, em que a vítima de abuso sexual ou outro tipo de violência, após o encerramento da inquirição, é dispensada e não mantém mais qualquer contato com o sistema de justiça, propõe o projeto “Depoimento sem dano” que o objeto da escuta da criança/adolescente não se encerre imediatamente, como forma de novamente valorizá-la como sujeito de direitos e de afastar a ideia de que aquele momento foi apenas um meio – a criança/adolescente o objeto – para que o Estado conseguisse atingir o desiderato de um processo judicial.119

É, ainda, o momento em que se verifica de que forma a família está gerenciando os conflitos decorrentes da situação referida no processo. Esclarecendo:

A transmissão das percepções do Técnico Facilitador fazem parte de uma intervenção técnica e é realizada em caráter de devolução a criança ou ao

118 TABAJASKI, Betina; PAIVA, Cláudia Victolla; VISNIEVSKI, Vanea Maria. Um Novo Olhar sobre o

Testemunho Infantil. In: POTTER, Luciane. Depoimento Sem Dano. Uma Política Criminal de Redução de Danos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. ps. 66/67

119 CEZAR, José Antônio Daltoé. Depoimento sem dano: uma alternativa para inquirir crianças e adolescentes nos processos judiciais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. p. 76.

adolescente, junto com seus responsáveis, o que é feito de forma dosada e pontualmente codificada. Finalizando, com o intuito de que as pessoas saiam da situação de audiência judicial num estado emocional mais positivo, são retomados assuntos mais neutros. É o momento, ainda, em que, se necessário, faz-se o encaminhamento para atendimento à rede assistencial, educacional ou de saúde.120 A referida etapa é de fundamental importância e necessária atenção. Afirma-se isso, pois os danos secundários vivenciados pelas crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de qualquer tipo de violência são incontestes e precisam ser diminuídas ao máximo.

Sendo assim, verificado o ilícito sofrido pelo infante, faz-se imperativo que seja garantido a ele todo o suporte necessário à superação do trauma vivenciado, seja através de apoio assistencial, psicológico, familiar, entre outros. Evitando-se, de tal modo, a perpetuação dos danos, seja em decorrência da dificuldade em se relacionar normalmente na vida adulta, ou até mesmo, tornando-se futuro reprodutor do dano sofrido.

Ressalta-se que é de fundamental importância a participação e preparação do profissional que auxilia na realização do Depoimento Sem Dano. Corrobora-se a isso o fato de que é necessário atender, sobretudo, os interesses infanto-juvenis envolvidos, o que jamais pode deixar de ser ressaltado pelo Poder Judiciário.

Apenas com o amparo de um técnico especializado é que se pode garantir a proteção que se exige nos casos de abrangência do depoimento. Em atenção a isso, o papel do referido profissional será tratado no subcapítulo que segue.

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